As águas
subterrâneas na gestão de bacias hidrográficas
Olho: "Saber
usar a gota d'água disponível com eficiência crescente
- inclusive com reaproveitamento da água usada - é mais
importante do que ostentar sua abundância"
Conforme
estabelecem a Constituição Federal de 1988 e a Lei Federal
No 9.433/97, a bacia hidrográfica - domínio geográfico
de um sistema de rios - é a unidade física básica
de planejamento e gestão dos recursos hídricos de uma
dada região. Porém, durante a última metade do
século XX que ora findou, houve no Brasil um crescimento sem
precedente na história das nações da urbanização,
com acentuada degradação ambiental, incremento das demandas
das águas e a degradação da sua qualidade atingindo
níveis nunca imaginados. Nesse quadro, a utilização
da água subterrânea tornou-se cada vez mais atraente em
termos financeiros e fator competitivo do mercado em vários pontos
do território nacional.
Entretanto, o tripé - ÉTICA, ECOLOGIA e ECONOMIA - que
dá suporte, atualmente, ao desenvolvimento sustentado nos países
ricos significa que o planejamento de recursos hídricos já
não pode ser definido com base no simples balanço entre
descarga dos rios X, demandas históricas ou estimadas de água
e um plano de obras.
Ao contrário, saber usar a gota d'água disponível
com eficiência crescente - inclusive com reaproveitamento da água
usada - é mais importante do que ostentar sua abundância.
Isto significa que o grande desafio da gestão de bacias hidrográficas
é obter cada vez mais benefícios - qualidade de vida,
ambiental e produtividade - com cada vez menos água.
Vale destacar que uma parcela da água que cai da atmosfera de
uma bacia hidrográfica - na forma de chuva, neblina e neve, principalmente
- infiltra no solo/subsolo. Por sua vez, os fluxos naturais de água
subterrânea - locais, intermediários ou regionais - dos
estoques assim formados, alimentam as descargas de base dos rios, ou
seja, aquelas que ocorrem durante os períodos de estiagem ou
sem chuvas. Além disso, os fluxos naturais de água subterrânea
alimentam a produção dos poços, nascentes e de
outras formas de captação das águas subterrâneas.
Também a umidade do solo que dá suporte a biomassa natural
ou cultivada - vegetal e animal - da área em questão é
altamente dependente da posição do nível das águas
subterrâneas.
Neste processo, os rios têm a função primordial
de drenagem da água que forma as enxurradas na superfície
do terreno ou infiltra no subsolo para alimentar os seus estoques de
água subterrânea. Portanto, quando os rios de uma dada
região são perenes, ou seja, nunca secam, significa que
os estoques e/ou as descargas de água subterrânea da referida
bacia hidrográfica são muito importantes. Os dados fluviométricos
disponíveis indicam que as descargas de base dos rios do Brasil
representam taxas de recarga das águas subterrâneas que
variam entre menos de 10 mm/ano no contexto de rochas cristalinas do
semi-árido do Nordeste e entre 200 e 600 mm/ano sobre mais de
90% do território brasileiro. Vale salientar que a extração
de apenas 25% desta quantidade já representaria uma oferta da
ordem de 5.000 m3/hab/ano para os 170 milhões do censo IBGE,
2000.
Entretanto, a falta de uma gestão efetiva desta extração
poderá resultar na escassez de água nos rios durante os
períodos de estiagem, com sérias conseqüências
sociais, ambientais e econômicas aos setores do transporte fluvial,
da geração hidrelétrica, do abastecimento e da
produção de alimentos, dentre outros.
Aldo
da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de
Geociências, Pesquisador Inst.
Estudos Avançados-Universidade
de São Paulo, Consultor
Secretaria Nacional de
Recursos Hídricos, Superintendência
de Recursos Hídricos da
Bahia
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