Água subterrânea: a alternativa mais barata (III)

     O último censo demográfico ressalta o fato do consumo de água limpa de beber ter crescido, no Brasil, cerca de 191% no período de 1991-2000 (IBGE, 2000). Ressalta, ainda, que água limpa de beber já não significa, necessariamente, água tratada. Esta situação reflete, certamente, a percepção de que o fornecimento de água pelo menor custo possível é um fator fundamental do lucro, induzindo um maior uso da água subterrânea como a alternativa mais barata de abastecimento.

      Por sua vez, tem-se a produção da ordem de dois bilhões litros/ano de água engarrafada ou mineral, a qual é extraída de poços, fontes ou nascentes. Portanto, a extração de água subterrânea é suporte, fundamental, do negócio altamente promissor de venda de água engarrafada, cujo valor atual é da ordem de US$100 milhões/ano, no Brasil. O nosso consumo per capita sendo de apenas da ordem de 10 litros/anos, enquanto na França e Itália, por exemplo, já é superior aos 100 litros/ano per capita, indica o quanto ainda se pode crescer neste setor. Além disso, tem-se o comércio da água potável fornecida em “carro pipa” às indústrias e condomínios, principalmente.

      Desta forma, apesar dos caóticos cenários sanitários dominantes nas nossas cidades, ainda é possível captar água subterrânea de boa qualidade no meio urbano, salvo quando poços mal construídos, operados ou abandonados se transformam em verdadeiros focos de contaminação. Estima-se que cerca de 7.000 poços privados não controlados estejam em operação na Região Metropolitana de São Paulo e mais de 2.000 na do Recife, abastecendo hotéis de luxos, hospitais, indústrias e condomínios privados. Esta forma de utilização não controlada da água subterrânea é uma prática comum em todas as áreas metropolitanas do Brasil e nas suas grandes cidades, como forma de minimizar os prejuízos financeiros e de saúde, além do desconforto resultante da irregularidade do fornecimento de água tratada pelos serviços oficiais, principalmente.

      Entretanto, a utilização da água subterrânea não pode ser cogitada como a alternativa de abastecimento público nas áreas metropolitanas e nas grandes cidades, à medida que o seu uso implicaria na realização de um controle da sua potabilidade num grande número de poços. A forma de utilização atual abastece boa parte da população de maior poder aquisitivo - onde só a construção do poço custa da ordem de R$ 25.000,00 – valor que é, regra geral, amortizado entre 1/3 e metade da vida útil dos poços de 20 anos, tendo-se por base o preço do m3 de água fornecido pelo serviço público.

      Assim, a utilização da água subterrânea sendo a alternativa mais barata para abastecimento doméstico, necessita ser considerada prioritária. Por sua vez, na abordagem da gestão integrada da gota d’água disponível torna-se necessário considerar as diferentes funções dos aqüíferos, tais como de produção, autodepuração ou filtro, transporte, reuso para controle da interface marinha e geotermal, seja como alternativa estratégica de abastecimento doméstico, seja para atender, sobretudo, as demandas de água não potável no meio urbano, na indústria e na agricultura.

     Olho: A utilização da água subterrânea não pode ser cogitada como a alternativa de abastecimento público nas áreas metropolitanas e nas grandes cidades.

Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências,
Pesquisador Inst. Estudos Avançados-Universidade de São Paulo
Consultor Secretaria Nacional de Recursos Hídricos

 
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