A mineração e seus vizinhos

A Mina de Águas Claras e o Parque das Mangabeiras

    A Mina de Águas Claras está localizada no flanco sudeste da Serra do Curral bem ao lado de Belo Horizonte. No flanco noroeste da serra encontra-se o belíssimo Parque das Mangabeiras, que foi também uma antiga mina de ferro, a Ferrobel, que pertencia à Prefeitura de Belo Horizonte. Não sei avaliar se a Ferrobel foi um empreendimento produtivo ou não! A questão é que ela preservou para o futuro as matas do parque, que poderiam estar hoje urbanizadas pelas mansões do vizinho bairro das Mangabeiras ou pelas casinhas da Vila do Cafezal.

     Águas Claras entrou em plena operação em 1972 e em 1981 a mina encontrou o nível d'água na cota 1165 metros. Em 1989, se iniciou o rebaixamento do nível d'água com o uso de poços tubulares. Finalmente em 2001 foram encerradas as operações de rebaixamento, encontrando-se o nível d'água do Aqüífero Cauê abaixo da cota de 900 metros. Assim, em 20 anos o aqüífero foi localmente rebaixado em 265 metros.

    O Parque das Mangabeiras foi implementado no inicio dos anos 80, em meio a uma das mais fortes seqüências de anos chuvosos dos últimos 150 anos. A memória dos funcionários e usuários do parque teve como referencial um período de abundância de águas. Em junho de 1990, após uma seqüência de 5 anos secos, acaba a aparente fartura de água e o rebaixamento do nível d'água é colocado sob suspeita.

    Para entender o ocorrido foram iniciados estudos hidrogeológicos acompanhados de um trabalho de monitoramento participativo (que procurou envolver o pessoal do parque). Hoje, com a mina já em processo de descomissionamento, sabemos que todo o rebaixamento efetuado do outro lado da serra não afetou as nascentes do parque. Do ponto de vista hidrogeológico, a explicação é simples: a mina e o minério estão no Aqüífero Cauê e as nascentes do parque formadas por águas subterrâneas no Aqüífero Cercadinho e entre ambos aqüíferos há um aquifugo, o Gandarela.

    Entretanto, explicar isso para os leigos não foi nada fácil mas, na medida em que o monitoramento foi avançando no tempo as coisas esclareceram-se para todos. Junto com este texto seguem duas figuras que ajudam a entender melhor o problema. Uma das figuras são os dados de um dos mais antigos pluviômetros do Brasil, da lendária Mina do Morro Velho em operação desde de 1855. A outra é o hidrograma das nascentes do parque que reproduz as seqüências de anos secos ou chuvosos.

    O caso de Águas Claras é o de uma das primeiras minas em desaguamento no Brasil. Atualmente os procedimentos são mais preventivos ou seja, procura-se iniciar o monitoramento em conjunto com a drenagem das águas subterrâneas da mina. A ABAS-MG está preparando para o primeiro semestre de 2002 um seminário sobre o tema, onde surgirão propostas de procedimentos importantes para a convivência do rebaixamento do nível d'água das minerações com os seus vizinhos.

olho: O caso de Águas Claras é o de uma das primeiras minas em desaguamento no Brasil

Antônio Carlos Bertachini
é Geólogo, Sócio da MDGEO Serviços de Hidrogeologia Ltda.,
empresa especializada em hidrogeologia aplicada à mineração
e-mail: mdgeo@gold.com.br

 

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