Mercado atual e futuro da perfuração de poços

Estudo mostra que no mercado brasileiro de perfuração predominam as empresas informais de pequeníssimo porte, que não estão submetidas a nenhum encargo social. O desemprego é o principal mecanismo desse tipo de atuação econômica.

    O geólogo Arnaldo Correia Ribeiro, sócio-gerente da Hidrocon e ex-presidente nacional da ABAS, foi protagonista de um dos melhores momentos do XII Encontro Nacional de Perfuradores de Poços de Recife, com a discussão do mercado atual e futuro da perfuração de poços no Brasil. O trabalho provocou a integração dos participantes e muitas discussões acaloradas. O ABAS INFORMA traz nesta edição (com base no trabalho) um panorama do mercado da perfuração, com a discussão do tema nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

     Arnaldo mostra que nas condições atuais, a utilização da água subterrânea no Brasil, vem crescendo de maneira significativa, provavelmente em taxas superiores a da própria economia como um todo. No entanto, pode-se afirmar que a mesma ainda não atingiu um nível de divulgação adequado e continua sendo um recurso natural completamente desconhecido e marginal ao planejamento econômico do país. Em conseqüência, o mercado de perfuração de poços ainda não atingiu sua plena maturidade. As vantagens da utilização da água subterrânea são ignoradas pelos planejadores, pelos projetistas e principalmente pelo grande público, os usuários consumidores.

    O domínio dos mecanismos de proteção, os procedimentos de uso racional, os modelos de explotação e até mesmo as mais simples técnicas da perfuração de poços tubulares profundos são informações desconhecidas por uma grande parte da população, inclusive por alguns perfuradores de poços. É absolutamente indispensáveis estudos aprofundados para sedimentar os conhecimentos fundamentais, promover uma ampla e maciça divulgação da água subterrânea e possibilitar dessa forma, a indispensável sustentação ao aparecimento de um mercado estável e sólido de perfuração de poços. Ainda está para acontecer o uso intensivo e preferencial da água subterrânea no Brasil. O máximo que ocorre atualmente são concentrações de demandas localizadas e sazonais, ora movidas pela tragédia das secas nas regiões semi - áridas e ora por efeitos artificiais dos interesses eleitoreiros.

    As empresas, de um modo geral, sempre em crise vagando de norte a sul ou melhor, mais especificamente de sul a norte do país em constantes deslocamentos, buscando atividades nas demandas localizadas, sem público alvo definido e sem área de atuação estabelecida. "Considerando a gama de problemas, em todos os níveis e sob todos os aspectos, que envolvem o mercado de poços tubulares brasileiro, é preciso que os setores interessados se disponibilizem a sentar, discutir e equacionar esses problemas, ou não haverá futuro na perfuração de poços no Brasil", lembra Arnaldo Correia Ribeiro.

    Mercado Brasileiro Atual - De um modo geral, as demandas de serviços são oriundas fundamentalmente de duas fontes principais, aqui chamadas de mercado público e mercado privado. Em função das características geoeconômicas do continente Brasil, com uma marcante desigualdade de poder econômico, esses mercados reagem de forma específica a depender da região em análise. No Norte/Nordeste, o mercado público, o mais importante, caracteriza-se como um mercado extremamente sazonal movido pela política do governo de investimentos nas áreas sociais.

     Tais investimentos normalmente muito restritos e naturalmente muito aquém das necessidades estabelecidas, são gerenciados pelas companhias federais ou estaduais de saneamento e pelos agentes financeiros tipo bancos oficiais de desenvolvimento. Neste caso, inexiste uma política permanente de atuação no setor. Os eventuais recursos são aplicados em programas especiais de combate as secas ou de caráter eleitoral como já foi dito.

     Os gestores ao administrarem tais recursos, interferem de modo significativo nas relações de mercado. As companhias estatais atuam também como empresas de perfuração de poços e, ou não utilizam as empresas privadas nos programas oficiais, ou o fazem apenas de forma complementar. Nesse caso sobra para a iniciativa privada uma parcela pequena do programa e algumas vezes constituída pelas chamadas áreas operacionalmente problemáticas. Nota-se atualmente entretanto, uma forte tendência de afastamento das empresas estatais com relação às atividades de perfuração de poços com execução direta. Está diminuindo finalmente os efeitos do Estado concorrente.

