Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Julho/2001 - Nº 116
   

Camaçari se destaca pela proteção das águas subterrâneas

O Programa de Gerenciamento do Pólo Petroquímico da Bahia tornou-se referência para a gestão dos recursos hídricos subterrâneos em todo o Brasil

Embora as águas subterrâneas sejam naturalmente melhor protegidas dos contaminantes do que as águas superficiais, os processos de contaminação dos aqüíferos são mais lentos e as velocidades de fluxo subterrâneos variam de centímetros a alguns metros por dia. A poluição dos mananciais pode levar até alguns anos para que seus efeitos ocorram ou sejam identificados. Os processos de remediação das águas subterrâneas também são mais lentos e demandam uma caracterização adequada dos mecanismos de transporte de massa associados às possíveis interações químicas ou fenômenos de partição de fase, levando-se em consideração as heterogeneidades do meio poroso. Com base nesses dados, o Governo da Bahia implantou em 1992 o Programa de Gerenciamento das Águas Subterrâneas do Pólo Petroquímico de Camaçari - Uma Estratégia para a Sustentabilidade Ambiental. O projeto desenvolvido pelos geólogos Paulo Roberto Penalva dos Santos, Manoel de Melo Maia Nobre, Gedison Marques Vilela e Demosthenes Miranda de Carvalho prevê o monitoramento periódico dos aqüíferos e possibilita a definição de plumas de contaminação provenientes da dissolução de fluidos orgânicos (NAPLs), assim como de metais pesados. Após nove anos de funcionamento o projeto tornou-se referência para a gestão dos recursos hídricos subterrâneos e recebeu diversas certificações internacionais.
"O Pólo Petroquímico de Camaçari ao contrário dos pólos industriais do mundo inteiro está preocupado com as águas subterrâneas. As empresas estão unidas pelo projeto e chegam a investir cerca de US$ 3 milhões na manutenção do projeto. A intenção é garantir a qualidade da água subterrânea e superficial sob influência do pólo", explica Carlo Eugênio Bezerra Menezes, diretor superintendente da Cetrel.

"A poluição dos mananciais pode
levar até alguns anos para que seus efeitos
ocorram ou sejam identificados"

O complexo petroquímico de Camaçari é o maior e mais importante complexo industrial integrado da América Latina. Abrange mais de 50 indústrias da área química e petroquímica que produzem plásticos, fertilizantes, resinas, fibras e produtos petroquímicos de primeira, segunda e terceira gerações essenci- ais à economia do país. O pólo fica localizado na região econômica de Salvador. A água subterrânea é de grande importância no pólo, uma vez que 50% da água utilizada pelas indústrias é extraída do aqüífero São Sebastião através de poços tubulares.
Com a implantação do pólo petroquímico de Camaçari ficou evidenciada a necessidade da prevenção e proteção da qualidade das águas subterrâneas da região tendo em vista que a localização está sobre um sistema aqüífero que apresenta vulnerabilidade e risco de contaminação. Atentos à situação, os empresários e o Governo desenvolveram ações para evitar os impactos ambientais decorrentes dos processos produtivos nesses mananciais. São mecanismos para uma gestão sustentável dos recursos hídricos da região, principalmente das águas subterrâneas através de avaliações dos riscos potenciais de contaminação. Nesse processo são considerados os seguintes vetores potenciais:
· Estocagem e manuseio de produtos químicos tóxicos nos diversos processos industriais,
· Disposição e descarte de resíduos industriais,
· Emissão de gases poluentes para atmosfera,
· Extração de água do aqüífero para suprimento industrial através de bombeamento de poços tubulares profundos existentes na área do pólo petroquímico.
O programa é coordenado pela Cetrel, uma situação inédita no Brasil, onde uma empresa privada (Cetrel) é cogestora dos recursos hídricos do pólo petroquímico em parceria com os órgãos ambientais e governamentais. O programa visa o gerenciamento dos recursos hídricos da região em cumprimento às normas do CEPRAM - Conselho de Proteção Ambiental do Estado da Bahia - através da Resolução N.º 218 e a de N.º 620, tendo como missão a preservação, proteção e uso sustentado dos recursos hídricos. "O programa está indo muito bem. O trabalho de acompanhamento tem diagnóstico periódico, verificando a propagação e controle dos focos de contaminação. É um trabalho de proteção", garante Paulo Roberto Penalva dos Santos, geólogo da Cetrel e presidente da ABAS Bahia.
O programa de Gerenciamento das Águas Subterrâneas do Pólo Petroquímico de Camaçari estabeleceu três objetivos: identificação e eliminação das fontes de contaminação primárias e secundárias da região do pólo petroquímicos; otimização e racionalização da exploração da água subterrânea na região e desenvolvimento de ações de remediação do solo e das águas subjacentes do pólo. Do ponto de vista hidrológico, o pólo petroquímico de Camaçari se encontra inserido entre as bacias hidrográficas dos rios Joanes e Jacuípe, esse último tem seu afluente, o rio Imbassai, como zona de descarga das águas do aqüífero mais próximo do pólo. O regime de escoamento preferencial do fluxo subterrâneo regional é predominante na direção NW-SE.
A produtividade dos poços de produção está condicionada aos projetos construtivos, porém pode-se considerar alta, em sua maioria, apresentam vazões acima de 30m3/h com uma água de excelente qualidade físico-químico com teores de sais inferiores a 200 mh/ l. "Quando o projeto iniciou em 92, eram pouco mais de 300 poços de monitoramento. Hoje, o número saltou para 524. Um passo importante na preservação do meio ambiente", destaca Penalva.
Sucesso - Desde que o projeto foi implantado, diversas atividades já foram desenvolvidas ou estão em fase de desenvolvimento pelo programa de gerenciamento da CETREL. Entre eles destaque para a implantação da rede de poços de monitoramento, onde o monitoramento é contínuo de acordo com o plano de monitoramento aprovado pelo CRA - Centro de Recursos Ambientais da Bahia. O monitoramento já possibilitou a definição de plumas de contaminação de compostos orgânicos e metais pesados, permitindo a implementação de ações para a eliminação das fontes geradoras ou de ações para diagnosticar as suas magnitudes, além da avaliação de compostos químicos voláteis, semivoláteis e metais pesados considerados prioritários no programa de gerenciamento das águas subterrâneas.
Outras ações também são destacadas como a avaliação da qualidade das águas de descarga hidráulica das águas subterrâneas na região do pólo, paralisação dos poços profundos de produção situados em áreas onde o aqüífero apresenta contaminação e eliminação de possíveis focos de contaminação do aqüífero São Sebastião. Hoje, parte da água contaminada é bombeada e reusada em processos industriais de algumas empresas do pólo e também já se encontram em operação sub-sistemas de contenção hidráulica para o controle da evolução das plumas de contaminação originadas em suas áreas industriais. As fontes primárias de contaminação foram eliminadas ou estão em processo de eliminação. "A conscientização é fundamental. O capitalismo pode conviver em perfeita harmonia com o desenvolvimento sustentável, desde que seja um capitalismo sério focando o ser humano e o meio ambiente. É preciso traçar ações de equilíbrio para o desenvolvimento econômico e desenvolvimento social", finaliza Penalva.


 

Poços de monitoramento de águas subterrâneas

 

Vista aérea do Polo Petroquímico de Camaçari, em Salvador-BA

 


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