Camaçari
se destaca pela proteção das águas subterrâneas
O Programa
de Gerenciamento do Pólo Petroquímico da Bahia tornou-se
referência para a gestão dos recursos hídricos subterrâneos
em todo o Brasil
Embora
as águas subterrâneas sejam naturalmente melhor protegidas
dos contaminantes do que as águas superficiais, os processos
de contaminação dos aqüíferos são mais
lentos e as velocidades de fluxo subterrâneos variam de centímetros
a alguns metros por dia. A poluição dos mananciais pode
levar até alguns anos para que seus efeitos ocorram ou sejam
identificados. Os processos de remediação das águas
subterrâneas também são mais lentos e demandam uma
caracterização adequada dos mecanismos de transporte de
massa associados às possíveis interações
químicas ou fenômenos de partição de fase,
levando-se em consideração as heterogeneidades do meio
poroso. Com base nesses dados, o Governo da Bahia implantou em 1992
o Programa de Gerenciamento das Águas Subterrâneas do Pólo
Petroquímico de Camaçari - Uma Estratégia para
a Sustentabilidade Ambiental. O projeto desenvolvido pelos geólogos
Paulo Roberto Penalva dos Santos, Manoel de Melo Maia Nobre, Gedison
Marques Vilela e Demosthenes Miranda de Carvalho prevê o monitoramento
periódico dos aqüíferos e possibilita a definição
de plumas de contaminação provenientes da dissolução
de fluidos orgânicos (NAPLs), assim como de metais pesados. Após
nove anos de funcionamento o projeto tornou-se referência para
a gestão dos recursos hídricos subterrâneos e recebeu
diversas certificações internacionais.
"O Pólo Petroquímico de Camaçari ao contrário
dos pólos industriais do mundo inteiro está preocupado
com as águas subterrâneas. As empresas estão unidas
pelo projeto e chegam a investir cerca de US$ 3 milhões na manutenção
do projeto. A intenção é garantir a qualidade da
água subterrânea e superficial sob influência do
pólo", explica Carlo Eugênio Bezerra Menezes, diretor
superintendente da Cetrel.
"A
poluição dos mananciais pode
levar até alguns anos para que seus efeitos
ocorram ou sejam identificados"
O complexo
petroquímico de Camaçari é o maior e mais importante
complexo industrial integrado da América Latina. Abrange mais
de 50 indústrias da área química e petroquímica
que produzem plásticos, fertilizantes, resinas, fibras e produtos
petroquímicos de primeira, segunda e terceira gerações
essenci- ais à economia do país. O pólo fica localizado
na região econômica de Salvador. A água subterrânea
é de grande importância no pólo, uma vez que 50%
da água utilizada pelas indústrias é extraída
do aqüífero São Sebastião através de
poços tubulares.
Com a implantação do pólo petroquímico de
Camaçari ficou evidenciada a necessidade da prevenção
e proteção da qualidade das águas subterrâneas
da região tendo em vista que a localização está
sobre um sistema aqüífero que apresenta vulnerabilidade
e risco de contaminação. Atentos à situação,
os empresários e o Governo desenvolveram ações
para evitar os impactos ambientais decorrentes dos processos produtivos
nesses mananciais. São mecanismos para uma gestão sustentável
dos recursos hídricos da região, principalmente das águas
subterrâneas através de avaliações dos riscos
potenciais de contaminação. Nesse processo são
considerados os seguintes vetores potenciais:
· Estocagem e manuseio de produtos químicos tóxicos
nos diversos processos industriais,
· Disposição e descarte de resíduos industriais,
· Emissão de gases poluentes para atmosfera,
· Extração de água do aqüífero
para suprimento industrial através de bombeamento de poços
tubulares profundos existentes na área do pólo petroquímico.
O programa é coordenado pela Cetrel, uma situação
inédita no Brasil, onde uma empresa privada (Cetrel) é
cogestora dos recursos hídricos do pólo petroquímico
em parceria com os órgãos ambientais e governamentais.
O programa visa o gerenciamento dos recursos hídricos da região
em cumprimento às normas do CEPRAM - Conselho de Proteção
Ambiental do Estado da Bahia - através da Resolução
N.º 218 e a de N.º 620, tendo como missão a preservação,
proteção e uso sustentado dos recursos hídricos.
"O programa está indo muito bem. O trabalho de acompanhamento
tem diagnóstico periódico, verificando a propagação
e controle dos focos de contaminação. É um trabalho
de proteção", garante Paulo Roberto Penalva dos Santos,
geólogo da Cetrel e presidente da ABAS Bahia.
O programa de Gerenciamento das Águas Subterrâneas do Pólo
Petroquímico de Camaçari estabeleceu três objetivos:
identificação e eliminação das fontes de
contaminação primárias e secundárias da
região do pólo petroquímicos; otimização
e racionalização da exploração da água
subterrânea na região e desenvolvimento de ações
de remediação do solo e das águas subjacentes do
pólo. Do ponto de vista hidrológico, o pólo petroquímico
de Camaçari se encontra inserido entre as bacias hidrográficas
dos rios Joanes e Jacuípe, esse último tem seu afluente,
o rio Imbassai, como zona de descarga das águas do aqüífero
mais próximo do pólo. O regime de escoamento preferencial
do fluxo subterrâneo regional é predominante na direção
NW-SE.
A produtividade dos poços de produção está
condicionada aos projetos construtivos, porém pode-se considerar
alta, em sua maioria, apresentam vazões acima de 30m3/h com uma
água de excelente qualidade físico-químico com
teores de sais inferiores a 200 mh/ l. "Quando o projeto iniciou
em 92, eram pouco mais de 300 poços de monitoramento. Hoje, o
número saltou para 524. Um passo importante na preservação
do meio ambiente", destaca Penalva.
Sucesso - Desde que o projeto foi implantado, diversas atividades já
foram desenvolvidas ou estão em fase de desenvolvimento pelo
programa de gerenciamento da CETREL. Entre eles destaque para a implantação
da rede de poços de monitoramento, onde o monitoramento é
contínuo de acordo com o plano de monitoramento aprovado pelo
CRA - Centro de Recursos Ambientais da Bahia. O monitoramento já
possibilitou a definição de plumas de contaminação
de compostos orgânicos e metais pesados, permitindo a implementação
de ações para a eliminação das fontes geradoras
ou de ações para diagnosticar as suas magnitudes, além
da avaliação de compostos químicos voláteis,
semivoláteis e metais pesados considerados prioritários
no programa de gerenciamento das águas subterrâneas.
Outras ações também são destacadas como
a avaliação da qualidade das águas de descarga
hidráulica das águas subterrâneas na região
do pólo, paralisação dos poços profundos
de produção situados em áreas onde o aqüífero
apresenta contaminação e eliminação de possíveis
focos de contaminação do aqüífero São
Sebastião. Hoje, parte da água contaminada é bombeada
e reusada em processos industriais de algumas empresas do pólo
e também já se encontram em operação sub-sistemas
de contenção hidráulica para o controle da evolução
das plumas de contaminação originadas em suas áreas
industriais. As fontes primárias de contaminação
foram eliminadas ou estão em processo de eliminação.
"A conscientização é fundamental. O capitalismo
pode conviver em perfeita harmonia com o desenvolvimento sustentável,
desde que seja um capitalismo sério focando o ser humano e o
meio ambiente. É preciso traçar ações de
equilíbrio para o desenvolvimento econômico e desenvolvimento
social", finaliza Penalva.
Poços
de monitoramento de águas subterrâneas
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Vista
aérea do Polo Petroquímico de Camaçari,
em Salvador-BA
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