Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Agosto/2001 - Nº 117
   

Projeto Salto Paysandu

Recuperação do Poço das Termas de Dayman (1ª parte)
Em 1989 a CPRM fechou o contrato n° 062/PR/ 89 com a OSE (Obras de Saneamento de Estado), empresa estatal responsável pelo saneamento e abastecimento de água na República Oriental do Uruguai. Foi deslocada uma sonda T-50 com todos os equipamentos, equipe técnica e infra-estrutura necessária para atender ao contrato firmado com a citada empresa.
Entre outras cláusulas contratuais, havia uma que tratava da recuperação de um poço localizado nas termas de Dayman na cidade de Salto. Esse poço foi perfurado na década de 50 por uma empresa Americana, e tinha como objetivo a pesquisa de Petróleo nesta região. Tratava-se de um pioneiro com profundidade superior a 3000 metros que atravessava diversas camadas, sendo uma delas formada pelo arenito Guarany (Botucatu), com uma espessura de aproximadamente 100 metros, cuja base encontrava-se a uma profundidade próxima dos 1100 metros Com relação ao objetivo principal do projeto que era pesquisar petróleo, os resultados foram negativos, visto que não foi verificado indícios de óleo. Entretanto, a ocorrência de água proveniente do aqüífero Guarany tornava o poço um excelente produtor de água.
A elevada produção de água, com artesianismo surgente, motivou o interesse das autoridades locais para aproveitamentos diversos, tais como investimentos na instalação de um complexo hoteleiro com piscinas e outras benfeitorias, que incentivasse o turismo naquela região.

Produção Inicial do Poço
Segundo informações locais, a produção inicial do poço era de 500m3/h. Ocorre que os testes realizados pela equipe da CPRM em 1989, não corresponderam a este valor, mas a uma produção cinco vezes menor, correspondente a 100m3/h. Não havia como negar as informações iniciais, entretanto também era impossível comprová-las, uma vez que foram detectadas pela equipe técnica a existência de várias fontes produzindo água nos rios Dayman e Uruguai, todas oriundas do poço. Além desses vazamentos, havia infiltração de água nos aluviões onde foram erguidas as edificações do complexo hoteleiro, cujas estruturas de sustentação encontravam-se seriamente comprometidas. Era evidente que todo esse comprometimento, além das perdas, justificavam o investimento na recuperação do citado poço.

Base Operacional para
Recuperação do Poço
O poço foi inicialmente perfurado com 171/2" até 20m, e 10¾" de 20m até a profundidade final. Abaixo da formação Guarany, foi assentado um tampão de cimento para isolar as formações imediatamente inferiores. A sua recuperação consistia em revestir todo basalto sotoposto ao arenito Guarani (Botucatu), com tubos de 9 7/8"e cimentar o anular a partir da base do revestimento até 400m acima desta. Para isso era necessário alargar o poço de 10¾" para 12¼" até o topo do citado arenito, o que correspondia a uma profundidade de 900m
Esse trabalho implicava em operações complicadas, entre as quais destacava-se o estancamento da surgência (matar o poço), cujo detalhamento será o objetivo desta reportagem.
Para se concretizar a operação com sucesso, era imprescindível estancar a vazão, que infelizmente, em razão das perdas citadas anteriormente, não tinha sido confirmada. A determinação do peso da lama, volume e demais características importantes para o restabelecimento do equilíbrio do poço, dependiam deste dado. Estabeleceu-se então um valor para a vazão do poço que fosse condizente com a realidade, admitindo-se como verdadeira a vazão de 500m3/h, tomada como base operacional. Para esta vazão a pressão na base do arenito era de 2556,80 psi. Estes dados foram comparados aos obtidos nos testes de um outro poço perfurado pela CPRM, situado a 2km do poço das termas Dayman.

A Operação de "Matar" o Poço
Essa operação consistia em se utilizar um fluido que tivesse densidade e gradiente de pressão suficiente para equilibrar as pressões dos poros da formação produtora, na profundidade de 1600m.O fluido deveria ter baixo teor de sólidos, visto que uma elevada concentração de sólidos poderia induzir danos, e conseqüentes interferências na produção final. Por outro lado, se o poço produzia 500m3/h e havia perdas consideráveis através das fraturas, estas deveriam ser totalmente preenchidas para garantir o equilíbrio estático das pressões pelo tempo necessário às operações de restabelecimento das condições iniciais.
Após obtenção de uma série de dados em testes de laboratório, chegou-se a um consenso de que o fluido mais adequado e econômico que atenderia às exigências tanto contratuais como operacionais, seria uma solução de cloreto de sódio em água com concentração de 95000ppm, ou 35,52 libras de sal por barril de água e densidade 1,0633kg/litro (9,00lb/gal). Essa concentração forneceria peso e gradientes suficientes para equilibrar a pressão hidrostática do poço com a pressão de poros do aqüífero.
Continua na próxima edição

Olho: Esse trabalho implicava em operações complicadas, entre as quais destacava-se o estancamento da surgência(matar o poço), cujo detalhamento será o objetivo desta reportagem

Raimundo B. Medeiros
Ex-engenheiro da Divisão de Hidrogeologia e Exploração da CPRM
Fone: (21) 549-4871


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