     Por outro lado, os bancos oficiais de desenvolvimento repassam esses recursos para as chamadas "associações de produtores rurais" que contratam os "CAVADORES DE POÇOS", também comuns nas demais regiões do país. Não existe nenhuma exigência dos bancos com relação às qualidades técnicas ou aos aspectos legais das empresas contratadas e muito menos com o produto resultante. O resultado final é uma relação custo / benefício absolutamente indesejável, ao qual se soma os efeitos de um passivo ambiental de dimensões assombrosas, e que, mais cedo ou mais tarde, provavelmente mais cedo, será cobrado da sociedade. Sem dúvida vai se repetir aqui mais uma vez, a tônica da socialização dos prejuízos.

    Com relação às ações de financiamento de poços tubulares a impressão é que, por se tratar de pequenas operações não há qualquer interesse por parte dos bancos em viabilizar os empréstimos, tal o nível de exigência aos produtores. Numa das últimas tentativas de financiamento de poços tubulares a pequenos produtores rurais do Nordeste, o ônus dos eventuais poços secos é obrigatoriamente assumido pelo perfurador, não cabendo nenhuma parcela nem ao banco federal nem ao órgão estadual envolvido no programa. Por outro lado no Nordeste, o mercado privado é, por conta das características econômicas da região, extremamente restrito na área industrial e inexistente na zona rural, caracterizando aí uma faixa de mercado com bastante tendência à inadimplência.

     Ocasionalmente ocorrem situações especialíssimas de demanda localizada, como o caso recente de Recife. Nessas oportunidades proliferam as empresas informais, eventuais e clandestinas segundo alguns, praticando preços aviltados e gerando produtos de baixa qualidade técnica, acarretando uma inevitável desqualificação do mercado, e, repetindo-se aqui os graves problemas de contaminação e salinização de aqüíferos, com danos significativos aos recursos hídricos da região. Situações assim são objeto de diversas denúncias por parte de profissionais ligados a universidades e aos órgãos ambientais.

     O mercado público no Centro Sul como em todo o resto do país está praticamente paralisado ou caminha vagarosamente. A União tem deixado de investir em saneamento básico. As companhias estatais e municipais de saneamento deixaram de aplicar recursos de forma sistemática na ampliação e melhoria de produção dos sistemas. A julgar por declarações recentes de alguns perfuradores, também no sul estão apostando na seca para a estimulação do mercado de uma maneira geral. As estatais pelas razões expostas, atualmente não efetuam contratações de poços e por conta desses aspectos, as empresas de perfuração focam os seus objetivos para o mercado privado, representado pelas indústrias, pelos estabelecimentos comerciais, pela indústria dos pipeiros (carros pipa), pelos condomínios residenciais e pela atividade agrícola no meio rural.
Também esse setor do mercado, apesar da diferença de poder aquisitivo do Centro Sul com relação às outras regiões do país, apresenta-se bastante recessivo, por decorrência da permanente crise econômica brasileira. Em resumo o mercado brasileiro de perfuração de poços tubulares, qualquer que seja a região de referência, é o espelho e a conseqüência imediata das condições geradas pela crise econômica do país.

    O perfil das empresas em atuação no setor

    Predomina no mercado brasileiro, empresas informais de pequeníssimo porte. Geralmente são empresas individuais, na qual o proprietário é o próprio operador. Não estão submetidas a nenhum encargo social, apresentam baixo custo operacional, nenhuma tecnologia operacional e normalmente geram produtos desqualificados.

    O índice de desemprego atual é o principal fato gerador desse tipo de atuação econômica. O sondador desempregado gera uma empresa individual, assim como o geólogo ou o engenheiro desempregado gera empresa de pequeníssimo porte. Elas concorrem no mercado em iguais condições, e geram no papel propostas que não ficam a dever de nenhuma empresa formalizada. Usam via de regra como equipamento, as sondas percussoras, também de baixo custo operacional, e fazem um extraordinário estrago na faixa de mercado que atuam. Por exemplo, Na região Sudeste, principalmente no Estado de São Paulo, há uma proliferação de micro empresas que atuam nas áreas sedimentares utilizando sondas rotativas adaptadas precariamente, muitas delas com acionamento elétrico, com poucos recursos operacionais, que se enquadram perfeitamente nesse modelo de atuação.

