Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Setembro/2001 - Nº 118
   

Projeto Salto Paysandu
Recuperação do Poço das Termas de Dayman (2ª parte)
Volume do Fluido e Injeção no Poço

O volume do poço em 10¾", a 1600m era de 152m3 , que deveria ser somado ao volume das fraturas a serem totalmente preenchidas de forma a se obter o equilíbrio estático do sistema e se operar com segurança. Como não havia maneira de se determinar o volume de tais fraturas, estimou-se em 200m3 que somado ao volume do poço totalizava um volume 352m3. Não havendo naquele momento uma solução mais segura, estabeleceu-se com base nestas estimativas um volume de 300m3 de salmoura , trabalhando-se assim com um coeficiente de segurança alto para os padrões normais.
A salmoura deveria ser preparada na superfície e injetada no poço de maneira contínua até se obter a completa estabilidade do sistema. Essa condição exigia disponibilidade de reservatórios de grandes capacidades. Solicitou-se autorização para usar as piscinas do hotel como reservatórios para preparar e armazenar a salmoura. Foram utilizadas duas piscinas próximas ao poço, com capacidade superior ao volume projetado.
A injeção no poço foi feita por bombeamento contínuo entre as duas piscinas, e destas para os tanques de lama utilizando-se bombas centrífugas de mesmo porte. As bombas de lama da sonda injetavam o fluido através de uma coluna de hastes de perfuração, cuja extremidade estava a 1400m de profundidade.
Conforme foi citado anteriormente, existiam diversas fontes em volta do poço. Dentre estas fontes, situado a uns 50m, havia um poço de 20m de profundidade, que jorrava um volume apreciável de água com as mesmas características do aqüífero objeto. Como era imprescindível o preenchimento tanto do poço principal como de todas as fraturas, foi tomado como referência este poço de 20m que estava a uma cota superior às cotas das fraturas. A saída de salmoura neste poço evidenciaria o preenchimento de todas fraturas e a estagnação do jorro. Assim foi feito e a operação foi concluída em duas horas observando-se que o equilíbrio do sistema foi estabelecido com a injeção de cerca de 250m3.de salmoura no poço.
Com o poço estabilizado, foram feitos os trabalhos de alargamento para 12¼, revestimento em 97/8" e cimentados o espaço anular com aproximadamente 200 sacos de cimento. Ao final de todas essas operações a vazão do poço foi restabelecida . Os testes finais indicaram um vazão de 280m3/h e pressão na boca do poço de 7,70 kg/cm2. Observou-se que as fontes de água da superfície estavam estancadas comprovando assim o total sucesso da operação.
Conclusões
1) Os testes realizados após os trabalhos de recuperação do poço identificaram uma vazão de 280m3/h e pressão na cabeça do poço de 7,70 kg/cm2;
2) O poço havia sido revestido de 0 a 20 metros com canos de 133/8", o restante, abaixo dessa profundidade, era poço aberto. Sua vazão original, em virtude de não ter sido corretamente medida foi extrapolada. Acredita-se entretanto, que a mesma correspondia aos 280m3/h medidos após a recuperação do poço;
3) É possível que as águas, sob pressão do aqüífero, tenham interferido nas fraturas dos basaltos sotopostos, antes preenchidas por materiais diversos. Ao longo do tempo as águas passaram a percolar o material, evadindo para os rios, fluindo para a superfície, e originando conseqüentemente, a formação das citadas fontes e saturação dos aluviões. Tudo isso, além de representar um considerável desperdício de água, ainda provocava graves problemas de infiltrações que comprometiam a estrutura das edificações locais;
4) O comportamento do poço de Salto evidencia que a captação do aqüífero Guarani, feita em poço aberto no basalto, constitui-se uma temeridade. Esse tipo de completação deve ser abolida sob pena de provocar desperdícios da água proveniente de um reservatório de fundamental importância.

Raimundo B. Medeiros
Ex-engenheiro da Divisão de Hidrogeologia e Exploração da CPRM
Fone: (21) 549-4871
e-mail: raibeme@infolink.com.br


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