A
crise de energia, a mineração e o abastecimento público
Com
um pouco de trabalho de pesquisa pode-se projetar excelentes captações
de águas subterrâneas com rebaixamentos da ordem
de 100 metros e vazões
da ordem de 200 m3/h ou mais
Confesso
que também fiquei "surpreso" quando resolvi escrever
sobre este tema, mas como Belo Horizonte é a capital brasileira
da mineração, tem certas particularidades que permitem
até uma "surpresa" dessa ordem.
O fato é que, em Minas como
no resto do Brasil, há muito tempo não se investe
mais em pesquisa na área de hidrogeologia. O mapeamento
geológico na escala 1:25.000 do Quadrilátero Ferrífero
foi realizado na década de 50 e desde então praticamente
nada foi feito com relação a hidrogeologia.
O modesto conhecimento dos aqüíferos
do Quadrilátero deve-se aos trabalhos desenvolvidos pelo
setor de mineração que, a partir de meados da década
de 80, iniciaram os trabalhos de rebaixamento do nível
d'água nas grandes minas de ferro.
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Os
primeiros estudos tinham como objetivo projetar e planejar o desaguamento
e posteriormente foram direcionados também, para a avaliação
dos impactos. Através destes trabalhos foi possível saber
da existência de importantes reservas de água subterrânea
nos aqüíferos Cauê e Cercadinho, das quais grande parte
está situada em altitudes elevada.
No tocante ao abastecimento, uma das frentes
de expansão urbana avança sobre a região dos bairros
Belvedere III, Jardim Canadá e outras na saída de Belo Horizonte
para o Rio de Janeiro, em altitudes entre 1200 e 1400 metros. Nessa região
há uma estrutura geológica fantástica: o Sinclinal
Moeda, com uma área de ocorrência de 280 km2 contendo os
aqüíferos Cauê, Cercadinho e Moeda. O Cauê, que
é a própria formação ferrífera apresenta,
nessa estrutura nível d'água entre as altitudes de 1300
até 1350 metros e poços com vazões específicas
de 5 até 10 m3/h/m. Obviamente são necessários estudos
para a locação e projeto de novas captações.
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Justamente
neste ponto que podemos falar sobre a energia. A água superficial
disponível para essa nova demanda tem de ser elevada entre
500 a 600 metros, desde o Rio das Velhas que está na altitude
de 710 metros. Sem sombra de dúvidas, a água subterrânea
do referido sinclinal poderá gerar uma grande economia de
energia, aliado ao ganho de qualidade e inclusive, a facilidade
de poder implantar o projeto aos poucos, ou melhor, poço
a poço.
Lamentavelmente, eu não ficaria
nada "surpreso" se o lobby das águas superficiais
ganhar mais esta e, em plena crise de energia a sociedade pague
a "sobretaxa" de mandar essa água de volta para
cima, do mesmo lugar de onde saiu. Com um pouco de trabalho de pesquisa
pode-se projetar excelentes captações de águas
subterrâneas com rebaixamentos da ordem de 100 metros e vazões
da ordem de 200 m3/h ou mais. A utilização da água
subterrânea pode evitar um recalque de 500 metros que, para
uma vazão de 200 m3/h, representa uma economia de energia
de 350 kW ou 500 CV, totalizando um consumo mensal da ordem de 200
mil kW/mês. |
Antônio
Carlos Bertachini
Coordenador Técnico do
International Mine Water
Association Symposium Brazil
2001 - Mine Water and Environment+
e-mail: mdgeo@gold.com.br
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