Uso eficiente da água: fator
competitivo do mercado
Os exemplos do uso eficiente e integrado da
gota d'água disponível, como fator competitivo do mercado,
são cada vez mais freqüentes no mundo. Entretanto, apesar
do Brasil ostentar a maior descarga de água doce do mundo nos
seus rios apresenta problemas de abastecimento decorrentes do mau uso
das suas águas.
Todavia, apesar de se extrair livremente
água de um rio, açude ou de um poço, esta tem um
preço - de bombeamento pelo menos - que é fator competitivo
do mercado. Como corolário, os métodos tradicionais pouco
eficientes de irrigação, tais como espalhamento superficial,
pivô central e aspersão convencional, vem sendo substituídos
por outros mais eficientes, tais como o gotejamento e a microaspersão.
No meio urbano, esta percepção induz a substituição
de equipamentos domésticos obsoletos, tais como bacias sanitárias
que necessitam de 18 - 20 litros por descarga por modelos mais modernos
que usam apenas 6 litros de água, as torneiras de rosca são
substituídas por modelos de fechamento automático, já
não se tolera a baixa eficiência das empresas de abastecimento,
cujas perdas totais da água captada, tratada e injetada nas redes
de distribuição situam-se entre 30% e 70%, enquanto ficam
entre 5 e 15% nos países mais desenvolvidos. Por sua vez, as
águas subterrâneas são, prioritariamente, reservadas
ao consumo humano, tendo em vista a sua potabilidade natural resultar
em menores custos de utilização, enquanto as de menor
qualidade são utilizadas nas atividades urbanas, industriais
e irrigação, principalmente. Além disso, campanhas
permanentes de informação - tanto nas cidades, na industria
e no campo - ensinam a usar de forma cada vez mais eficiente à
gota d'água disponível.
Outro fator importante é que,
enquanto nos países ricos a água é um recurso natural
essencial à boa qualidade de vida e aos negócios, nos
países pobres é, geralmente, considerada um recurso natural
vital à subsistência das pessoas. Entretanto, já
se percebe em muitas regiões pobres do mundo que produzir frutas
e flores é a solução mais viável. Assim,
verifica-se que irrigar arroz, cana de açúcar e outras
culturas tradicionais no Nordeste semi-árido brasileiro não
é somente um crime ambiental, mas, sobretudo, uma burrice econômica.
Por sua vez, verifica-se que esta região apresenta a peculiaridade
de ser uma estufa climática natural, onde a ocorrência
de secas ou de chuvas muito irregulares é uma oportunidade de
se ganhar mais dinheiro. A nossa grande vantagem é que se tem
cerca de três mil horas de sol por ano, o que possibilita a obtenção
de várias safras de flores e frutas. Além disso, o ciclo
da flor - entre a germinação e o corte - é de apenas
45 dias, contra 75 dias em São Paulo, por exemplo. Por sua vez,
enquanto em São Paulo a produção é de 120
botões de rosa por m2, no Ceará, por exemplo, chega-se
a 200.
Neste quadro, a água subterrânea
tem um papel cada vez mais relevante, à medida que é o
recurso d'água doce disponível mais abundante da Terra,
relativamente protegido dos efeitos de secas, mais barato e acessível
aos meios técnicos e financeiros existentes. Efetivamente, em
função dos progressos alcançados pelos métodos
e equipamentos de perfuração, a performance crescente
das bombas e a expansão da oferta de energia elétrica,
já não há limites técnico e econômico
para se extrair água dos aqüíferos da Terra, até
dos mais profundos e confinados. Entretanto, torna-se necessário
evoluir da idéia de que a escassez local e eventual de água
se combate com o aumento da sua oferta - mediante a construção
de obras extraordinárias de captação, tratamento
ou de poços - para o fato de que o uso cada vez mais eficiente
e integrado da gota d'água disponível é, regra
geral, a alternativa mais barata.
olho: Apesar de se extrair livremente água de um rio, açude
ou de um poço, esta tem um preço - de bombeamento pelo
menos - que é fator competitivo do mercado
Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências,
Pesquisador Inst. Estudos Avançados-Universidade de São
Paulo
Consultor Secretaria Nacional de Recursos Hídricos
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