Dessalinização de água subterrânea

    Conheça todos os processos da osmose reversa, a tecnologia mais viável para a dessalinização de poços
A água subterrânea captada através de poço tubular profundo é, segundo dados econômicos, a opção de menor custo e a que oferece, em grande parte dos poços, água de melhor qualidade para abastecimento público, desde que essa água exista em quantidade compatível com a demanda necessária para cada situação e que atenda os padrões físico-químico e bacteriológicos recomendados. Temos no Brasil importantes cidades abastecidas total ou parcialmente com água subterrânea: Recife, Maceió, Teresina,Ribeirão Preto, Natal, Belém, entre outras. Na Bahia temos as cidades do Recôncavo; Alagoinha, São Sebastião do Passe, Catu, ressaltando-se também a importância de água subterrânea para o Pólo Petroquímico de Camaçari.

    Cerca de 80% dos sistemas de abastecimento de água para o Estado de São Paulo são provenientes de poços, contribuindo decisivamente para a queda das taxas de mortalidade infantil em razão da melhor qualidade d'água oferecida à população. Porém, apesar dessa forte justificativa, essa alternativa é pouco utilizada no Brasil. Enquanto os Estados Unidos perfuram cerca de 800 mil poços/ano, no Brasil chega-se no máximo a 10 mil/ano. Quando os poços são bem sucedidos com vazão e qualidade de água com os limites mínimos para sua exploração, podem surgir os Sistemas de Abastecimento de Água Potável.

    Todavia, muitas vezes, as tentativas de novos sistemas são frustradas em razão da alta salinidade da água dos poços. Estima-se que no Nordeste existam mais de 30.000 poços com vazão superior a 2.000 litros/horas, mas a água apresenta salinidade média de 5.000 mg/l contra os 500 mg/l estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para consumo humano. Os técnicos apontam o clima como principal fator de salinização.

    Quando maior a evaporação potencial e menor a precipitação anual, maior a predominância de água com alto de teor salino. Maior ou menor circulação da água pelas fraturas nas rochas, áreas altas e baixas são os outros fatores citados. Centenas de municípios no Nordeste possuem dezenas de poços salinizados em suas comunidades, distantes 20,30 e até 200 Km da sede ou captação mais próxima.

    Nesses casos, o caminhão pipa passa a ser a única fonte de abastecimento dessas localidades, acarretando considerável ônus a essas prefeituras que chegam na seca a comprometer e a totalidade do orçamento para pagar despesas com o fornecimento de água, restando apenas aos prefeitos a mendicância política ao Governo Federal, já que os governos estaduais alegam não dispor de recursos suficientes.

    Osmose reversa: A osmose reversa é a única tecnologia viável para a dessalinização de poços. Embora existam diferentes processos de dessalinização como destilação, congelamento, eletrodiálise e troca iônica, a osmose reversa foi eleita no mundo como a que reúne a melhor aplicabilidade para instalação em poços tubulares, principalmente nas áreas rurais: Desde aspectos ambientais por não gerar efluentes químicos, praticidade de instalação e operação, osmose reversa é a única tecnologia capaz de alcançar qualidade de água isenta de vírus e bactérias, condição esta não permitida quando aplicadas somente processos à base de voltagem elétrica e troca iônica (resinas e eletrodiálise). O princípio de osmose reversa e a tecnologia de membranas são recomendados para recuperação e instalação de sistemas de abastecimento em comunidades carentes de água potável, através da instalação de dessalinizadores.

    A água tratada através da dessalinização adquire após processo não só o padrão químico de potabilidade adequada como também bacteriológicamente apresenta aspectos límpidos quanto a cor, cheiro e gosto, em razão da eliminação prévia de presenças indesejadas como matéria orgânica, detritos e sólidos em suspensão, comumente encontradas em água represadas de açudes, barreiros cisternas e reservatórios naturais. Com o dessalinizador temos um custo inferior a R$ 0,30 por m3 de água potável, cerca de 20 vezes menor que o caminhão pipa, que chega a R$ 6,00, sem considerar as perdas durante a viagem. O custo operacional é menos de um salário mínimo mensal para suprimento de filtros de cartucho, custo de elétrica, entre outras pequenas despesas.

