Perfuração
de poços em minério de ferro (Parte I)
O rebaixamento do nível d'água
em mineração de ferro teve seu início na primeira
metade da década de 80.
Desde então devem ter sido perfurados mais
de uma centena de poços tubulares profundos em explotações
de minério de ferro. A gênese do minério de ferro
brasileiro é predominantemente supergênica, isto é,
proveniente da lixiviação do protominério que continha
ferro e outros elementos, promovendo o incremento da concentração
de ferro.
O processo de enriquecimento supergênico transforma
o corpo de minério em um excelente aqüífero, com
valores elevados de permeabilidade e capacidade de armazenamento. Entretanto
esse processo não é uniforme e gera um aqüífero
heterogêneo e anisotrópico, com características
peculiares, sendo necessário muitos cuidados com a perfuração,
completação, desenvolvimento e manutenção
de poços.
Durante a perfuração é comum
a alternância entre materiais compactos e brandos. A granulometria
do minério varia da fração argila ao seixo em poucos
metros. Os intervalos de materiais compactos podem estar extremamente
fraturados e com condutividade hidráulica média de até
10 m/dia. A porosidade total de alguns minérios atinge até
50% e a porosidade efetiva de até 15% (ambas em volume), o minério
de ferro é de fato um excelente reservatório subterrâneo.
A perfuração dos poços nestes
aqüíferos não é uma tarefa fácil, requer
o uso de sondas rotativas com circulação direta de lama
muito bem equipadas. Para perfurar materiais compactos é necessário
o uso de sondas com capacidade com pelo menos 10 toneladas de comandos
para perfuração de poços com apenas 150 ou 200
metros. Os cuidados com a coluna de perfuração devem também
ser extremos, usualmente são perfurados materiais heterogêneos
com foliação e/ou acamamento com ângulos da ordem
de 45° e existem relatos de poços com desvio da ordem de
10%. As bombas de lama também devem ser superdimensionadas, pois
a densidade do minério é da ordem de 5g/cm3.
Os primeiros poços do Quadrilátero Ferrífero
foram perfurados em 17 1/2", revestidos em 8", com tubos lisos
DIN 2440 e filtros espiralados com abertura de 0,25 mm, no intento de
conter o minério fino muito abrasivo. Posteriormente com a introdução
de indicador do nível d'água no maciço de pré-filtro
foi possível verificar que as perdas de carga nos filtros 0,25
mm eram muito altas. Alterando a granulometria do pré-filtro
de 0,6 a 1,2 mm para 0,6 a 2 mm foram testados filtros com abertura
de 0,5 mm e 0.75 mm, espiralados e em pvc.
Atualmente os poços são perfurados no
diâmetro de 17 1/2" e revestidos em 10" ou 8" dependendo
da vazão esperada. Os materiais empregados na completação
são: tubos lisos schedule 40 e tubos filtros super-reforçados
espiralados com aberturas de 0,5 mm ou 0,75 mm, dependendo do minério.
Em minas com água de agressividade elevada são empregados
a partir da seção filtrante revestimentos de pvc. O pré
filtro é empregado na razão de 1:1 nas granulometrias
0,6 a 1,2 mm e 1 a 2 mm, misturados no ato da colocação.
legenda: Poço sendo cortado pela primeira vez, observa-se o tubo
de boca de 20 e a cimentação do anular de 26 para 20
legenda: Canteiro de obra em perfuração de poço
em uma mina de ferro
Antônio Carlos Bertachini
é Geólogo, Sócio da MDGEO Serviços de Hidrogeologia
Ltda., empresa especializada em hidrogeologia aplicada à mineração
e-mail: mdgeo@gold.com.br
Trabalhou também na Light-SP, DAEE-SP, CETEC-MG e MBR.
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