Piauí tem desperdício de água com poços decorativos

    A cada 24 horas, a população piauiense deixa de aproveitar uma quantidade de água suficiente para encher 168 piscinas de dimensões olímpicas

    Cerca de 500 mil pessoas sofrem com a seca no sertão do Piauí, enquanto 15 milhões de litros de água são desperdiçados por hora no mesmo estado. Pelo menos 15 milhões de litros de água própria para o consumo humano e para a irrigação são desperdiçados por hora no vale do rio Gurguéia, no Piauí, Estado com mais de um terço de seu território dentro do polígono da seca. A água jogada fora jorra a céu aberto, como gêiseres artificiais, por cerca de 500 poços abertos ao longo do vale. Os poços têm função meramente decorativa. São como chafarizes a embelezar a paisagem.

     A cada 24 horas, ininterruptamente, a população piauiense deixa de aproveitar uma quantidade de água suficiente para encher 168 piscinas de dimensões olímpicas (que tem 50 m de comprimento, 22 m de largura e 2 m de profundidade). É difícil avaliar o quanto se deixa de plantar e colher por causa da falta de aproveitamento dessa água. Um exemplo impressiona: os habitantes do vale, a área mais fértil do Piauí, comem verduras trazidas de Pernambuco e da Bahia. No vale, ninguém planta verduras em quantidade suficiente para abastecer o mercado local. Nos primeiros dez dias de dezembro, a seca no leste do Piauí, na altura das divisas com Pernambuco e Ceará, afetava a população de 30 municípios, cujos prefeitos chegaram a esboçar uma decretação conjunta de estado de calamidade. Cerca de 500 mil pessoas estão sofrendo com a falta de água no sertão piauiense.

     Fartura - A 300 km dali, no sudoeste do Estado, a água é farta. Basta furar um poço que atinja o lençol freático para o líquido subir à superfície sem que seja necessária a utilização de bombas de sucção ou outros equipamentos do mesmo gênero. O rio Gurguéia nasce próximo à divisa com o Estado do Tocantins, segue em direção ao norte piauiense por 600 km, acompanhando a serra do Uruçuí, e desagua no rio Parnaíba, junto à cidade de Floriano (a 260 km de Teresina). A área dos poços jorrantes se concentra na altura dos municípios de Cristino Castro, Bom Jesus, Alvorada do Gurguéia, Palmeira do Piauí e Colônia do Gurguéia, a distâncias que variam de 550 km a 700 km da capital do Estado. Quem segue pela rodovia Transpiauí (BR-135) tem a oportunidade de avistar os poços. Os donos das terras da região costumam perfurá-los às margens da estrada. Pelos cálculos do governo do Piauí, nem 20% das águas que jorram no vale do Gurguéia são aproveitadas. "A questão da água naquela região é um desperdício grande há muito tempo, desde a década de 70, quando os primeiros poços foram abertos. A água deveria ser aproveitada para a irrigação das terras", disse o vice-governador do Estado, Osmar Ribeiro de Almeida Júnior (PC do B).

    Melancias - A falta de orientação técnica sobre como perfurar a terra com segurança e sobre as formas de irrigar as lavouras é a principal justificativa dos agricultores da região para o não aproveitamento da água dos poços jorrantes. O lavrador João Rodrigues Xavier, 67, perfurou um poço no terreno em que vive no cerrado piauiense, na margem direita do Gurguéia. Seu objetivo era ter água para irrigar uma plantação de melancias. Sem conhecimento da técnica ideal, Xavier construiu o poço de modo equivocado. No primeiro jorro, o poço ruiu e tamponou a passagem da água. O lavrador voltou ao método antigo de irrigação, em que aproveita a água da chuva. "Foi Deus que quis que o poço desmoronasse. A gente vai levando da forma que pode", afirmou ele, resignado.

olho: A água jogada fora jorra a céu aberto, como gêiseres artificiais, por cerca de 500 poços abertos ao longo do vale

Fonte: site ANA - Agência Nacional de Água
e site www.perfuradores.com

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