Bem vindo à escola, este é o seu coach!

     No mundo empresarial, a idéia tem ganhado espaço nesses últimos anos, ter um profissional mais velho que oriente a carreira de outro mais jovem. O coach, o treinador ou o tutor no nosso bom português. O recém ingressado pode-se valer da experiência desse profissional, que além de conhecer os meandros e a dinâmica da empresa, pode aconselhá-lo no dia-a-dia de seu trabalho e principalmente no seu futuro na companhia. A idéia é boa, embora enfrente resistências devido à grande competitividade que reina no ambiente de trabalho. Transportar esse conceito para a universidade e adaptá-lo foi a idéia da Profa. Maria Cristina Motta de Toledo do Departamento de Geologia Sedimentar do Instituto de Geociências da USP. Interessantemente, o coach é, na essência, um conceito ligado à própria origem das antigas escolas.

      No início das escolas (do grego schola, discussão), havia o mestre que ensinava aos seus discípulos o que sabia. Os programas de pós-graduação sensu strictu brasileiros ainda preservam este modelo, onde o orientador, um professor titulado com grau mínimo de doutor, dirige a pesquisa técnica-científica do estudante. O acompanhamento é quase diário e essa convivência permite ao candidato aprender a se virar no mundo acadêmico e a concluir, com sucesso, uma investigação científica ou um trabalho técnico.

     A diferença proposta pela Profª Cristina foi a de trazer esse modelo de tutor-discípulo para a graduação. A turma de "bixos" ou primeiro-anistas do curso de Geologia foi dividida em grupos de quatro alunos e cada um ganhou um professor-coach. A escolha foi feita por meio de sorteio e o programa é voluntário, tanto para os alunos como para os professores. A turma de 2002 é a primeira a experimentar tal novidade. Este modelo de acompanhamento de estudantes de graduação já é utilizado há muitos anos pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Lá também cada aluno tem o seu coach que o acompanhará na sua vida acadêmica. O aluno que ingressa na universidade é ainda bastante jovem e muitas vezes sente-se perdido nesse novo ambiente, que tem regras próprias que ele não está acostumado. A introdução do programa de coach no IGc-USP se deu justamente para auxiliá-lo nesse difícil primeiro ano.

     Cabe ao professor reunir-se quinzenalmente com os estudantes para discutirem sobre o curso de Geologia, bem como sobre a própria ciência, suas especializações e o seu mercado de trabalho. Obviamente, cada professor interagindo com os alunos criará uma dinâmica própria. O modelo de coach, como apresentado pelo IGc-USP, é bastante caro, pois exige uma atenção quase individual ao estudante. Este modelo está indo no sentido contrário ao adotado por muitas universidades privadas no Brasil.

     Em uma recente reportagem de capa da Revista Exame (Editora Abril, edição 763, de 3 de abril de 2002), a jornalista Cynthia Rosenburg comenta que a Escola Pitágoras, associada ao Apollo International, representante no Brasil do maior grupo empresarial de ensino dos Estados Unidos, está montando uma faculdade em Minas Gerais. Lá se "pretende dar escala a um modelo pedagógico e empresarial que permitirá levar uma formação cultural e profissionalizante à massa" - diz o professor Walfrido Mares Guia, um dos sócios do Pitágoras.

     A idéia é expandir um modelo onde seus cursos sejam feitos por uma equipe central que cuida do planejamento de cada disciplina, inclusive com a confecção de material didático. Os professores seriam treinados para que pudessem transmitir o conhecimento de forma uniforme. Desta forma, ter-se-iam cursos iguais ministrados em diferentes partes do país, obedecendo a um padrão mínimo de qualidade. É como ter, no bom e no mau sentido um Mac Donald's do ensino. É estender o sistema de cursinho, com apostilas, à universidade.

     Ganha-se evidentemente em escala, em número de alunos atingidos, mas perde-se na postura crítica do estudante e do futuro profissional, que apenas reproduzirá conhecimentos. Esquece-se também da importante formação de lideranças no mercado de trabalho. A experiência do IGc-USP contrasta evidentemente com o da Escola Pitágoras. São duas formas de encarar a educação e a preparação dos novos profissionais. Aposto no nosso modelo!

     Olho: Os professores seriam treinados para que pudessem transmitir o conhecimento de forma uniforme

Ricardo Hirata é professor do
Instituto de Geociências
da USP, pesquisador do CEPAS-
IGc-USP. Hirata escreve
mensalmente nesta coluna.
e-mail: rhirata@usp.br

 
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