     A grande maioria das empresas brasileiras de perfuração de poços são de pequeno e médio porte. As características do mercado não permitem grandes investimentos no setor e inibem o aparecimento de grandes organizações. As empresas que operam o mercado atualmente, são sobreviventes de um cenário econômico marcado pela sazonalidade de demanda, por uma política tributária exorbitante, além de uma concorrência desqualificada e desigual. Este pelo menos, é seguramente o pensamento da maioria dos perfuradores de poços. As maiores empresas do país vivem sempre administrando eternas crises financeiras para sobreviver e praticando o chamado turismo comercial perambulando de sul a norte do Brasil. O grupo de importantes empresas que saíram do mercado nos últimos anos por conta de crises econômicas, é verdadeiramente impressionante.

    Concorrência e política de preços - A fragilidade do mercado, e a luta pela sobrevivência, fazem surgir à volúpia desenfreada pela figura do chamado "mergulho" nas concorrências pela disputa dos serviços, fazendo os preços despencarem. Aí afloram os mais graves problemas nas relações de mercado. Levam grandes vantagens as empresas informais de baixo custo operacional, e mesmo as formalizadas, quando optam por reduzir custos, baixando a qualidade técnica do produto. Essa é a chamada concorrência desigual que tanto reclamam as empresas mais qualificadas. Dessa forma, os órgãos estão cada vez mais reduzindo seus preços de referência nas concorrências públicas e o mercado privado utilizando essas características específicas, para pagar cada vez menos, por poços naturalmente mais qualificados. A margem de resultados é cada vez menor. Esse parece um efeito prático até desejado pelas leis do mercado. Entretanto, quando a disputa ocorre com o mesmo nível técnico, nesse caso específico, a concorrência desleal é responsável por acarretar um desequilíbrio da relação qualidade/preços que tem levado empresas importantes a se retirarem do mercado. Esse problema só será resolvido pelo fortalecimento e regulamentação do mercado.

     Para as agências financeiras, o poço puro e simples de forma isolada, constitui uma obra muito pequena, e seu financiamento não caracteriza um bom negocio para os bancos, mesmo os oficiais de desenvolvimento. A sensação que fica, tal as dificuldades para se viabilizar essas operações, é que o banco não tem grandes interesses em operar esses programas que dão muito trabalho e rendem muito pouco. Eventualmente quando operam, o fazem sem os cuidados necessários na seleção dos prestadores de serviços, não exercem uma fiscalização efetiva e os resultados nem sempre atendem as expectativas, como já foi dito.

     Nas condições contratuais praticadas, o poço tubular infelizmente ainda não é tratado como uma obra de engenharia no momento da elaboração dos contratos, principalmente no âmbito do setor público. São via de regra contratos unilaterais que reservam ao prestador de serviços todos as responsabilidades requeridas, e riscos existentes nesse tipo de obra. O cronograma financeiro contempla liberação de recursos normalmente 30 dias após o poço pronto e testado. Não existem medições intermediárias. Alguns órgãos públicos fazem contratação de um grupo de poços, sem locação, sem projeto e algumas vazes desconhecem até o município onde ocorrerão as perfurações. A listagem se completa ao longo da execução do contrato a depender das pressões políticas. Isto impede o prestador de serviços de efetuar um planejamento da obra, de antecipar compra de materiais e de definir o equipamento adequado. "Da forma como a água subterrânea é tratada como recurso marginal, completamente desconsiderada no mapeamento dos recursos econômicos do país pelos nossos "planejadores", restam aos perfuradores de poços como única possibilidade de sobrevivência unir esforços para enfrentar tais obstáculos", explica Arnaldo.

     A fiscalização exercida pelos órgãos públicos, algumas vezes se coloca como senhora toda poderosa e absoluta, acima do bem e do mal, e dessa forma ditam normas e procedimentos nem sempre os mais adequados à qualidade da obra. Seguem paradigmas de uma maneira absoluta, já que por não se reciclarem (até porque o Estado não oferece isto) mantém práticas ultrapassadas e o que é pior, de uma maneira até totalitária. Em alguns casos, chega a interferir tanto no custo operacional que inviabilizam os resultados e anulam uma eventual e já diminuta margem de contribuição. As condições estabelecidas nos editais de concorrência todavia são imutáveis. Como o mercado não oferece alternativas a empresa é obrigada a aceitar se quiser trabalhar.

