Atenuação Natural de Contaminantes
Metodologias para a Delimitação do Perímetro de Proteção de Poços (PPP)

    O Perímetro de Proteção de Poços (PPP) e de obras de captação de águas subterrâneas pode ser definido como "a área de superfície e subsuperfície circundando um poço, nascentes ou campo de poços, que abastecem um sistema público, na qual existe uma grande probabilidade de contaminantes presentes se movimentarem e atingirem os mesmos". Os PPP's são traçados com o intuito de restringir, total ou parcialmente, a ocupação humana ou atividades potencialmente poluidoras nas suas áreas de recarga. Toda área que contribui com água para estes poços e nascentes faz parte do PPP que é também chamada de zona de captura.

    O tamanho e a forma dos PPP's dependem das características hidrogeológicas do sistema aqüífero e do dimensionamento e características operacionais do sistema de bombeamento. Dentro dos PPP's podem ser identificadas diferentes zonas definidas de acordo com o enfoque e as determinações ambientais.

    O "Wellhead Protection Advisory Committee" do estado de Wyoming (EUA) divide os PPP's em três zonas: accident prevention zone ou sanitary protection zone (zona 1), attenuation zone (zona 2) e remedial action zone (zona 3).
A zona 1 é a área mais crítica e que tem a função de proteger o poço ou nascente no seu entorno próximo. Qualquer contaminação causará o imediato desligamento do poço ou nascente do sistema de captação, portanto, sendo necessário um intenso monitoramento da mesma. Esta zona se estende ao redor do poço de bombeamento ou nascente sendo o raio de aproximadamente 30 m (Z1=A1 (área ao redor do poço ou nascente)).

    A zona 2 foi estabelecida para proteger o poço do contato com microorganismos patogênicos (bactérias e vírus) que possam estar vindo, por exemplo, de uma fossa séptica localizada nas suas proximidades, como também prover tempo para uma ação emergencial, no caso de uma contaminação nesta zona. Esta zona considera um tempo de percurso de partículas de em média dois anos, tempo para que as mesmas, quando lançadas no perímetro desta zona, atinjam o poço de bombeamento (Z2=A2-A1).

    A zona 3 é definida como a zona de ações de remediação e possui a finalidade de proteger o poço de contaminantes que possam migrar para o mesmo num período mais largo de tempo. Esta zona normalmente inclui uma grande parte da zona de recarga do poço, e é extensa o suficiente para que haja tempo para uma ação de remediação e o desenvolvimento de uma nova fonte de abastecimento. Esta zona considera um tempo de percurso de partículas de em média 5 anos, tempo para que as mesmas, quando lançadas no perímetro desta zona, atinjam o poço de bombeamento (Z3=A3-A2-A1).

    Na Alemanha também são definidas três zonas dentro dos PPP's, sendo os princípios aplicados muito similares aos do estado de Wyoming. A zona 1 se estende por 10 metros ao redor do poço de bombeamento ou nascente. A zona 2 compreende um tempo de percurso de em média 50 dias (tempo para que bactérias e vírus morram). A zona 3 se estende por no mínimo 2 km e considera toda a área de captura do poço.

    A agência reguladora ambiental norte-americana EPA (Environmental Protection Agency) reconhece uma grande variedade de técnicas para delimitação de Perímetros de Proteção de Poços, que vão desde metodologias bem simples até a utilização de complicados modelos numéricos. A técnica a ser empregada depende da experiência do aplicador da tecnologia, dos recursos disponíveis, dos dados existentes e coletados no campo, e, do desejado fator de segurança quanto à proteção da área.
A metodologia selecionada influenciará por sua vez o volume e tipo de informações adicionais necessárias para sua aplicação.

    As técnicas reconhecidas pela EPA, da mais simples para a mais sofisticada, são:

1. Raio fixo arbitrário
2. Raio fixo calculado
3. Formas variáveis simples
4. Modelos analíticos
5. Modelos numéricos de fluxo e transporte

   Todas estas metodologias podem ser aplicadas para um dado caso tendo vantagens e desvantagens. A metodologia que vem sendo aplicada cada vez mais, e que oferece uma margem de segurança maior na delimitação das PPP's, são os modelos numéricos de fluxo e transporte.

