Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Junho/2001 - Nº 115
   

Fluidos de perfuração (Parte II)

     Em minha experiência de campo, perfurando pelo Brasil e exterior, e como não poderia ser diferente, enfrentei problemas diversos. Entretanto, a maioria deles estavam sempre relacionados ao tratamento inadequado que era dado aos fluidos de perfuração. Isso acontecia, porque, muitas vezes não havia a assistência técnica de um especialista em fluido de perfuração.
     Nessa série de reportagens pretendo me estender mais sobre esse assunto porque o encaro de importância fundamental na construção de poços. É através da lama que podemos transmitir a potência hidráulica disponível na superfície e é ela a responsável direta pelo bom comportamento das formações que estão sendo atravessadas durante a perfuração, no transporte dos cascalhos, na hidráulica, e muitas outras funções importantes que asseguram um bom resultado final.

"É através da lama que podemos transmitir a
potência hidráulica disponível na superfície e
é ela a responsável direta pelo bom comportamento
das formações que estão sendo atravessadas
durante a perfuração"

     Durante qualquer operação de perfuração, é de importância capital que sejam controladas as propriedades físicas da lama. As propriedades são controladas a valores que assegurem um desempenho ótimo da lama. Das propriedades a controlar, duas das mais importantes são a viscosidade e a consistência do gel. Viscosidade e consistência do gel estão relacionados a: (1) remoção de fragmentos e cascalhos; (2) manterem-se em suspensão fragmentos e cascalhos e materiais de agravamento de peso quando não há circulação; (3) descarga de fragmentos e cascalhos na superfície; (4) fazer-se por reduzir ao mínimo qualquer efeito adverso sobre o poço; e (5) diligências para obter se informações sobre a formações penetradas. A viscosidade determinada com o funil Marsh, é uma medida de campo que serve para controlar os limites aceitáveis, porém essas informações não são suficientes para se tomar medidas corretivas. As informações mais significativas sobre a viscosidade são obtidas através dos viscosímetros rotativos, que medem em centipoise, e são capazes de determinar os motivos da alteração e dão informações que permitirão o controle da consistência do gel.
     A consistência do gel é a propriedade gelificante ou tixotrópica da lama sob condições estáticas e é representada em termos de libras por cem pés quadrados (lbs/100pés2).
     Essas propriedades físicas da lama aumentam durante a perfuração à medida que a broca penetra nas formações triturando-as e, agregando ao sistema, sólidos ativos inertes e contaminantes químicos. Os sólidos inertes são subdivididos em desejáveis e indesejáveis. Os sólidos desejáveis são adicionados à lama para melhorar o desempenho das funções específicas, entre outros estão a bentonita, a barita, os amidos, o CMC, etc. E os inertes são as areias, os folhelhos, o carbonato de cálcio, a dolomita, etc. A incorporação desses sólidos são os principais fatores responsáveis pelo aumento de peso e da viscosidade aparente. Há diversos métodos aos quais se pode recorrer para diminuir a viscosidade e força gel da lama. Esses métodos são mecânicos e químicos.

Métodos mecânicos

     1. Diluição com água que serve para diminuir a concentração de sólidos. Esse método tem suas limitações porque pode acarretar aumento de perda d'água que é um complicador, principalmente quando se perfura folhelhos.
     2 - Peneira vibratória - A passagem da lama pela peneira vibratória remove as partículas inertes de maiores dimensões.
     3 - Separadores centrífugos - Essas máquinas separam mecanicamente os sólidos restantes que passam pela peneira. É importante lembrar, que os separadores mecânicos tais como peneiras vibratórias e separadores centrífugos serão eficientes quando trabalham em conjunto e em série, passando a lama primeiro pela peneira e depois pelos separadores. A determinação dos sólidos da lama é feita usando-se a retorta Fann em conjunto com o medidor VG.

Métodos químicos

     Considera-se que o efeito primário dos produtos químicos para redução de viscosidade é o de neutralizar as valências residuais provenientes de elos quebrados. E a redução do limite de escoamento se processa por um ou mais dos seguintes mecanismos.
     1 - Redução de contaminantes através de precipitação.
     2 - Redução dos efeitos dos contaminantes.
     3 - Substituição de íons desfavoráveis por íons favoráveis.
     4 - Formando uma película protetora e volta das películas de argila.
     Os produtos químicos que mais se usa no tratamento das lamas de perfuração são os fosfatos e os lignosulfonatos.
     Os fosfatos mais usados são o pirofosfato ácido de sódio e o tetrafosfato de sódio que são poderosos dispersantes e, em pequenas quantidades reduzem ao máximo a viscosidade. A quantidade, num tratamento de simples dispersão, raramente será superior a 0,2lbs/bbl de lama por turno. Geralmente se processa uma mistura de aproximadamente 50lbs de fosfato em um barril de água. A solução é então adicionada na lama, com distribuição uniforme, ao longo de um ciclo completo da lama.. Devido à sua eficácia em remover o cálcio, são excelentes agentes no tratamento contra a contaminação por cimento. Os fosfatos devem ser aplicados com soda cáustica para evitar queda de pH. Ele não deve ser aplicado quando a temperatura da lama é superior a 175oF. Nessas condições ele se converte em ortofosfato que é agente floculante.
     Entre os lignosulfonatos o espersene é o mais versátil e pode ser aplicado em todas as lamas a base d'água. Desempenha bem suas funções em todos os níveis de pH alcalino e pode ser usado em qualquer teor de sal até a saturação, e mediante qualquer teor de cálcio presente nos fluidos de perfuração. Deve-se adicionar juntamente com soda cáustica na proporção de um para quatro (soda espersene).
O espersene atua também como inibidor e, em quantidades suficiente, reduz a perda d'água.

Raimundo B. Medeiros
Ex-engenheiro da Divisão de
Hidrogeologia e Exploração da CPRM
Fone: (21) 549-4871


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