Concluído o novo zoneamento de explotação de
águas subterrâneas em Recife

     A empresa COSTA Consultoria e Serviços Técnicos e Ambientais Ltda. efetuou para a Secretaria de Recursos Hídricos de Pernambuco - SRH, um estudo hidrogeológico da Região Metropolitana do Recife, incluindo os quatro municípios que mais consomem água subterrânea. São eles: o próprio Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe. Esse estudo promoveu uma atualização do Projeto HIDROREC I, efetuado em 1995/97 pelo convênio UFPE-IDRC do Canadá, que igualmente foi coordenado por Waldir Duarte Costa.

     Do estudo constou o cadastramento de 1.660 poços, que somados aos já cadastrados anteriormente, resultou em 5.528 poços. O total de poços existentes nos quatro municípios, segundo levantamento da concessionária dos serviços de água e esgoto, é de aproximadamente 15.000. Uma avaliação das reservas, potencialidades e disponibilidades efetivas, dos diversos aqüíferos existentes na área, resultou no balanço de entradas x saídas de água dos aqüíferos, com a seguinte situação:

     a) Aqüífero Beberibe: Déficit de 1,38 m3/s na Planície do Recife e de 1,84 m3/s em Olinda
     b) Aqüífero Cabo: Déficit de 0,97 m3/s na Planície do Recife e Superávit de 0,15 m3/s na Planície de Jaboatão dos Guararapes
     c) Aqüífero Boa Viagem: Superávit de 0,63 m3/s na Planície do Recife e de 0,72 m3/s na Planície de Jaboatão dos Guararapes
     d) Aqüífero Barreiras: Superávit de 0,13 m3/s nas regiões de explotação de Guararapes (Recife), Aldeia (Camaragibe) e Olinda.

    Como se constata, os dois principais aqüíferos utilizados no fornecimento de aproximadamente 6 m3/s para atendimento da oferta de água na RMR, que são o Beberibe e o Cabo, se encontram em regime de sobre-explotação, com um déficit que vem crescendo assustadoramente nos últimos anos, em função da diminuição das precipitações pluviométricas no final da década de 90, o que acarretou uma redução da oferta de água superficial, com o aumento na execução de poços profundos.

     Foram utilizados os dados fornecidos pelas empresas de perfuração, sobretudo a COPERSON, que efetuam manutenção preventiva anual, com dados de 5 a 10 anos seguidos em mais de 80 poços da cidade. A análise desses dados revelou que nos últimos 5 anos ocorreu um rebaixamento da ordem de 40m no bairro costeiro de Boa Viagem, de 30m no bairro do Espinheiro e de 25m em Olinda (ver figura 1).

     Quanto a qualidade da água, apesar de já ocorrer uma salinização acentuada em cerca de 10% da área, devido a poços mal construídos e ainda a drenança vertical descendente do aqüífero Boa Viagem para os aqüíferos Cabo e Beberibe, pode-se considerar, de um modo geral, as águas como de excelente qualidade para o consumo humano, principalmente aquelas dos dois aqüíferos profundos. O aqüífero Boa Viagem, do tipo livre, com profundidade da zona de saturação da ordem de 2 a 5m, está sujeito a contaminação orgânica de fossas e esgotos rompidos ao longo de quase toda a área. Quanto a classificação iônica, as águas do aqüífero Beberibe são predominantemente bicarbonatada mista a mista sódica; no aqüífero Cabo, predominam as águas cloretadas sódicas a mista sódica; nos aqüíferos Boa Viagem, Barreiras e fissural, as águas são predominantemente cloretadas sódicas.

      O principal “produto” do estudo realizado, foi o Mapa de Zoneamento Explotável dos Aqüíferos Beberibe, Cabo e Barreiras, na região do Projeto HIDROREC II (ver figura 2). No Projeto HIDROREC I, foi realizado esse zoneamento, pela primeira vez na América Latina, que se tornou uma importante ferramenta para a gestão dos aqüíferos pela Secretaria de Recursos Hídricos. No atual zoneamento, a área foi ampliada (inicialmente constava apenas a Planície do Recife) e o número de zonas foi aumentado de quatro para seis, como pode ser visto na figura 2.

As zonas constantes no mapa da figura 2, possuem as seguintes características:

- Zona “A”: Aqüífero: Cabo. Situação atual: níveis d’água a profundidades entre 60 e 115m. Restrições: não perfurar novos poços e reduzir a vazão dos atuais poços em 50 %
- Zona “B”: Aqüífero: Cabo ao sul e Beberibe ao norte do Recife; Situação atual: níveis d’água entre 50 e 65m de profundidade; Restrições: novos poços com limite de vazão de 30 m3/dia e redução de 30% na vazão dos poços existentes;
- Zona “C”: Aqüífero: Cabo na região sul do Recife e Beberibe ao norte do Recife e em Olinda; Situação atual: níveis d’água a profundidades entre 30 e 50m; Restrições: novos poços com limite de vazão de 60 m3/dia e redução de 15% nos poços existentes;
- Zona “D”: Aqüífero: Barreiras; Situação atual: níveis d’água a profundidades entre 30 e 40m. Restrições: novos poços com limite de vazão de 70 m3/dia sem redução nos poços existentes;
- Zona “E”: Aqüífero: Beberibe ao norte e Cabo ao sul, da cidade do Recife; Situação atual: níveis d’água a profundidades inferior a 30 m. Restrições: novos poços com limite de vazão de 100 m3/dia sem redução de vazão nos poços existentes
- Zona “F”: Aqüífero: apenas o fissural. Situação atual: níveis d’água a profundidades inferior a 30 m. Restrições: não haverá limites, sendo a vazão outorgada aquela que o poço venha a fornecer, que, em geral, é inferior a 10 m3/h.

As principais recomendações do estudo, foram a seguintes:

l– Executar um contínuo controle sobre a explotação do aqüífero, através de uma eficiente fiscalização sobre o uso da água captada nos poços
II – Instalar sensores em poços de observação, para acompanhar em tempo real, os rebaixamentos dos níveis d’água e a degradação da qualidade da água
III – Atualizar a intervalos de tempo de pelo menos cinco anos, os estudos hidrogeológicos, com realização de balanço de entradas x saídas de água do manancial subterrâneo;
IV – Realizar os estudos visando a execução, a médio prazo, de uma recarga artificial a nível regional, a fim de conter os acentuados rebaixamento e evitar danos irreparáveis à população.

Figura 1: Alguns exemplos de rebaixamentos do nível da água em poços situados em Boa Viagem, Espinheiro e Olinda – RMR.

Figura 2: Mapa de Zoneamento Explotável dos Aqüíferos Beberibe, Cabo e Barreiras, na Região do Projeto HIDROREC

 

 
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