Mensagem do Presidente

     Os primeiros congressos da ABAS, na década de oitenta, se restringiam a discutir questões de ordem técnico-científicas, sendo que os principais artigos apresentados em seções técnicas tratavam sobre métodos de análises hidrogeológicas para solucionar problemas para o abastecimento público de várias cidades do Brasil, para irrigação e para as indústrias, bem como sobre procedimentos de perfuração de poços e métodos de análises de bombeamento ou de aqüíferos. Os autores daqueles trabalhos eram, na sua maioria, compostos por geólogos e, portanto, as discussões tinham pouca ressonância ao meio externo da ABAS. Durante este período, ocorreu um avanço técnico bastante acentuado da hidrogeologia por conta da difusão de estudos de casos. Este tipo de enfoque, com o aumento cada vez maior de trabalhos, perdurou até os primeiros anos da década de noventa, a partir da qual foi dado início, de forma mais contundente, a uma busca e a um reforço de discussões mais abrangentes que interagissem com a comunidade em geral, através de mesas-redondas e de palestras sobre assuntos de interesse regional e nacional.

     A partir deste período, a ABAS passou a ser mais conhecida e até mesmo reconhecida em nível nacional e internacional como uma entidade que congrega técnicos capazes de oferecerem soluções para a captação de fontes alternativas, suprindo ou complementando sistemas de abastecimento público. Já no ano 2000, com a definição da Política Nacional de Recursos Hídricos e a criação da Agência Nacional de Águas, as águas subterrâneas passaram a ser reconhecidas como uma parcela que deve ser devidamente compreendida numa bacia hidrográfica. Esta é a razão da ABAS ter representantes nos Comitês de Bacias Hidrográficas já implantados.

     Neste evento de 2002, o XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, organizado através de uma parceria entre os núcleos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e do Paraná, a ABAS definiu temas específicos para as mesas-redondas de forma a propiciar a participação efetiva da sociedade em geral. Pretende-se através deste expediente, mostrar e esclarecer que a questão ÁGUA - como manter a sua qualidade preservando-a para as gerações futuras - deve obrigatoriamente passar pelo “crivo” da população.

     Ter direito à cidadania é, no mínimo, ter direito a água de boa qualidade, o que exige, num mundo democrático, a responsabilidade de quem tem o poder de decisão em optar pelo manancial mais econômico e ecologicamente mais adequado.

     Aqüíferos Transfronteiriços, chamada deste congresso, é um tema que tem sido discutido em nível mundial, tanto que a UNESCO criou um Programa Especial para avaliar os vários casos existentes em todos os continentes.

     No nosso caso específico, no Cone Sul, destaca-se o Sistema Aqüífero Guarani, por tratar-se de um dos maiores reservatórios subterrâneos do mundo e evidentemente porque este aqüífero ocorre em oito Estados do Brasil. Sobre este tema, aliás, serão apresentados alguns trabalhos técnico-científicos que foram efetivamente desenvolvidos nos últimos doze meses com base geológica e em perfurações sob condições de confinamento.

     Espera-se que depois do XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, os dirigentes das instituições públicas e privadas possam ter uma noção mais clara sobre a importância que as águas subterrâneas oferecem para acelerar o desenvolvimento e proporcionar uma melhor qualidade de vida para a população que vive nas cidades e no campo. A ABAS tem absoluta certeza que mais uma vez está cumprindo seu papel como uma organização de interesse público pois através de seus associados desenvolve metodologias de elevado nível técnico, oferece soluções economicamente e ecologicamente viáveis, assim como divulga as vantagens de se utilizar as águas subterrâneas como um bem da natureza que deve ser preservado e jamais deixando de alertar sobre os riscos que a imprudência ou a falta de conhecimento pode causar quando este recurso é explotado de forma inadequada.

Ernani Francisco da Rosa Filho
Presidente da ABAS