Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Junho/2001 - Nº 115
   

A crise de energia, a mineração e o abastecimento público

Com um pouco de trabalho de pesquisa pode-se projetar excelentes captações de águas subterrâneas com rebaixamentos da ordem de 100 metros e vazões
da ordem de 200 m3/h ou mais

     Confesso que também fiquei "surpreso" quando resolvi escrever sobre este tema, mas como Belo Horizonte é a capital brasileira da mineração, tem certas particularidades que permitem até uma "surpresa" dessa ordem.
     O fato é que, em Minas como no resto do Brasil, há muito tempo não se investe mais em pesquisa na área de hidrogeologia. O mapeamento geológico na escala 1:25.000 do Quadrilátero Ferrífero foi realizado na década de 50 e desde então praticamente nada foi feito com relação a hidrogeologia.
     O modesto conhecimento dos aqüíferos do Quadrilátero deve-se aos trabalhos desenvolvidos pelo setor de mineração que, a partir de meados da década de 80, iniciaram os trabalhos de rebaixamento do nível d'água nas grandes minas de ferro.

     Os primeiros estudos tinham como objetivo projetar e planejar o desaguamento e posteriormente foram direcionados também, para a avaliação dos impactos. Através destes trabalhos foi possível saber da existência de importantes reservas de água subterrânea nos aqüíferos Cauê e Cercadinho, das quais grande parte está situada em altitudes elevada.
     No tocante ao abastecimento, uma das frentes de expansão urbana avança sobre a região dos bairros Belvedere III, Jardim Canadá e outras na saída de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, em altitudes entre 1200 e 1400 metros. Nessa região há uma estrutura geológica fantástica: o Sinclinal Moeda, com uma área de ocorrência de 280 km2 contendo os aqüíferos Cauê, Cercadinho e Moeda. O Cauê, que é a própria formação ferrífera apresenta, nessa estrutura nível d'água entre as altitudes de 1300 até 1350 metros e poços com vazões específicas de 5 até 10 m3/h/m. Obviamente são necessários estudos para a locação e projeto de novas captações.

     Justamente neste ponto que podemos falar sobre a energia. A água superficial disponível para essa nova demanda tem de ser elevada entre 500 a 600 metros, desde o Rio das Velhas que está na altitude de 710 metros. Sem sombra de dúvidas, a água subterrânea do referido sinclinal poderá gerar uma grande economia de energia, aliado ao ganho de qualidade e inclusive, a facilidade de poder implantar o projeto aos poucos, ou melhor, poço a poço.
     Lamentavelmente, eu não ficaria nada "surpreso" se o lobby das águas superficiais ganhar mais esta e, em plena crise de energia a sociedade pague a "sobretaxa" de mandar essa água de volta para cima, do mesmo lugar de onde saiu. Com um pouco de trabalho de pesquisa pode-se projetar excelentes captações de águas subterrâneas com rebaixamentos da ordem de 100 metros e vazões da ordem de 200 m3/h ou mais. A utilização da água subterrânea pode evitar um recalque de 500 metros que, para uma vazão de 200 m3/h, representa uma economia de energia de 350 kW ou 500 CV, totalizando um consumo mensal da ordem de 200 mil kW/mês.

Antônio Carlos Bertachini
Coordenador Técnico do
International Mine Water
Association Symposium Brazil
2001 - Mine Water and Environment+
e-mail: mdgeo@gold.com.br


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