    O mercado futuro

    A existência de um mercado futuro sedimentado e sólido, na área de perfuração de poços tubulares, dependerá da nossa capacidade de solucionar os problemas atuais desenvolvendo no Brasil procedimentos para: Complementação dos estudos básicos fundamentais, sobre os recursos hídricos subterrâneos em todos os seus aspectos.

    Divulgação do produto poço com suas inquestionáveis vantagens com relação a outros mananciais.Este deveria ser uma META fundamental e premente a ser buscada em conjunto pela ABAS, as empresas de perfuração e as demais que participam desse mercado .Planos e investimentos arrojados na mídia são fundamentais para esclarecer, divulgar e qualificar o produto ÁGUA e as empresas do segmento.

    O estabelecimento de uma legislação voltada também para a qualificação do produto e proteção do mercado.
    Desenvolvimento de um programa firme e permanente no que diz respeito à formação de recursos humanos para o setor, seja através de cursos de reciclagem, de treinamentos especializados ou outras formas de qualificação do elemento homem.
    O fortalecimento das entidades de fiscalização da profissão, das associações técnicas e do futuro sindicato dos perfuradores de poços para administrar o reordenamento do mercado
    A implantação de políticas públicas com grandes investimentos no setor de saneamento
    Definição de linhas de financiamento específicas para perfuração de poços
    Conscientização das empresas públicas contratantes, sobre a necessidade e a importância de
    ¨ planejar, projetar, construir e operar sistemas com captação através de poços dentro de conceitos
    ¨ mais realistas e eficientes. Introduzir nas relações de mercado o conceito "PARCEIRIA" entre
    ¨ contratante e contratados.
    ¨ Finalmente buscar junto a ANA o encaminhamento de muitos desses problemas para obter além de respaldo legal, as condições e recursos para implantação das reformas necessárias.

     "Mantenho uma convicção de que, quem sobreviver à guerra atual, verá no futuro próximo uma verdadeira corrida para a utilização de água subterrânea e ai sim, surgirá um mercado de perfuração de poços, que se estabelecerá de forma definitiva. Neste caso ocorrerá o aparecimento de grandes empresas no setor, e os beneficiários desse novo cenário, serão aqueles que estiverem preparados para grandes desafios. Dessa forma caberão a todos os envolvidos nesse segmento, governo e sociedade, que assumam cada qual o seu papel e disponibilizem a indispensável colaboração ao desenvolvimento desse mercado, que deverá ocorrer como uma conseqüência imediata da recuperação econômica do país", finalizou Arnaldo.

    Região Nordeste

    Benjamim Vasconcelos Neto - Corner Nordeste (Pernambuco)

    Futuro da perfuração - O futuro da perfuração depende da definição das linhas de ações e medidas, com os objetivos principais de melhoria da qualidade dos serviços que são prestados e fomentar o mercado de perfuração de poços no nosso país.

    Unificação do mercado
- É importante a união não só dos perfuradores de poços, mas de todos os profissionais e segmentos envolvidos com a atividade de águas subterrâneas. Quanto maior for a nossa união, e conseguirmos nos mobilizar de uma forma organizada e competente, maiores serão as nossas chances de expandir o atual mercado.

    Preocupação - A preocupação das empresas de perfuração é que ocorra cada vez mais diminuição da qualidade dos serviços que estão sendo prestados, graças às ações de empresas clandestinas, e assim a nossa atividade cair no descrédito.

    Parceria
- Considerando a participação significativa dos órgãos federais, estaduais e municipais na contratação dos serviços de perfuração de poços no Brasil, é de fundamental importância a atuação em conjunto com o setor público.

    Perspectiva - Caso os profissionais e empresas que atuam no ramo de águas subterrâneas, se mobilizem e consigam mudar o atual quadro em que se encontra o mercado, não temos dúvida que teremos anos bastante promissores. Caso contrário, vemos com grande preocupação a luta pela sobrevivência das empresas de perfuração de poços.

