Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Junho/2001 - Nº 115
   

O acidente com o duto da Petrobrás e os métodos geofísicos de investigação

     Nas áreas de geologia de engenharia, petróleo, hidrogeologia e mineração os métodos geofísicos de investigação estão há décadas fortemente presentes. Toda a pesquisa petrolífera em nosso país, tanto em terra como no mar, está apoiada na investigação através dos métodos sísmicos, basicamente a sísmica de reflexão.

     A sísmica de refração e a eletrorresistividade têm se constituído, desde a década de 1960, numa das ferramentas de investigação geológico-geotécnica mais importantes para a implantação de aproveitamentos hidrelétricos. O ensaio sísmico crosshole tem sido executado em praticamente todas as usinas termelétricas construídas ou em construção no país. Mais recentemente, principalmente em conseqüência do desenvolvimento da eletrônica, os equipamentos foram aprimorados, sofrendo igualmente uma redução de custos. O primeiro aspecto, vem permitindo a execução de ensaios também no meio urbano, enquanto o segundo, tem possibilitado que um número maior de empresas atue no setor.


Figura 1 : Perfil de radar (GPR)
utilizado para identificação de dutos

     No meio urbano, a sísmica de reflexão de alta resolução, embora ainda em desenvolvimento, já vem mostrando bons resultados, como nos projetos dos metropolitanos de São Paulo (Linha 4 Amarela) e de Salvador-BA. No mapeamento de plumas de contaminação, tanto no ambiente urbano como rural, os métodos elétricos e eletromagnéticos estão presentes com suas várias técnicas, mostrando resultados excelentes em diversos projetos no contexto do controle ambiental. Para a detecção de dutos enterrados está disponível o GPR (Ground Penetrating Radar), método eletromagnético não destrutivo, que utiliza ondas de altas freqüências e que foi desenvolvido principalmente para aplicação na localização de objetos enterrados como dutos, estruturas de concreto, etc. (Figura 1) e também no mapeamento de detalhe, em profundidade, de interfaces geológicas (Figura 2).
     Embora possa ser considerado um método ainda em desenvolvimento em nosso país, principalmente em relação às condições geológicas ideais para sua aplicação, o GPR está disponível no Estado de São Paulo em Instituições como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, Instituto Astronômico e Geofísico da USP, Universidade Estadual Paulista - Rio Claro, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB, e em empresas privadas, como Geo-Radar, Astral, dentre outras. Assim, para a implantação de qualquer empreendimento que exija o conhecimento prévio do meio físico, estão disponíveis métodos indiretos de investigação, normalmente de execução rápida, que pode efetivamente contribuir no planejamento do projeto, minimizando riscos de acidentes em geral. Face ao exposto, não se justifica que intervenções, como aquelas que ocorreram na Rodovia Presidente Castelo Branco no dia 15/06/01 para implantação do Rodo Anel, sejam realizadas sem um trabalho prévio de investigação, utilizando-se de métodos indiretos, como parece ter sido o caso.

     Felizmente os prejuízos sofridos pelas empresas e pessoas que dependem da rodovia foram somente de ordem financeira, embora seguramente representem valores gigantescos, afinal, o tráfego ficou interditado por pelo menos dez horas. Espera-se, pelo menos, que esse acidente venha a servir de alerta para que não tenhamos no futuro rompimento de adutoras, cabos elétricos, redes de fibras óticas, pela ausência de estudos de prevenção, perfeitamente viáveis e exeqüíveis pelo poder público ou por empresas privadas.

Figura 2: Perfil de radar (GPR) mostrando detalhes da estratigrafia
rasa na ilha Comprida, litoral sul do Estado de São Paulo

Rubens Paschoal Cordeiro
Laboratório de Geofísica
Aplicada - IPT
rubenspc@ipt.br

Luiz Antonio Pereira de Souza
Laboratório de Geofísica
Aplicada - IPT
laps@ipt.br


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