O Aldo e o planeta visto de Marte

Poucos são aqueles, em qualquer área do conhecimento, que uma breve menção ao nome já é suficiente. No meu modesto conhecimento não sei de outra associação profissional que disponha de uma ‘Coluna do Aldo’, ou do Paulo, ou do Pedro ou quem quer que seja. Não é pouco e tampouco imerecido para o trabalho que o Aldo fez e faz pela ABAS e pelas águas subterrâneas. Para mim e, creio, para todos aqueles que trabalham em escalas muito maiores, ler os números do Aldo que mencionam quilômetros cúbicos de água é interessante e impressionante, mas que só esta semana me foi bem definida por um aluno: os artigos do Aldo parecem que mostram nosso planeta visto de Marte. Mostram uma visão global que poucos podem oferecer.

Esta observação deu um empurrão final a um texto que tenho ensaiado apresentar neste meu espaço: existe na nossa comunidade ao menos um candidato que seja a ser um novo Aldo? Longa vida ao Aldo, não me interpretem mal. Com todas as críticas que se pode fazer à atuação do Aldo ao longo de sua carreira, afinal ele é humano (e não marciano, como o título pode induzir a crer), seus méritos e conquistas facilmente eclipsam seus eventuais lapsos. Diz a biologia que 80% do corpo humano é feito de água, no caso do Aldo é água subterrânea.

Brincadeiras à parte, a questão real sobre a existência de um novo Aldo baseia-se na idéia de que alguém, ou um grupo de pessoas, ou a própria associação como um todo, personifique a defesa do uso da água subterrânea de forma a unir os profissionais, quer sejam eles perfuradores, educadores ou profissionais de meio ambiente. Vejo que a ABAS é o retrato do empenho do que o Aldo representa, no sentido da hidrogeologia de produção de água e da hidrogeoquímica de aqüíferos. Hoje somos mais do que isso. A quantidade de hidrogeólogos que trabalham com contaminação de aqüíferos em muito supera aqueles empregados em produção de água. A quantidade de artigos apresentados sobre o tema nos últimos congressos da ABAS é um reflexo disso. E, ao contrário dos perfuradores de poços, as empresas de consultoria em meio ambiente, talvez a única outra indústria onde hidrogeólogos são proprietários, montaram uma associação própria para defesa dos seus interesses. Não teriam tido espaço na ABAS? Vejo ainda congressos de remediação de solo e água subterrânea feitos por químicos, engenheiros civis, engenheiros químicos, engenheiros sanitaristas, biólogos e outros profissionais. Não seria isso tudo cabível dentro da ABAS? O que é que estamos esperando?

Creio que a ABAS deva refletir a mudança de enfoque e de escala de trabalho. Essa é uma visão de quem olha nosso planeta da Terra e respeita, fascinado, a visão vinda de Marte.

Dr. Everton de Oliveira
Professor-colaborador do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e sócio-diretor da HIDROPLAN - Hidrogeologia e Planejamento Ambiental S/C Ltda. (everton@hidroplan.com.br)

 
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