Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Agosto/2001 - Nº 117
   

50 anos de muito serviço

Neste último julho uma ilustre e importante brasileira completou mais um ano de vida, a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão vinculado ao Ministério da Educação e responsável pela formação de recursos humanos de alto nível no País.
Com a idade respeitável de 50 anos, essa senhora tem acompanhado e participado do êxito de milhares de pós graduandos brasileiros e permitindo o avanço, de forma substancial, da pesquisa no País.
Mas a CAPES não é somente uma agência de fomento à pesquisa, através de bolsas de estudo. A partir dos anos 70, pela iniciativa de Darcy Closs, ela introduziu um importante mecanismo de avaliação dos cursos de pós-graduação no País, através de um processo transparente e aceito pela comunidade acadêmica.
A classificação de um programa de pós-graduação representa mais do que um simples balizador da situação do curso e da universidade, mas a partir dela, são concedidas cotas de bolsas de estudos aos estudantes, premiando os bons programas.
A família CAPES também tem outros membros igualmente importantes. Há o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que juntos, através de investimentos a grupos de pesquisa, são responsáveis pelas bolsas, inclusive a professores e pesquisadores, e pelo financiamento de projetos pesquisa e custeio dos diferentes programas de pós-graduação brasileiros.
Para o pesquisador brasileiro, as três irmãs, juntamente com as Faps (Fundações de Amparo à Pesquisa) em cada estado, têm permitido alavancar o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no País. Só para citar um exemplo, são formados 5.500 doutores anualmente.
Obviamente o financiamento à pesquisa é importante para o seu avanço, mas a sua regularidade é fundamental para que os fazedores de ciência no País se programem. Nesse particular, a grande família apresenta ainda problemas.
Um estudo realizado pelo Prof. Alberto Carvalho da Silva do Instituto de Estudos Avançados da USP, mostra que exceto a FAPESP, uma das Faps no Estado de São Paulo, as outras (RJ, MG, RS, PE) não apresenta um orçamento regular nos últimos dez anos e nunca atingiram o estabelecido pela Constituição Federal de 1988, que obriga o estados a destinarem uma cota básica à C&T (vide quadro).
O cumprimento do percentual de 1% da Receita Tributária pelo Estado de São Paulo tem permitido avanços consideráveis nesse campo. Não é sem razão que os maiores pólo de desenvolvimento e que o projeto GENOMA, de mapeamento dos genes e que colocou o Brasil entre uma das lideranças no campo da engenharia genética, estão em São Paulo, só para citar dois exemplos.
Mas há muito que fazer pela C&T no Brasil. No mês de julho passado as Nações Unidas lançaram o IDT (Índice de Desenvolvimento Tecnológico), que classifica cada país a partir da capacidade de sua população em dominar novas tecnologias e da qualificação de sua mão de obra. Esse novo índice foi criado pela constatação que o desenvolvimento tecnológico e seu uso são armas poderosas no combate à pobreza e na diminuição das desigualdades entre camadas ricas e pobres.
O Brasil, devido principalmente ao baixo nível de escolaridade e da gigantesca desigualdade da distribuição de renda, encontra-se no remoto 43° lugar, atrás de vários dos 72 países analisados e com economias muito mais modestas que a nossa, como Trinidad Tobago, Chipre, Romênia e Tailândia.
Embora seja uma colocação nada confortável, que nos põe na América, no chamado Grupo dos Países Adotadores Dinâmicos de Tecnologia e abaixo dos Líderes em Potenciais (México, Costa Rica, Chile e Argentina) e dos Lideres (EUA e Canadá), o Brasil tem mostrado sinais fortes de avanço.
Nos últimos dois anos, o investimento em C&T cresceu de 0,9% para 1,4%, houve aumento de 40% na população universitária nos últimos cinco anos e as taxas de analfabetismo e de mortalidade infantil se reduziram em 20% na última década. O País é também o quarto em número de incubadoras e os brasileiros encontram-se entre os maiores empreendedores do mundo.
Temos, portanto, ainda um longo caminho pela frente e não são poucos os obstáculos a serem transpostos. Segundo o recém lançado Livro Verde do Ministério de Ciência e Tecnologia, o Brasil necessita adotar iniciativas para colocar a C&T no centro de sua agenda política e econômica e que é necessário incorporar o conhecimento científico aos processos de geração de riquezas.
O País necessita aproximar a investigação universitária da economia de mercado, utilizando de incentivos para que o setor privado invista mais em C&T. Precisa também fazer com que essas empresas, sobretudo as pequenas e médias, incorporem novas tecnologias aos seus processos, fazendo com que elas invistam mais em desenvolvimento tecnológico.
Os produtos de exportação brasileiros possuem baixo valor tecnológico agregado, aumentar essa densidade, é imperioso para melhora a nossa balança comercial. E nas universidades, há ainda uma grande resistência dos pesquisadores em unir ciência e produção e entenderem que também são responsáveis pela criação de pontes entre os diferentes setores da sociedade.
Concluindo, não existirá avanços para a sociedade brasileira, se não houver sérios investimentos em C&T. Não haverá desenvolvimento se a educação não reduzir a grande diferença social do País, permitindo que os centros de tecnologia e ciência difundam o seu conhecimento e o coloque a serviço da sociedade. Necessitamos um ciclo virtuoso.

Olho: O financiamento à pesquisa é importante para o seu avanço, mas a sua regularidade é fundamental para que os fazedores de ciência no País se programem

Ricardo Hirata é professor do Instituto de Geociências da USP, pesquisador do CEPAS- IGc-USP e foi bolsista da CAPES no seu pós-doutoramento. Hirata escreve mensalmente nesta coluna.
e-mail: rhirata@usp.br


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