Modelos Numéricos de Fluxo e Transporte

    Modelos numéricos permitem considerar e representar de maneira apropriada aspectos complexos dos sistemas aquíferos de subsuperfície. Alguns modelos numéricos utilizam modelos analíticos para calcular o transporte de contaminantes, ligando o modelo de transporte analítico ao modelo numérico de fluxo, que calcula resultados de processos de advecção e dispersão dentro dos aqüíferos. Os modelos numéricos requerem uma quantidade relativamente grande de informações, principalmente se os mesmos possuem componentes analíticos. Para que o modelo numérico seja confiável, o número de células deve ser alto em regiões onde ocorrem grandes variações nos gradientes e características hidrogeólogicas. Isto faz com que o custo de modelos numéricos seja maior, havendo ainda a necessidade da utilização de um computador apropriado. A experiência do modelador é outro aspecto importante, pois o mesmo precisa saber reconhecer as limitações da aplicabilidade do modelo, aumentando o custo do trabalho.

    Dentre os modelos numéricos de fluxo de águas subterrâneas que tem tido uma aceitação mundial excepcional figura o MODFLOW (desenvolvido pela USGS) para o qual foram desenvolvidos pré- e pós-processadores (VISUAL MODFLOW PRO, PMWIN, GMS, etc.).

    MODFLOW é um modelo numérico de águas subterrâneas tridimensional baseado na metodologia de diferenças finitas, contendo diversos módulos para representar poços, drenos, rios, evapotranspiração, infiltração, etc. MODFLOW simula condições estacionárias e transientes de fluxo para aquíferos livres confinados ou semi-confinados. As condutividades hidráulicas, coeficientes de armazenamento e transmissividades atribuídos às diversas camadas podem ter distribuição isotrópica ou anisotrópica. MODFLOW pode ser utilizado para simular condições de contorno do tipo nível de água e fluxo especificados ou fluxo dependente dos níveis de água no exterior da área modelada.

    MODFLOW foi desenvolvido para simular fluxos de águas subterrâneas na zona saturada em aqüíferos porosos, sendo tanto a temperatura como a densidade do líquido uniformes por toda área modelada. MODFLOW não pode ser utilizado para simular fluxos dependentes de densidade, ondas de calor ou fluxo multifásico (por exemplo DNAPL+Água, Vapor+Água, etc.).

    O programa MODPATH, que simula a movimentação de partículas de acordo com o fluxo calculado por MODFLOW, é a ferramenta utilizada em conjunto com o modelo de fluxo de águas subterrâneas para a determinação dos PPP's. A figura 1 mostra como através de partículas pode-se determinar uma PPP.

    Um dos procedimentos importantes, e, que deve ser considerado em uma avaliação da exploração de recursos hídricos, é a identificação da vulnerabilidade do sistema aqüífero. Neste procedimento são identificadas áreas onde o aqüífero se encontra exposto, o solo é muito permeável e existem fraturas ou estruturas do tipo karst. Estas áreas precisam ser mapeadas, pois tornam o sistema aqüífero vulnerável à contaminações vindas da superfície/subsuperfície. A intersecção destas áreas com as áreas dos PPP's produz novas áreas, que podem ser consideradas áreas em que o risco de contaminação do sistema de captação de águas subterrâneas é o maior (vide figura 2).

Figura 1


Figura 2

Olho: Modelos numéricos permitem considerar e representar de maneira apropriada aspectos complexos dos sistemas aqüíferos de subsuperfície

Dr. Michel W. Kohnke é consultor senior da Waterloo Hydrogeologic Inc.
Tel: 1 (519) 746-1798 R.241 (Waterloo, Canada)
(11) 3030-9344 (São Paulo)
E-mail: mkohnke@flowpath.com

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