Fontes de arsênio ameaçam águas subterrâneas na Argentina

A última Reunião de Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, realizada em 2002 em Johannesburgo, qualificou de crucial o tema da gestão racional da água em todo o planeta. Em regiões pobres do Terceiro Mundo, a contaminação da água induz problemas sociais, econômicos e de saúde, tais como doenças endêmicas fatais (hepatite, febre tifóide ou cólera). Neste sentido, não ter acesso a água potável representa um grave risco para a saúde. Os países latino-americanos se encontram especialmente castigados por este problema e a mortalidade e morbilidade devido ao consumo de água não segura é muito alta, especialmente em zonas rurais e isoladas. O 30% da população de vários países da América Latina habita em localidades de menos de 2500 habitantes, geralmente em condições de pobreza extrema. Sem recursos econômicos nem apoio tecnológico do estado, os habitantes utilizam água de rios, nascente, poços e água estancada com um elevado grau de contaminação. A situação se agrava em regiões agrícolas e ganadeiras, onde pesticidas e fertilizantes químicos de relativa toxicidade vem sido sendo usados por muito tempo.

A presença de arsênico em águas subterrâneas é um problema de grande envergadura que afeta, entre outros, a Argentina, o México e o Chile, países onde tem sido detectados altíssimos níveis deste perigoso contaminante, correspondendo aos dois primeiros países o terceiro lugar no mundo em número de população afetada por este problema. Na Argentina, as fontes de arsênico são naturais, enquanto no México uma grande parte provem da atividade mineira. O problema do arsênico de origem natural e do gerado pelas minas de cobre, é também crítico no norte do Chile (Arica), em comunidades que ao mesmo tempo padecem de escassez de água.

Para os habitantes que se encontram abaixo da linha da pobreza, o método tradicional de ferver a água para torna-la potável pode não ser uma solução adequada devido à ocorrência de incêndios e a escassez de energia. Este método tampouco elimina o arsênico nem outros metais pesados, assim como compostos orgânicos recalcitrantes. As metodologias tradicionais de tratamento de águas são extraordinariamente caras. Segundo dados da FAO, a eliminação de uma tonelada de pesticidas custa entre 3500 e 4000 dólares. Isto provoca uma necessidade de desenvolvimento de tecnologias simples, eficientes e de baixo custo para a eliminação in situ destas substâncias.

Como vimos, os problemas relacionados com a gestão da água diferem tanto em escala como em complexidade e se acentuam devido a falta de técnicas bem estabelecidas para desinfecção e descontaminação. Para começar a atacar essa grande variedade de problemas, é imprescindível contar com procedimentos inovadores, econômicos e socialmente aceitados pela população. Neste sentido, aumentar o conhecimento dos profissionais envolvidos na temática ambiental na Região Latino-americana deveria ser um dos objetivos mais importantes da capacitação a curto e médio prazo. A possibilidade de contar com tecnologias econômicas para a potabilização de água em zonas isoladas da América Latina poderia contribuir importantíssimas ferramentas para resolver esta problemática, como paliativo para as dramáticas situações que se vivem na Região. Por outro lado, o desenvolvimento de fotorreatores solares simples e de pequena escala baseados em novas tecnologias, que permitam tratar baixos volumes de efluentes especiais ou sirvam para a potabilização da água em pequenos condomínios habitacionais, é também um objetivo que pode contribuir inclusive a economias de países mais desenvolvidas, que podem ser oferecidos a outros mercados. O ensino a distância pode ser uma alternativa útil para estes fins e ofereceria uma atualização permanente para pesquisadores e profissionais, utilizando as novas tecnologias da informação e comunicação.

Dra. Marta Litter, Argentina – Coordenadora do Proyecto “Tecnologias econômicas para a desinfecção e descontaminação da água em zonas rurais da América Latina”.

 

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