    Região Sul

    Cláudio Oliveira - Hidrogeo (Rio Grande do Sul)

    Futuro da perfuração - A importância da discussão do futuro da perfuração no Brasil pode ser interpretada por dois ângulos: O primeiro, seria a importância do aprimoramento do setor de perfuração no país, falo de evolução tecnológica, que só será possível, ou só acontecerá se os empresários tiverem visão e capacidade para realizarem investimentos. Já o segundo, estaria relacionado ao futuro do setor a partir da situação em que nos encontramos no presente. A discussão além de importante, é necessária, pois, talvez seja a fórmula mais objetiva de enfrentarmos juntos, problemas que certamente são comuns de norte a sul do Brasil.

    Unificação do mercado - O mercado de perfuração de poços, assim como todos os outros, é composto por dois componentes principais: Oferta e Procura - por natureza sazonal, podendo variar com o clima e a economia
da região e do país.

    A Procura: A crescente demanda pela utilização do recurso "água subterrânea", fez com que a oferta tenha crescido em pelo menos 10 vezes nos últimos dez anos. Oferta: Estimada em um número próximo de 1000 perfuradores. A heterogeneidade das empresas levam aos mais variados tipos de ofertas, que resultam desde os maiores fracassos técnicos construtivos à excelentes obras de captação de água. Para um mesmo tipo de obra, são oferecidos os mais variados preços. Certamente os mais baixos, não cumprem todas as etapas que compreendem a execução da obra, resultando incompletas, fora de padrões e problemáticas. Estes acontecimentos são maléficos para o setor, pois além de levarem a uma concorrência predatória causam um certo descrédito na atividade. Falar em unificação dos perfuradores de um país de dimensões continentais, a princípio pode parecer uma utopia, mas se levarmos em conta que a grande maioria dos perfuradores atuam regionalmente, e que enfrentam problemas comuns, podemos afirmar que as coisas podem começar a se ajeitar com a aproximação destas empresas. Uma maior comunicação entre as mesmas, baseadas num comportamento ético, pode ser o caminho para uma conscientização geral, e assim decidirem o melhor posicionamento perante o mercado. Portanto, a concorrência pode ser leal e saudável. Assim, poderá ocorrer uma corrida natural à capacitação, ao melhor atendimento, a melhoria de desempenho com finalidade de sobrevivência e evolução.
Difícil, será eliminar concorrentes desleais, aqueles que utilizam produtos de qualidade inferior, não obedecem nenhuma norma construtiva, aplicam calote nos fornecedores, não pagam impostos, enganam o cliente, prejudicam a todos, inclusive a si próprios.

    Investimento - A execução de poços no país não segue um padrão construtivo. O desconhecimento das normas construtivas, assim como a ausência de técnicos capacitados na grande maioria das empresas, explica o comportamento de atuação. Muitos falam na carência de um órgão fiscalizador. Este órgão já existe, é o CREA, que , além da cobrança da ART, na realidade nunca terá capacidade de fiscalizar a qualidade das obras. Acredito, na existência de um órgão credenciador de empresas, com reconhecimento em nível nacional, e com poder para realizar convênios com setores privados e governamentais, e porque não, também com o CREA. A ABAS, é o organismo indicado para gerir este credenciamento, mas para que isso aconteça, é vital uma mobilização das principais empresas, credenciando-se, dando força ao movimento.

    Parceria: A parceria com organismos governamentais, seria talvez um dos principais caminhos, que uma entidades vinculada aos perfuradores, no caso a ABAS , poderia de alguma forma beneficiar o setor de perfurações no Brasil. Exemplos:

    1. A ABAS, como é uma entidade comprometida com o recurso "água subterrânea", poderia sugerir uma campanha de educação e informação ao grande público, indústria, agricultura, usuários em geral no sentido de incentivar práticas corretas de captação, uso e gestão, assim como conscientização da qualidade, valor e susceptibilidades da água subterrânea.

    2. Trabalhar junto a setores de planejamentos e ou geradores de recursos, para contratação de obras, com a finalidade de influenciar na execução de projetos adequados, assim como exigir das empresas construtoras, o Credenciamento junto a ABAS.

