Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Setembro/2001 - Nº 118
   

Água subterrânea na região metropolitana de São Paulo

O racionamento de água atinge a população da Região Metropolitana de São Paulo- RMSP, evidenciando que a escassez relativa de chuvas também pode ser responsabilizada pelos problemas de oferta de água que afetam a população da terceira maior metrópole do mundo. Todavia, o que ocorre de fato, resulta da falta de investimentos regulares no setor, sobretudo, para o desenvolvimento de ações de uso cada vez mais eficiente e integrado da gota d'água disponível. Dentre os fatores que engendram o racionamento tão freqüente de água nas cidades brasileiras, destacam-se: 1) controlar a baixa eficiência no fornecimento que dá suporte aos vazamentos de água nas redes de distribuição; 2) ensinar os usuários - domésticos e agrícolas, principalmente - como usar água com menos desperdício, tal como, o hábito de varrer as calçadas, lavar pátios e carros com o jato da mangueira, escovar os dentes ou fazer a barba com a torneira aberta, utilizar bacias sanitárias cujas descargas necessitam de 18-20 litros por descarga, quando já existe no mercado modelo mais moderno que necessita de apenas 6 litros de água por descarga. Irrigar as culturas com água limpa de beber e utilizando os métodos menos eficientes, tais como de espalhamento superficial, pivô central e aspersão convencional. Desta forma, os cenários engendrados pelo racionamento, antes de haver racionalização dos usos, tornam-se tão ou mais vexatório do que aqueles decorrentes dos períodos de seca que assolam a cada 11 anos, aproximadamente, setores do sertão do Nordeste.
Entretanto, o diagnóstico realizado pelo Convênio SABESP- CEPAS/USP 1994, mostra que as descargas de base do rio Tietê em Itaquaquecetuba representam taxas de infiltração que alimentam as águas subterrâneas da RMSP, cujas lâminas situam-se entre 300 e 600 mm/ano. Desta forma, torna-se viável extrair por meio de poços tubulares até 18 m3/s do manto de alteração e zonas aqüíferas associadas das rochas do embasamento geológico de idade Pré-cambriana. Por sua vez, os depósitos aqüíferos da bacia sedimentar de São Paulo podem proporcionar mais 7 m3/s. Isto significa a possibilidade de extrair do subsolo da RMSP cerca de duas vezes a vazão que é proporcionada pela Guarapiranga.
Os estudos de vulnerabilidade dos aqüíferos da RMSP mostram, ainda, como o poço mal construído, operado ou abandonado, se transforma em verdadeiro foco de contaminação do manancial de água subterrânea na RMSP.
Por sua vez, estimou-se que cerca de 10.000 poços tubulares privados estão em operação na RMSP, para abastecer empresas de venda de água engarrafada e de caminhões pipa, hotéis, hospitais, indústrias, condomínios, clubes sociais, principalmente, extraindo cerca de 25% dos potenciais. Um levantamento realizado na RMSP indicou que a maioria destes poços é utilizada entre 3 e 10 horas por dia e as vazões são muito variadas, suficientes para encher os reservatórios e caixas d'água dos usuários, sendo a vazão média contínua de 5 m3/h. A orientação e estímulo para um uso cada vez mais eficiente da gota d'água disponível deverá ser a base de um fornecimento regular de água, com garantia da sua qualidade para consumo doméstico, principalmente.
Volta-se a ressaltar a necessidade do uso das águas subterrâneas na RMSP, devidamente inserido num processo de planejamento e gestão integrada da gota d'água disponível - água de chuva, rios, subsolo e de reuso não potável, principalmente.
Olho: A orientação e estímulo para um uso cada vez mais eficiente da gota d'água disponível deverá ser a base de um fornecimento regular de água, com garantia da sua qualidade para consumo doméstico, principalmente.

Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências, Pesquisador Inst. Estudos Avançados-Universidade de São Paulo, Consultor Secretaria Nacional de Recursos Hídricos, Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia


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