Conseqüências de um desastre ecológico...

Há pouco mais de três meses ocorreu um dos maiores acidentes ecológicos do estado do Rio de Janeiro: o rompimento do barramento de contenção de resíduos da Indústria Cataguazes de Papéis, que gerou a liberação repentina de uma quantidade enorme de poluentes para o rio Paraíba do Sul, na região norte-noroeste fluminense. Na época, o risco de desabastecimento de água e de contaminação de toda a fauna e flora locais levou ao caos e desespero geral da população, que promoveu inclusive uma ‘corrida’ pela captação de água subterrânea de forma desordenada e com riscos sanitários e de saúde pública. Se levarmos em conta a garantia sanitária e a preservação ambiental, qualquer liberação da água do rio Paraíba do Sul após o ponto de afluência do rio Pomba, no qual foram despejados os poluentes, só deve ocorrer com a comprovação inequívoca de que não há mais nenhum indício de poluição hídrica fluvial decorrente do acidente ecológico.

Portanto, essa liberação pelos órgãos ambientais deve se dar exclusivamente para as águas de abastecimento público, após sua passagem por estações de tratamento de água, desde que a qualidade da água bruta esteja enquadrada dentro dos padrões do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Qualquer outro tipo de uso das águas do rio deve ser proibido.

Especial destaque deve se dar às águas de irrigação, que correspondem à maior parcela de consumo hídrico das regiões noroeste e norte fluminense. Uma possível utilização de águas contaminadas com poluentes do rio Pomba pode gerar repercussões ambientais e de saúde pública imprevisíveis e irreversíveis. Esse impacto pode se traduzir, por exemplo, no acúmulo dos poluentes nos alimentos irrigados que serão consumidos pela população do Rio de Janeiro e outras cidades do estado, o que traz riscos de doenças, indisposições, intoxicações e até câncer.

Outra possível conseqüência seria a contaminação de todo o solo decorrente da irrigação com água contaminada. Isso levaria à destruição de toda a microfauna do solo arável e à contaminação de toda a vegetação, o que pode afetar severamente a produtividade ecológica local e a qualidade dos alimentos agricultáveis. É importante lembrar que a descontaminação natural do solo é muito mais problemática e lenta do que a autodepuração de um rio após o lançamento de uma carga poluidora. Portanto, uma eventual liberação das águas contaminadas do rio Paraíba do Sul para irrigação pode gerar graves repercussões no solo e inviabilizar seu uso futuro pela dificuldade de recuperação e pelos riscos permanentes de contaminação de alimentos.

Por fim, um outro impacto da liberação do Paraíba do Sul seria a contaminação da água subterrânea que constitui a única fonte de água doce confiável da região. Se isso ocorresse, a área geográfica de alcance do desastre ecológico aumentaria, com a potencial degradação de toda a água subterrânea natural da região.

Diante desses riscos, a responsabilidade pela liberação da água bruta do rio Paraíba do Sul para irrigação, consumo de animais, pesca e outros usos deve se dar de forma ambientalmente segura. É preciso levar em conta que a utilização de água imprópria pode gerar danos sérios diretos ou indiretos à saúde da população local e de todo o estado, sem falar no equilíbrio ecológico do ecossistema da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul.

Para isso, estudos mais profundos e adequados de monitoramento do rio (inclusive material de fundo) e do sistema de barramento atual de resíduos da Indústria Cataguazes de Papéis devem ser realizados, bem como uma inspeção sanitária rigorosa dos alimentos (produtos agrícolas, gado, peixes etc).

Adacto Benedicto Ottoni
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Comissão de Meio Ambiente / CREA-RJ
Telefone: (21) 2587-7849
E-mail: adacto@uerj.br

Lançamentos

Unesco lança estudos sobre impactos ambientais no DF

A UNESCO no Brasil (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou no mês de junho, três publicações que traçam um diagnóstico das condições ambientais do Distrito Federal. Os livros fazem parte de uma série de estudos que a Organização vem promovendo com o objetivo de oferecer subsídios para a gestão eficiente e a consolidação da Reserva da Biosfera do Cerrado no DF. Os estudos apontam os impactos da ocupação humana sobre o meio ambiente e revelam as perdas da vegetação e da biodiversidade do Cerrado na região.
As publicações tem os seguintes temas “Vegetação no Distrito Federal”, “Subsídios ao Zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) Gama Cabeça-de-Veado e Reserva da Biosfera do Cerrado” e “Uma Abordagem Socioecológica do Parque Nacional de Brasília”, de Guilherme Cardoso Abdala, doutor em desenvolvimento sustentável pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB, faz uma análise dos impactos ambientais ocorridos na unidade de conservação.
As duas primeiras publicações foram produzidas pela UNESCO em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Reserva da Biosfera do Cerrado. Informações pelo telefone (11) 3887-8809.

 
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