    Perspectiva - Espero mudanças, pois as dificuldades enfrentadas pelo setor, são sentidas de norte a sul, seja pela carência de obras, em determinadas regiões, pelo crescimento da concorrência predatória, caracterizada pelo posicionamento equivocado de muitas empresas, que tentam conquistar o mercado a qualquer preço, pelo crescimento da oferta, caracterizada pelos novos entrantes, que muitas vezes chegam extasiados pela ilusão de grandes possibilidades. Esses entrantes causam danos terríveis sem contar com possíveis oscilações da economia de um país instável como o nosso. Portanto, em vista dos fatos citados, é difícil prever como vai ficar, pois muitas serão as variáveis envolvidas ( ex.: necessidade, oferta, legislação, concorrência...). A tendência imediata é uma saturação, logo, uma seleção natural, onde muitos sobreviverão, mas poucos evoluirão. Mais do que nunca, precisaremos estar atentos às mudanças, tomar cuidados com números, estimativas, custos, depreciações, preços, assim como, visualizar novas possibilidades, pois serviços ofertados por muitos, perderão valor, atratividade, assim como em muitos outros mercados. O domínio de novas tecnologias farão a diferença.

    Região Sudeste

    Valter Galdiano Gonçalves - Hidrogesp (São Paulo)

    Futuro da perfuração - Parte dos recursos hídricos existentes - e em água subterrânea se concentra uma % extremamente significativa, que via de regra só pode ser explorada através de poços tubulares. Alternativa de captação que se oferece a situação atual, onde os custos de exploração e tratamento, bem como as condições dos mananciais de superfície, do ponto de vista qualitativo encontram-se comprometidos e cada vez mais distantes dos centros de demanda. Trata-se de um segmento da economia, que através do perfurador movimenta valores significativos, envolvendo também grande número de empresas, gerando milhares de empregos no país.

     Unificação do mercado - A organização do setor e a constituição de núcleos que possam agir em termos regionais, assumindo posições que reflitam as necessidades e anseios do setor é imprescindível. Defendo a linha de que estas organizações regionais, sejam elas de simples associações, ou mesmo de sindicatos patronais específicos, tenham em qualquer hipótese uma coordenação nacional. Observo ainda que suas ações deveriam ser norteadas dentro da linha geral daquilo que a ABAS e outras entidades (CREAS, Institutos de Engenharias, ONGs etc,) já conquistaram e que devem ser preservados e respeitados.

    Preocupação - Sem providências, fiscalização e investimentos este assunto deve refletir não apenas investimentos governamentais. O Estado paternalista "tem que acabar". Sem dúvida, atividades de infraestrutura, como é a saúde, o saneamento básico, ainda dependem de investimentos do Estado. É importante também ressaltar a contra partida do perfurador, que necessita investir em melhoramentos, em busca de novas tecnologias, em busca de aprimoramento e treinamento de recursos humanos capacitados aos desafios atuais, em busca de equipamentos etc. Sem isto também não adianta um lado só oferecer recursos.

    Parceria - Não entendo que seja fundamental. A parceria - e a essência da mesma reside nisto - está na independência das partes e não da sua subordinação. O órgão governamental deve estar presente nas questões que envolvam regulamentação, gerenciamento e fiscalização das atividades. Uma parceria que contemple e preserve este ambiente é viável e desejável. Uma parceria com a Universidade ou institutos de pesquisa, no sentido de criar mecanismos de avanço tecnológico é desejável e deve ser buscado permanentemente. Outras parcerias poderiam ocorrer, mas não são fundamentais. Uma parceria que crie dependências e tire a criticidade da sua linha de frente, acaba sendo promiscua e deve ser rejeitada em todos os níveis.

    Perspectiva - Minha expectativa é de que este setor continue se desenvolvendo e crescendo. Ele deve sofrer modificações, já que boa parte dele atua numa situação de economia paralela, sem que ofereça contra partida à sociedade. Creio, embora os dados existentes não sejam confiáveis, que o crescimento deste setor tem sido superior a média do país como um todo e mesmo de algumas áreas de prestação de serviço.

Olho: Mantenho uma convicção de que, quem sobreviver à guerra atual, verá no futuro próximo uma verdadeira corrida para a utilização de água subterrânea e aí sim, surgirá um mercado de perfuração de poços, que se estabelecerá de forma definitiva.

 
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