Há mal que vem para o bem

    No silêncio da madrugada o desenvolvimento era pura monotonia. Monotonia para Felizardo e seu auxiliar que dormia a sono largo: calejados que estavam com aquele tipo de trabalho. No entanto, para Feliciana era uma quebra na mesmice em que vivia afogada. A princípio o que mais lhe chamou atenção foi o vomitar de jatos intermitentes de água (ainda suja), impostos pelo descompassado pulsar do desregulado motor - força motriz do compressor de ar. Algumas horas depois, já ao cair da tarde, Feliciana aos poucos desprezava o feitiço do jato de água, mais e mais limpo, volumoso e contínuo. Sucumbia aos encantos de Felizardo que do alto - ou seria do baixo? - de seu metro e cinqüenta e um de estatura, peito estufado e voz impostada, ocupava-se de explicar, com requintes de detalhes envolvidos em gestos cênicos, a física do processo. Mas nas primeiras horas da noite desiludiu-se com a falta de correspondência ao seu olhar lânguido, ao seu semblante de peixe morto. Valorizou sua investida amorosa com uma saída à francesa e horas depois chacoalhava freneticamente sua compleição anoréxica no principal salão de dança da cidade. Evidentemente, em carreira solo. É que em ambiente farto de adolescentes e mulheres jovens, bonitas e anatomicamente bem aquinhoadas, não sobrava homem disposto a deslizar pelo palco numa contradança com Feliciana. Aí, lamentando a falta de cavalheirismo dos "candidatos" a Fred Astaire que a circundavam, antes mesmo que as ensurdecedoras caixas de som silenciassem, ela deixou o festivo ambiente.

     Entrou em casa e foi direto ao banheiro. Não havia água na torneira e no seu entender não era de boa higiene ir para a cama com restos de "frango a passarinho" na boca (tira-gosto filado na mesa de uma conhecida dela que em troca de certas liberdades e pífios afagos sangrava o bolso do coroa dono da firma de perfuração). Pensou e concluiu: "A solução é o poço em limpeza". Inclusive aproveitava para revitalizar o contato com Felizardo. Aí pôs o creme dental na escova e... : "Quem sabe expondo-se mais Felizardo não teria outros olhos?". A pretexto de um revigorante banho colocou o fio dental e, ainda cambaleante, as "cubas libres" também a expensas do cinqüentão empresário haviam-na deixado meio tonta, seguiu serelepe a assobiar. Forçando indiferença, sem contudo se descuidar nos requebros, passou em frente a Felizardo e foi direto ao ponto de descarga do compressor. Com a mão esquerda sacou a dentadura postiça superior e tendo na direita a escova, principiou o asseio do artefato bucal. Mas por um lapso de pura falta de sorte, isto ocorreu no exato momento em que a emulsão resultante de uma reversão emergia, com violência, na boca do tubo. A perda foi inevitável. Teve lugar um escarcéu que se encarregou de acordar as quadras vizinhas. Que chamou a atenção de quantos procedentes da festa, por ali retornavam às suas casas. De forma que só ao raiar do dia foi que Feliciana, banguela, mas feliz da vida, decretou o fim da busca em sarjetas, galerias e bocas de lobo. Dispensou a solicitude dos transeuntes e devolveu aos importunados vizinhos, não adeptos a festas, o sagrado direito de concluir o prematuramente interrompido sono. Feliciana acabava de incinerar com as chamas da paixão, o transtorno da perda da dentadura. Tinha o coração sincronizado com o ritmo do compressor, enquanto se desfazia em carícias, e entregava a boca murcha aos beijos de desentupir pia de Felizardo.

Bernivaldo Carneiro é geólogo / sanitarista da FUNASA/CE
e escritor (romancista, cronista e contista)
E-mail: hidrogeologia.funasa@bol.com.br


 

CBH-TG busca o uso racional de água

    No mês de novembro, o CBH-TG (Comitê de Bacia Hidrográfica do Turvo/Grande) elaborou um projeto para uso racional de água, prioridade em 2002 na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O projeto terá um ano de duração e será composto de seminários, cursos, distribuição de cartilhas à população e divulgação em imprensa local. Os seminários e cursos não serão centralizados em São José do Rio Preto, já que a bacia é composta por 64 municípios.

    O primeiro alvo serão as empresas de abastecimento de água, convidadas a adotarem medidas que diminuam as perdas de água, com ênfase nas vantagens econômicas. Para o consumidor rural, será incentivado, pelo menos em culturas permanentes a técnica de irrigação por gotejamento, além da pretensão de que sejam elaborados cursos para técnicos das secretarias de agricultura. Nos sistemas prediais, a proposta é dividir os seminários em duas faixas; usuários comerciais e industriais e profissionais ligados à construção civil.

Geóloga Cristiane Guiroto
Fone: (17) 222-3509 e
232-8094

 

Aldeias do Amapá receberão água tratada

    O Governo do Amapá, em convênio com a Funasa vai investir R$ 297.536 na instalação de micro-estações, com bombas acionadas por energia solar e equipamento simplificado de cloração, que permitirão um tratamento eficaz da água captada em poços amazonas e artesianos. No total, 511 indígenas waiãpi do Amapari serão beneficiados.

    Os waiãpi são um povo nômade de língua tupi que vivem da pesca, da caça e da agricultura de subsistência. Na terra Indígena waiãpi (veja mapa ao lado) existem 14 aldeias permanentes e dezenas de acampamentos temporários.

    Os Waiãpi temem a diarréia causada pela contaminação das águas dos rios e igarapés, que já provocaram mortes de crianças. O abastecimento das aldeias através dos poços tubulares tem como objetivo fornecer água de qualidade às aldeias e acampamentos.

 

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