Água negócio

     Desde as últimas décadas do século passado, principalmente, água negócio é uma perspectiva dos povos que têm dinheiro para ganhar mais dinheiro. Contudo, tanto no abastecimento público, quanto na indústria e, sobretudo, na irrigação, isto significa fornecer água de forma regular e pelo menor custo possível e, principalmente, o seu uso deverá ser cada vez mais eficiente.

     Todavia, nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, onde parece que dinheiro é para gastar, ainda prefere-se ostentar abundância ou escassez. Desta forma, não obstante as disponibilidades de água per capita na extensa rede de rios que nunca secam variarem entre perto de 1.000 m3/ano e mais de 100.000 m3/ano e ter-se mais 5000 m3/ano per capita - correspondentes a utilização de apenas 25% das taxas de recarga das águas subterrâneas - os problemas de escassez periódica de água, operações rodízio e racionamento são freqüentes nas nossas cidades. Entretanto, Israel um dos países mais pobres de água no mundo - com apenas 350m3/ano per capita - aumenta progressivamente a eficiência dos usos da gota d'água disponível e apresenta índices de desenvolvimento humano - IDH muito superiores aos do Brasil, apesar dos sucessivos anos de secas que assolaram o país durante as últimas décadas do século passado.

     Neste contexto, portanto, o grande desafio para a sociedade brasileira, incluindo seu meio técnico, é modificar a atual idéia, historicamente estabelecida de que a expansão da oferta é a única solução para os problemas de recursos hídricos. Entretanto, os custos crescentes da oferta de água e de disposição dos efluentes exigem uma avaliação mais abrangente dos sistemas hídricos e dos processos produtivos. Isso permite identificar oportunidades de otimização desses sistemas, particularmente pela introdução de práticas de uso integrada da gota d'água disponível, de reciclagem e de reuso de efluentes. A partir daí, o objetivo maior da gestão integrada da água é diminuir os custos de oferta da água e buscar uma eficiência cada vez maior dos seus usos e dos processos produtivos de forma ambientalmente correta.

     Neste contexto, a inserção da água subterrânea exige que os poços sejam cada vez mais bem construídos, operados e abandonados. Isto significa, diferenciar um buraco de onde se extrai água de um poço, da mesma forma que já se distingue uma facada de uma incisão cirúrgica. Assim, a perfuração de poços deverá atender as especificações técnicas disponíveis de engenharia geológica (respeito aos contextos geológicos locais), engenharia hidráulica (máxima eficiência de produção ou recarga) e de engenharia sanitária (proteção contra os agentes reais ou potenciais de degradação da qualidade das águas).

     Aos ganhos econômicos assim obtidos, juntam-se dois outros: O primeiro, de natureza operacional, à medida que com o uso racional da gota d'água disponível - rios, águas subterrâneas e tratamento de efluentes para reuso, principalmente - acaba engendrando uma fonte alternativa de abastecimento, de extrema importância em regiões onde o fornecimento de água não é seguro ou onde a fonte própria da empresa está operando próximo ao limite. O segundo está ligado à imagem da empresa, já que a prática de uso eficiente da gota d'água disponível e de reuso, principalmente, acaba revelando a preocupação de reduzir os impactos nos rios, em particular, e no ambiente, em geral.

     Olho: Os custos crescentes da oferta de água e de disposição dos efluentes exigem uma avaliação mais abrangente dos sistemas hídricos e dos processos produtivos
chuvas.

Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências,
Pesquisador Inst. Estudos Avançados-Universidade de São Paulo
Consultor Secretaria Nacional de Recursos Hídricos

 
Voltar Imprimir

Copyright © - Associação Brasileira de Águas Subterrâneas
Todos os direitos reservados