ABAS questiona afirmações de geólogo

      Uma notícia divulgada pela internet nos sites Último Segundo e Saneamento Básico, mostra a preocupação de um geólogo quanto a contaminação do Aqüífero Guarani. A reportagem mobilizou o segmento de águas subterrâneas, ocasionando diversos posicionamento contra o pronunciamento do geógrafo. Para esclarecimento do leitor, o ABAS INFORMA publica a resposta do presidente da ABAS e pesquisador da UFPR, Prof. Dr Ernani Francisco da Rosa Filho e no box as afirmações incorretas do geógrafo Marco Antonio Ferreira Gomes para melhor entendimento da comunidade de água subterrânea.

“A matéria trata a questão de forma irresponsável...”

     “A matéria chama a atenção de uma forma que mostra um desconhecimento total das dimensões do aqüífero e das condições de proteção do mesmo, especialmente nas áreas de confinamento onde esta possibilidade não existe. Trata a questão, portanto, de forma irresponsável, sem mencionar a importância do aqüífero para outras regiões do Brasil, e concentra-se em áreas onde ele ocorre na superfície, especialmente no Estado de São Paulo. A pesquisa não deixa de ser importante, neste tipo de situação, mas mais adequado seria apresentar dados reais a toda a comunidade para alertar sobre este tipo de problema em locais onde ocorre o aqüífero em superfície, como estudo de caso, e onde são utilizados agro-químicos. Da forma como foram divulgados os dados, cria-se, de qualquer forma, uma visão completamente distorcida para a sociedade que desconhece tecnicamente o assunto, o que pode levar aos tomadores de decisões visões contrárias ao uso das águas armazenadas neste aqüífero. Ao se mencionar este tipo de problema, é fundamental esclarecer as condições e não dar a entender que este aqüífero está comprometido. Ele não está comprometido e os riscos são localizados! No mês passado, por exemplo, foi perfurado um poço em Londrina pela SANEPAR, em condição de confinamento, e o resultado foi de 800.000 L/h (Surgente). A água é de excelente qualidade, sem nenhum tipo de contaminante. Este é outro fato que vai de encontro às vantagens de se avançar nas pesquisas sobre este reservatório, que é um dos maiores do mundo. Sugiro ao pesquisador que lançou a informação que utilize especialistas no assunto, antes de provocar situações que não condizem com a realidade. Em termos técnicos e científicos, torna-se necessário mostrar os resultados (dados ou números!), sejam pontuais ou não, e mostrar o quadro geral, inserindo a sua pesquisa numa área que é maior do que 1.000.000 km2!”, analisou o Prof. Dr Ernani Francisco da Rosa Filho.

     Olho: A pesquisa não deixa de ser importante, neste tipo de situação, mas mais adequado seria apresentar dados reais

Veja a matéria questionada pelo presidente da ABAS

Maior reservatório de água da América Latina pode estar contaminado

     São Paulo - Segundo Marco Antonio Ferreira Gomes, geógrafo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o maior reservatório de água da América Latina pode estar sendo contaminado por agrotóxicos. O aqüífero Guarani ocupa oito Estados brasileiros, além de se estender por outros três países vizinhos (Uruguai, Paraguai e Argentina), o que o torna o maior reservatório subterrâneo d’água da América Latina. Guarani tem potencial para abastecer um país como o Brasil por 2.500 anos, mas se for contaminado não será possível reverter o quadro.

     Segundo diagnóstico de Gomes, existem quatro áreas que podem ser consideradas críticas por apresentar grande possibilidade de estar havendo contaminação nas chamadas áreas de recarga - portas de entrada da água da superfície para o reservatório. A partir do levantamento realizado pelo geógrafo, as regiões mais críticas são: nascente do Rio Araguaia, em Goiás; Alegreti, no Rio Grande do Sul; nascente do Rio Ivaí, no Paraná e em Lages, em Santa Catarina. No entanto, para concluir que a contaminação já atingiu o reservatório são necessárias pesquisas aprofundadas, com análises químicas. ‘Mas, para isso, precisamos de verba. Pois trata-se de uma pesquisa muito cara’, diz Gomes, que levou três anos para levantar estes dados, que fazem parte de um estudo mais amplo. Segundo previsão do geógrafo, são necessários R$ 2 milhões para um estudo que deve se estender por quatro anos. ‘Estamos numa fase de captação de recursos e já pensando em medidas preventivas para resultados a longo prazo’, diz. O geógrafo está na tentativa de angariar recursos destinados à própria Embrapa, com o Banco Mundial e através da Agência Nacional de Água. Enquanto isso, desenvolve projetos que incentivam à prevenção da contaminação, já que o problema se tornará irreversível se a contaminação de fato ocorrer. ‘Não temos tecnologia o suficiente para a descontaminação de um reservatório como o Guarani, que em certos trechos se encontra a 1,2 m da superfície do solo, diz. Gomes recomenda a substituição de alguns agrotóxicos por outros que se fixem mais ao solo. ‘Assim, se não tem grande mobilidade, terá mais dificuldade de atingir os lençóis`, diz. ‘Afinal, o problema acontece nas áreas de recarga. Se houver uma grande plantação de cana de açúcar, produto que pede o uso de herbicidas (tipo de agrotóxico), próxima de uma área de recarga, a contaminação é bastante provável`, explica. Se for comprovada a contaminação do aqüífero, o país poderá perder 2.500 anos de água potável. A qualidade da água é medida a partir de referência da potabilidade da água. ‘Alguns dos produtos podem causar câncer e má formação de membros em recém-nascidos`, alerta Gomes.

 
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