    O poço dificilmente deixa de produzir água. O que pode haver é a deterioração dos seus equipamentos e tubulação de bombeamento, portanto, o dessalinizador é uma solução definitiva. Se posteriormente houver disponibilidade de um manancial, seja barragem, açude, adutora, enfim outra solução que se apresente naquele local como mais conveniente que o sistema existente, desmonta-se o dessalinizador para instalá-lo em outro local em que a nova solução ainda não tenha chegado. Estatísticas apontam que há no Nordeste disponibilidade atual de 300 mil m3 d'água salinizada de poços inativos que potencialmente abasteceriam mais de 12 milhões de habitantes do semi-árido castigado pela seca.

    Acompanhe abaixo o roteiro para a instalação de dessalinizadores num poço artesiano:

    Local - Num poço que produza água salobra ou, com excesso de flúor, sulfatos, "pesada" e imprópria para o consumo humano, animal, ou mesmo para irrigação selecionada. O sistema poderá ser "aberto" ou "fechado". Aberto é quando bombeia-se água do poço para um reservatório e deste para o dessalinizador, enquanto o sistema fechado elimina o reservatório intermediário.

    Capacidade e recuperação - A capacidade dos dessalinizadores é dimensionada de acordo com a necessidade da população, e com a quantidade de água bruta (salgada) disponível. É possível fabricar dessalinizadores desde 1.000 litros/dia até capacidades necessárias para abastecer médios e grandes sistemas. Pode-se, inclusive padronizar dessalinizadores para 4,12,25,50,75,100 e 150 m3/hora de água potável. A recuperação da quantidade de água salinizada depende do projeto, podendo variar entre 35% (água do mar) a 80% (água salobra com projeto de maior área de membranas).

    Abastecimento - No caso de um poço que produz 48 mil litros de água salobra por dia, se consideramos 25 litros por pessoa, termos cerca de 1000 pessoas atendidas todos os dias. Quanto maior a necessidade ou o consumo por pessoa, maior a vazão deverá ter o poço e maior capacidade deverá ter o dessalinizador.
Comunidades rurais que têm acima de 100 pessoas e possuem um poço com água salobra, podem ter água potável nos prazos mínimos de 15 dias e máximos de 90 dias, e para vida toda, com um dessalinizador operado por um habitante da comunidade, orientado pela empresa responsável pela venda do dessalinizador.

    Custo - O custo do dessalinizador é variável, em função da vazão de água potável desejada (1000/2000 litros/ hora) e da qualidade da água bruta a ser tratada. Citamos, como exemplo, um custo médio de aproximadamente R$ 15.000,00 para sistemas a energia elétrica. Para energia solar deve-se adicionar os custos das placas formadas pelas industrias especializadas é considerar vazões médias de até 10 mil litros/dia para viabilizar o custo/beneficio.

    Auto sustentação econômica - Como forma de eliminar as práticas paternalistas e clientelistas, muito comum no Brasil, recomenda-se a auto sustentabilidade para manutenção e operação dos sistemas instalados. No caso dos sistemas simplificados de abastecimento de água potável com dessalinizadores, pode-se aproveitar o efluente concentrado de sal para criação de tilápias, camarão, irrigação nas plantas halófitas atriplex e erva-sal. A Embrasa Petrolina (PE) tem desenvolvido amplos estudos e testes sobre o assunto e deve ser complementada a respeito.

    Manutenção - Entendemos que a implantação de um programa de operação permanente dos poços existentes deve ser a prioridade no conjunto de medidas de convívio e combate à seca. Tornar cada sistema de água subterrânea, urbano ou rural, como centro de referência de qualidade de água trará o merecido respeito ao setor que a ABAS congrega e desenvolverá a pressão política de baixo para cima, isto é, a população mais carente passará a valorizar a água potável como absolutamente imprescindível à sua sobrevivência.

Nelson O. Guanaes
E-mail: perenne@perenne.com.br

 
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