Boletim Informativo da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas Setembro/2001 - Nº 118
   

Atenuação por Monitoramento

Não, você leu corretamente, não há um erro no título da matéria. Atenuação natural monitorada (ANM) tem sido a técnica mais utilizada para remediação de locais contaminados com compostos degradáveis. Claro, não há dúvida alguma que monitoramento em si não consiste em técnica de remediação, e que ele serve somente para se confirmar o que a natureza faz com a contaminação. Dizem que, na verdade, a técnica mais utilizada para remediação é a atenuação natural não monitorada... Mas isso é pura maledicência! Todos sabemos que as contaminações de solo e água subterrânea são estudadas e acompanhadas com muita atenção.
Embora a ANM seja uma técnica simples e barata (que justifica sua ampla utilização), alguns erros são possíveis quando de sua utilização. É muito comum que os hidrogeólogos, ao se depararem com uma contaminação, fiquem concentrados nas características da pluma e no comportamento dos contaminantes. Entretanto, a hidráulica do aqüífero é de suma importância na ANM. Em geral, a fonte da despreocupação em relação à hidráulica se deve ao fato de que as plumas de orgânicos apresentam concentrações muito baixas, e podem ser consideradas como tendo a mesma densidade da água, sem detrimento de resultados. E também à limitação de recursos na realização dos trabalhos de caracterização, com apresentação do problema sempre em planta, sem muita preocupação com o comportamento dos componentes verticais de fluxo. É neste ponto que reside um grande risco.
Em áreas de recarga, a componente vertical de fluxo é sempre considerável. Este fluxo descendente pode fazer com que a pluma mova-se lentamente para uma profundidade maior, afastando-se gradativamente do nível d'água. Uma situação distinta de uma zona de recarga, mas ainda com fluxo vertical, pode ser a existência de uma camada mais permeável localizada abaixo da camada estudada. As linhas de fluxo tenderiam a se direcionar para esta camada inferior, levando consigo por advecção, a pluma de contaminação. Desta forma, a utilização de poços de monitoramento colocados próximos e pouco abaixo do nível d'água, ainda que no eixo central da pluma, estariam interceptando cada vez menos a pluma de contaminação, como mostra a figura.
A pluma de contaminação não estaria sendo atenuada da forma como os resultados das amostras coletadas nos respectivos poços de monitoramento estariam indicando. Mas numa taxa muito inferior. haveria, portanto, uma atenuação pelo monitoramento! Ou seja, uma conclusão errônea.
Outra possibilidade, que pode parecer trivial, é a de que a pluma de contaminação mude de direção e os poços deixem de interceptá-la. Este fato, ainda que aparentemente fácil de ser detectado, gerou dúvidas num dos experimentos mais famosos do mundo, realizado na Base Militar de Borden, no Canadá. Naquele local, a variação da direção de fluxo, não prevista no mapeamento hidrogeológico ali realizado, provocava um espalhamento da pluma muitíssimo superior ao que se poderia prever pelos parâmetros de dispersão medidos para o local. A conclusão, hoje óbvia, foi determinada depois de muita discussão a respeito do comportamento da pluma. E isso entre especialistas indiscutíveis. No caso de qualquer dúvida quanto ao monitoramento, reconsiderem a hidrogeologia local. Caso contrário, a certeza do hidrogeólogo, que já apresenta uma margem de segurança enorme, ficará ainda mais incerta.

Olho: Embora a ANM seja uma técnica simples e barata (que justifica sua ampla utilização), alguns erros são possíveis quando de sua utilização

Dr. Everton de Oliveira
é professor-colaborador do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e sócio-diretor da HIDROPLAN - Hidrogeologia e Planejamento Ambiental S/C Ltda.
(everton@hidroplan.com.br)


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