O outro congresso

As águas subterrâneas estão de parabéns!
O Congresso da ABAS foi um sucesso. Não pude participar, mas pelos comentários, foi bastante proveitoso para todos. Estive, em compensação, no XLI Congresso da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), que ocorreu em João Pessoa este ano, uma semana depois do CABAS (15 a 20 de setembro de 2002) e contou com mais de 1200 pessoas.

O Congresso da SBG não é um fórum privilegiado de trabalhos em hidrogeologia, mas acabei tendo a grata surpresa com o número de comunicações apresentadas sobre o tema, principalmente considerando que na semana anterior havia ocorrido o CABAS e que estávamos há pouco mais de um mês do Congresso da Associação Internacional de Hidrogeólogos e da Associação Latino Americana de Hidrogeologia para o Desenvolvimento (ASLHUD). No total foram apresentados 43 trabalhos, uma palestra e uma conferência, tendo como tema principal ou secundário a hidrogeologia.

Os trabalhos de hidrogeologia estavam distribuídos nos seguintes simpósios:

¨Geoquímica ambiental, com 8 trabalhos
¨Geotecnologias aplicadas a geologia, com 2 trabalhos
¨Aplicações de isótopos na geologia, com 1 trabalho
¨Recursos hídricos, com 16 trabalhos
¨Riscos urbanos, com 5 trabalhos
¨Geologia do Quaternário e Neotectônica, com 1 trabalho
¨Geologia do petróleo, com 1 trabalho
¨Geofísica e hidrogeologia, com 10 trabalhos

A conferência ministrada pelo Prof. Dr. José do Patrocínio Tomaz Albuquerque (UFPB-CNPq) foi intitulada Gestão das Águas Subterrâneas em Bacias Hidrográficas. Albuquerque foi também o coordenador do Simpósio de Recursos Hídricos.

A palestra do Simpósio de Recursos Hídricos foi proferida pelo Prof. Dr. Jaime Cabral (UFPE), que falou sobre aspectos técnicos e científicos da gestão integrada das águas subterrâneas. Cabral descreveu as principais leis que têm regulado as águas subterrâneas desde o Império e teceu considerações sobre gestão das águas subterrâneas, a partir de exemplos brasileiros.
O Simpósio contou com boa participação dos congressistas e novamente tivemos uma sub-avaliação por parte da coordenação, que reservou uma sala pequena para o evento. Isto tem ocorrido em várias reuniões onde as águas subterrâneas, não sendo o tema principal, acaba roubando um pouco a cena do congresso anfitrião. Isto também aconteceu no último Simpósio da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), em Maceió, no ano passado.

Se uma das críticas que circulava pelo Simpósio da ABRH era de que não havia uma integração de fato entre as águas superficiais e as subterrâneas, o mesmo se ouvia nos corredores do Congresso da SBG, falta de integração entre a hidrogeologia e a geologia. Como se elas pudessem ser dissociadas.

O melhor exemplo disso é como o tema hidrogeologia foi tratado. O que inicialmente eu havia classificado como uma falha na organização, em pulverizar o tema hidrogeologia em oito simpósios; isso mostrou como ela está presente nas diversas áreas do conhecimento geocientífico. Muitos dos trabalhos de contaminação de água subterrânea foram apresentados por grupos de geoquímica. O trabalho no Simpósio de Geologia do Quaternário e Neotectônica tratou de enfocar o fluxo de água subterrânea em meios fraturados. O Simpósio de Tecnologias teve trabalhos de hidrogeologia que faziam uso de sistemas geográficos de informação (SIG), assim como o de isótopos, as técnicas radioativas aplicadas à água subterrânea.

Um simpósio bastante interessante foi da Educação em Geologia no Século XXI: Estamos Construindo uma Cultura Geológica? Houve neste simpósio discussões interessantes sobre o currículo das escolas em geologia e se este está sendo adequado em atender os profissionais formados por ela. Ressalto este tema, por ser um que os hidrogeólogos deveriam se debruçar. Estamos formando bons hidrogeólogos? O que as escolas de geologia deveriam ensinar para o profissional que trabalhará em hidrogeologia?

Outro tema tratado por vários congressistas foi o flúor nas águas subterrâneas e seus impactos à sociedade. Este foi debatido nos simpósios de Geoquímica e de Recursos Hídricos. Mas muito embora o mote do Congresso da SBG fosse A Geologia e o Homem (e as Mulheres?), faltou ainda uma discussão forte e dirigida sobre o futuro da geologia. Em um congresso de geologia onde o tema era o Homem, falou-se ainda muito de geologia e pouco da sociedade...

Ricardo Hirata é professor do Instituto de Geociências da USP, pesquisador do CEPAS- IGc-USP.
e-mail: rhirata@usp.br

 

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