Barreiras
reativas
"Água
subterrânea trazida para a superfície é um
efluente e deve ser tratado adequadamente"
Manutenção
de sistemas de tratamento custam caro. Isso é uma verdade ainda
mais cristalina para água subterrânea, onde a manutenção
de poços de bombeamento e injeção necessita de
cuidados muito grandes e dispendiosos. Como a velocidade da água
subterrânea é lenta, da ordem de poucos metros a dezenas
de metros por ano, esse dispêndio é potencializado pelo
tempo de tratamento, que pode se prolongar por vários anos. O
que invariavelmente acontece. Além disso, água subterrânea
trazida para a superfície é um efluente e deve ser tratado
adequadamente. Pensando nesses problemas, uma solução
seria evitar-se o bombeamento e produção de água
contaminada para superfície, com tratamento in situ da contaminação.
Desta forma, qualquer tratamento passivo, que não envolva bombeamento
e que requeira pouca intervenção humana, é benvindo.
Foi
baseado nisso que se criou o sistema de barreira reativa. Este sistema
consiste na instalação de uma estrutura subterrânea
permeável, uma espécie de uma grande trincheira que intercepta
o fluxo de água subterrânea contaminada, podendo ser preenchida
com uma grande variedade de materiais especialmente selecionados para
se tratar os diversos tipos de contaminantes. À medida que a
água subterrânea passa pelo material permeável (meio
poroso, membrana etc.), os contaminantes são retirados quer seja
por adsorção ou transformados em compostos inofensivos.
Em
primeiro lugar, as barreiras reativas são preenchidas por material
poroso mais permeável que o aqüífero que contém
a água subterrânea contaminada. Por este motivo, ela "atrai"
para si as linhas de fluxo, fazendo com que os contaminantes se dirijam
a ela. O tratamento hidráulico e o dimensionamento da barreira
depende de medidas de condutividade hidráulica no campo e de
uma modelagem de fluxo para se obter um rendimento ótimo do sistema,
que encompasse toda a pluma de contaminação e que ofereça
um tempo de residência adequado dentro da barreira.
Em
segundo lugar, o material "reativo" pode agir de formas distintas,
podendo ser resumidas em adsorção, precipitação
e degradação. Na adsorção, material adsorvente
é misturado a areia para preenchimento da barreira. Por exemplo,
pode-se utilizar carvão ativado para remoção de
compostos orgânicos hidrofóbicos, que ficam retidos na
superfície do material adsorvente. Na precipitação,
a mistura para preenchimento da barreira contém material que
altera as condições de Eh-pH da água subterrânea,
de que o composto não mais permaneça solúvel. Por
exemplo, cromo hexavalente pode ser tratado com uma barreira preenchida
com uma mistura de calcário, transformando o cromo para uma forma
sólida que precipita na barreira. Finalmente, no caso da degradação,
que pode ser tanto biótica ou abiótica, o material da
barreira faz com que o contaminante seja decomposto em novos compostos
inofensivos. Por exemplo, uma barreira com adição de ferro
metálico que decompõe compostos organoclorados (abiótica),
ou adição de oxigênio e nutrientes que decompõe
compostos orgânicos aromáticos (biobarreira).
As
vantagens são o tratamento passivo e no próprio local.
Embora o gasto inicial possa ser mais elevado, o custo ao longo do tempo
de duração do sistema de remediação é
estimado em pelo menos 50% mais barato do que o método tradicional
de bombeamento e tratamento em superfície.
As
limitações do sistema se resumem a condicionantes hidrogeológicos
como profundidade do aqüífero e tipo de material poroso;
presença de interferências subterrâneas; capacidade
do contaminante de ser tratado na barreira.
Dr.
Everton de Oliveira
é professor-colaborador do Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo e sócio-diretor da HIDROPLAN
- Hidrogeologia e Planejamento Ambiental S/C Ltda.
(everton@hidroplan.com.br e everton@usp.br)
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