Atenuação Natural
de Contaminantes Os processos que devem ser considerados
na atenuação natural de contaminantes são: diluição,
dispersão, (bio) degradação, adsorção
irreversível e/ou decaimento radioativo de contaminantes em solos
e águas subterrâneas. Apesar da atenuação
natural causar uma redução da toxicidade de um dado contaminante
e uma diminuição do risco para seres humanos e meio ambiente,
esta metodologia tem sido muitas vezes desconsiderada em projetos de
remediação ambiental. Pelo contrário, muitas vezes
considera-se os contaminantes de subsuperfície como "bombas
relógio" tendo poder letal ad infinitum. De fato, a maioria
dos contaminantes em solos e águas subterrâneas sofrem
profunda atenuação natural, sendo retirados dos respectivos
ambientes muito mais rapidamente do que através de custosos projetos
de engenharia. Uma metodologia de remediação
cientificamente embasada, seria a de ignorar os contaminantes que sofrem
acentuada atenuação natural e remediar aqueles de alta
persistência. Deve-se, no entanto, comprovar a eficácia
do processo de atenuação natural para estes compostos
e limitar a exposição futura aos persistentes. Em geral,
o que se faz atualmente, é partir tentativamente para uma remediação
de todos os compostos, muitas vezes conseguindo-se apenas uma redução
desprezível do risco à saúde (humana e do meio
ambiente), com custos que podem chegar a centenas de milhões. Toda decisão de se optar pela atenuação natural como alternativa num projeto de remediação, precisa considerar os aspectos específicos do site a ser remediado. Às vezes, a atenuação natural "passiva" pode ser suficiente como medida de remediação para um dado site, ou então, a atenuação natural acelerada, que, através da injeção de nutrientes ou microorganismos, aumenta a degradação. Processos de atenuação
natural ocorrem em graus diferentes em todos sites contaminados. A dimensão
da degradação depende dos tipos e concentrações
de contaminantes e das características hidrológicas, hidrogeológicas
e geológicas existentes na área. A atenuação
natural pode reduzir o risco causado pelos contaminantes de um dado
site de três maneiras diferentes, dependendo do tipo de contaminante: 1. Os contaminantes são transformados em formas
menos tóxicas através de processos destrutivos (biodegradação,
decaimento radioativo, etc.). 2. As concentrações dos contaminantes são
reduzidas através de processos como diluição, dispersão,
etc. 3. A mobilidade e disponibilidade do contaminante para
processos biológicos é reduzida através dos processos
de adsorção no solo e na estrutura da rocha. Os mais bem documentados processos
de atenuação natural são os relacionados aos sites
de petróleo, onde a degradação de contaminantes
orgânicos pôde ser na maioria das vezes comprovada. Através
da ação de microorganismos no solo e na água subterrânea,
os contaminantes são degradados biologicamente a produtos muitas
vezes não tóxicos e inofensivos. Por exemplo, sob condições
especiais no campo, os compostos benzeno, tolueno, xilenos e etil-benzeno
(BTXE), podem degradar naturalmente através de ação
microbiana e produzir produtos finais não-tóxicos (CO2,
H2O). Uma outra classe de contaminantes
orgânicos comuns e que biodegradam em certas condições
ambientais (normalmente através de declorinização
redutiva) são os solventes clorados, como por exemplo o tricloroetileno.
No entanto, estas condições hidrológicas e geológicas
favoráveis à biodegradação de solventes
clorados, podem não ocorrer em determinados sites. Alguns compostos inorgânicos,
em especial os radioativos, também "quebram" com o
tempo. No caso destes compostos, pode-se prever com mais segurança
o decaimento e determinar uma taxa de decaimento, o que geralmente não
é possível com os compostos orgânicos. A meia-vida
destes compostos permite um prognóstico preciso do tempo necessário
para a redução da radioatividade para valores que não
representam mais um risco. As concentrações
de contaminantes inorgânicos não-degradáveis, móveis
e com formas tóxicas, podem ser reduzidas de maneira significativa
através de outros processos naturais. O movimento de metais e
compostos radioativos pode ser diminuído na subsuperfície
através da adsorção a superfícies minerais
ou partes de solo orgânico e eventualmente através de volatilização.
Reações de oxido-redução podem, adicionalmente
modificar a valência de alguns contaminantes inorgânicos
produzindo compostos de formas menos solúveis e menos móveis
ou compostos menos tóxicos (por exemplo cromo hexavalente formando
cromo trivalente). A imobilização de
contaminantes através de processos naturais depende do contaminante
e da matriz em que se encontra. Alguns metais e compostos radioativos
possuem uma interação muito reduzida com a matriz e podem,
conseqüentemente, se mover livremente em subsuperfície.
Além disso, a adsorção pode ser revertida (desorção)
dependendo do contaminante e da atenuação natural que
esteja acontecendo no momento. Ou seja, o composto se fixa na matriz
definitivamente ou mantém um potencial de remobilização. Mesmo que, alguns contaminantes
orgânicos e inorgânicos não possam ser destruídos
através dos processos da atenuação natural, os
mesmos podem sofrer diluição ou dispersão na medida
em que se movimentam em subsuperfície. Ao contrário dos
processos de destruição e transformação,
a diluição e dispersão não proporcionam
uma redução na massa de contaminante presente no meio,
mas apenas uma redução da concentração do
contaminante. A atenuação natural
monitorada (monitored natural atenuation) pode ser vista como sendo
uma metodologia dependente dos processos de atenuação
natural, dentro de um contexto de remediação controlado
e monitorado, para atingir os objetivos específicos do site dentro
de um prazo razoável, se comparado com o de outras metodologias
ativas de remediação. O monitoramento é, portanto,
o componente crítico de toda remediação baseada
em atenuação natural. O monitoramento é necessário
para: 1. Garantir que os objetivos estipulados estejam sendo
atingidos, 2. Identificar se está ocorrendo uma migração
inaceitável da contaminação, de maneira que medidas
de contingência sejam implementadas, para evitar riscos à
saúde humana e ao meio ambiente. Um dos softwares existentes no mercado e que permite visualizar os processos de atenuação natural que ocorrem em águas subterrâneas é o programa SEQUENCE (Groundwater Insight & Waterloo Hydrogeologic Inc.). O programa utiliza diagramas radiais para demonstrar a degradação de compostos e a existência de trends. No programa podem ser avaliados mapas do tipo oxido-redução (redox) para identificar indicadores geoquímicos como por exemplo, receptores de elétrons (oxigênio, nitrato e sulfato) e produtos de metabolismo (manganês, ferro e metano). Cada diagrama radial de SEQUENCE representa dados químicos de um poço de monitoramento e consiste de eixos múltiplos (um para cada composto) saindo de um dado ponto de origem. Através do arranjo de dados de diferentes campanhas de amostragem é fácil fazer a comparação dos mesmos e identificar concentrações de montante e jusante. A figura 1 mostra um diagrama radial do programa SEQUENCE com os valores de concentração para os compostos BTXE no poço fonte da contaminação e para o poço de monitoramento CPT-19.
A figura 2 mostra um diagrama radial do programa SEQUENCE exibindo a variação dos valores de concentração para os compostos 1,2-DCE, TCE, cloreto de vinila e cloretos no poço fonte da contaminação e para um poço de monitoramento de jusante.
Dr. Michel W. Kohnke é consultor senior da Waterloo
Hydrogeologic Inc. |
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