Projeto Salto Paysandu
Recuperação do Poço das Termas de
Dayman (1ª parte)
Em 1989 a CPRM fechou o contrato n° 062/PR/ 89 com a OSE (Obras
de Saneamento de Estado), empresa estatal responsável pelo saneamento
e abastecimento de água na República Oriental do Uruguai.
Foi deslocada uma sonda T-50 com todos os equipamentos, equipe técnica
e infra-estrutura necessária para atender ao contrato firmado
com a citada empresa.
Entre outras cláusulas contratuais, havia uma que tratava da
recuperação de um poço localizado nas termas de
Dayman na cidade de Salto. Esse poço foi perfurado na década
de 50 por uma empresa Americana, e tinha como objetivo a pesquisa de
Petróleo nesta região. Tratava-se de um pioneiro com profundidade
superior a 3000 metros que atravessava diversas camadas, sendo uma delas
formada pelo arenito Guarany (Botucatu), com uma espessura de aproximadamente
100 metros, cuja base encontrava-se a uma profundidade próxima
dos 1100 metros Com relação ao objetivo principal do projeto
que era pesquisar petróleo, os resultados foram negativos, visto
que não foi verificado indícios de óleo. Entretanto,
a ocorrência de água proveniente do aqüífero
Guarany tornava o poço um excelente produtor de água.
A elevada produção de água, com artesianismo surgente,
motivou o interesse das autoridades locais para aproveitamentos diversos,
tais como investimentos na instalação de um complexo hoteleiro
com piscinas e outras benfeitorias, que incentivasse o turismo naquela
região.
Produção Inicial do Poço
Segundo informações locais, a produção inicial
do poço era de 500m3/h. Ocorre que os testes realizados pela
equipe da CPRM em 1989, não corresponderam a este valor, mas
a uma produção cinco vezes menor, correspondente a 100m3/h.
Não havia como negar as informações iniciais, entretanto
também era impossível comprová-las, uma vez que
foram detectadas pela equipe técnica a existência de várias
fontes produzindo água nos rios Dayman e Uruguai, todas oriundas
do poço. Além desses vazamentos, havia infiltração
de água nos aluviões onde foram erguidas as edificações
do complexo hoteleiro, cujas estruturas de sustentação
encontravam-se seriamente comprometidas. Era evidente que todo esse
comprometimento, além das perdas, justificavam o investimento
na recuperação do citado poço.
Base Operacional para
Recuperação do Poço
O poço foi inicialmente perfurado com 171/2" até
20m, e 10¾" de 20m até a profundidade final. Abaixo
da formação Guarany, foi assentado um tampão de
cimento para isolar as formações imediatamente inferiores.
A sua recuperação consistia em revestir todo basalto sotoposto
ao arenito Guarani (Botucatu), com tubos de 9 7/8"e cimentar o
anular a partir da base do revestimento até 400m acima desta.
Para isso era necessário alargar o poço de 10¾"
para 12¼" até o topo do citado arenito, o que correspondia
a uma profundidade de 900m
Esse trabalho implicava em operações complicadas, entre
as quais destacava-se o estancamento da surgência (matar o poço),
cujo detalhamento será o objetivo desta reportagem.
Para se concretizar a operação com sucesso, era imprescindível
estancar a vazão, que infelizmente, em razão das perdas
citadas anteriormente, não tinha sido confirmada. A determinação
do peso da lama, volume e demais características importantes
para o restabelecimento do equilíbrio do poço, dependiam
deste dado. Estabeleceu-se então um valor para a vazão
do poço que fosse condizente com a realidade, admitindo-se como
verdadeira a vazão de 500m3/h, tomada como base operacional.
Para esta vazão a pressão na base do arenito era de 2556,80
psi. Estes dados foram comparados aos obtidos nos testes de um outro
poço perfurado pela CPRM, situado a 2km do poço das termas
Dayman.
A Operação de "Matar" o Poço
Essa operação consistia em se utilizar um fluido que tivesse
densidade e gradiente de pressão suficiente para equilibrar as
pressões dos poros da formação produtora, na profundidade
de 1600m.O fluido deveria ter baixo teor de sólidos, visto que
uma elevada concentração de sólidos poderia induzir
danos, e conseqüentes interferências na produção
final. Por outro lado, se o poço produzia 500m3/h e havia perdas
consideráveis através das fraturas, estas deveriam ser
totalmente preenchidas para garantir o equilíbrio estático
das pressões pelo tempo necessário às operações
de restabelecimento das condições iniciais.
Após obtenção de uma série de dados em testes
de laboratório, chegou-se a um consenso de que o fluido mais
adequado e econômico que atenderia às exigências
tanto contratuais como operacionais, seria uma solução
de cloreto de sódio em água com concentração
de 95000ppm, ou 35,52 libras de sal por barril de água e densidade
1,0633kg/litro (9,00lb/gal). Essa concentração forneceria
peso e gradientes suficientes para equilibrar a pressão hidrostática
do poço com a pressão de poros do aqüífero.
Continua na próxima edição
Olho: Esse trabalho implicava em operações complicadas,
entre as quais destacava-se o estancamento da surgência(matar
o poço), cujo detalhamento será o objetivo desta reportagem
Raimundo B. Medeiros
Ex-engenheiro da Divisão de Hidrogeologia e Exploração
da CPRM
Fone: (21) 549-4871
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