Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Junho/2001 - Nº 115 | ||
Água subterrânea salva cidades cearenses do colapso
Pensando nisso é que o Estado do Ceará dá um grande passo, avançando na busca do conhecimento e aproveitamento dos seus aqüíferos. Pois neste sentido está sendo executado um programa de construção de poços pioneiros de grandes profundidades nas bacias sedimentares do Estado. O início desse programa teve como área piloto a Chapada do Araripe, por se tratar de uma área dotada de uma geologia bastante complexa e interessante, composta principalmente por rochas sedimentares Jurássicas e Cretáceas, e que há bem pouco tempo não se tinha obras hídricas subterrâneas que pudessem dar subsídios para o ratificação de alguns estudos técnicos já realizados, como também poder contribuir para o conhecimento concreto a respeito das suas verdadeiras potencialidades hidrogeológicas e ao mesmo tempo dar a importância devida para o aproveitamento delas, como forma de acabar com a carência de água principalmente para o consumo humano naquela região. Foram construídos na primeira fase 03 (três) poços tubulares profundos onde o principal deles foi na Serra dos Carneiros, município de Araripe com uma vazão de explotação de 400 m³/h e uma capacidade específica de 7,3m³/h por metro rebaixado, sendo um dos níveis estáticos mais rasos dentre os poços construídos na Chapada - 375 m. A profundidade de perfuração atingiu 950 m, mas foi completado apenas com 737 m, devido os principais aqüíferos produtores, Rio da Batateira e Missão Velha, estarem posicionados entre 540 m e 700 m, e a partir daí somente foram encontrados folhelhos e argilas vermelhas da Formação Brejo Santo. Todo o trabalho, desde a locação até a completação do poço, foi executado diretamente pela Superintendência de Obras Hidráulicas do Estado do Ceará - SOHIDRA, utilizando uma Sonda T-50 na perfuração. Os estudos de prospecção geofísica para a locação foram executados pelos geólogos da SOHIDRA, Francisco de Assis Capistrano e Carlos Hindemburgo N. Holanda, que investigaram a Chapada até 1000 m de profundidade. A construção do poço que resultou na maior obra hídrica subterrânea já executada no Estado do Ceará, teve o acompanhamento técnico do geólogo da SOHIDRA Francisco de Assis Barreto, e contou com a consultoria do Engº de Minas Raimundo Bezerra de Medeiros. Com essa obra o Governo do Estado irá garantir o abastecimento das cidades de Araripe, Salitre, Campos Sales e alguns distritos pertencentes a esses municípios, que receberão através de uma adutora que traçará um percurso de 75 quilômetros, água em quantidade suficiente para atender a demanda e com boa qualidade, já que o poço produz água com características físico- químicas dentro dos padrões de potabilidade para o consumo humano. Baseado em índices de crescimento populacional do IBGE, calcula-se que estas cidades e distritos num horizonte de 30 anos demandarão apenas 75% da capacidade de explotação do poço. Professores, Técnicos e estudiosos da Universidade do Vale do Cariri - URCA, já estão estudando a amostragem de calha do poço, visando a identificação de novas ocorrências fossilíferas na Chapada. Além dos benefícios sociais, essa obra traz dados de caráter científico, que com certeza irão contribuir no conhecimento e entendimento da geoestratigrafia, paleontologia e potencial hidrogeológico da Chapada do Araripe, que ainda pouco de concreto conhecemos sobre suas potencialidades hídricas e informações geológicas no geral. Podemos afirmar que é viável e necessário a utilização das águas subterrâneas não somente nos municípios privilegiados por posicionarem-se nas áreas de bacias sedimentares, mas através de adução poderemos transferir essas águas para suprir muitas cidades posicionadas sobre o embasamento cristalino, onde os aqüíferos fissurais geralmente não apresentam grandes vazões e na maioria das vezes a água não é de boa qualidade, necessitando a instalação de aparelhos dessalinizadores. Porém, é necessário o desenvolvimento de um modelo racional de uso integrado das águas, para que as águas subterrâneas nunca sejam utilizadas enquanto as superficiais estejam evaporando ou escoando para o mar, e, nem tão pouco se dêem ao luxo de estarem guardadas puras e cristalinas no interior das formações produtoras, enquanto o fundo dos reservatórios superficiais estorricam marcando a seca e a destruição. Pois sabendo usar não vai faltar. Francisco
de Assis Barreto |
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