A exploração da água subterrânea em centros urbanos

Mesa Redonda vai discutir a exploração do recurso hídrico subterrâneo em áreas urbanas, destacando a contaminação e a superexploração dos aqüíferos

É notável o crescimento do uso da água subterrânea para o abastecimento público e privado em centros urbanos no Brasil. Isso tem ocorrido devido aos custos da exploração de aqüíferos serem comparativamente menores que o recurso superficial. Outro fator está associado à perenidade e segurança que as águas subterrâneas oferecem, pois são pouco afetadas por períodos de estiagem. Somente no Estado de São Paulo, 75% dos núcleos urbanos são total ou parcialmente abastecidos por águas subterrâneas. Importantes áreas metropolitanas brasileiras são dependentes das águas subterrâneas, como grande maioria das capitais nordestinas, como Recife, Fortaleza, Maceió e Natal. A Região Metropolitana da Grande São Paulo, mesmo inserida em uma área de baixa vocação aqüífera, tem um intenso uso dos recursos hídricos subterrâneos. A exploração superava 8 m3/s em 2000 em um universo total de mais de 12 mil poços tubulares, num ritmo de 400 novas perfurações por ano. Pensando na importância dessa discussão, o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IG- USP) realiza no dia 11 de novembro, a mesa redonda Exploração da água subterrânea em centros urbanos. “Esse é um tema candente, devido a importância que a água subterrânea está desempenhando no abastecimento sobretudo privado. Veja o exemplo da Bacia do Alto Tietê, que é uma área que o poder público não dava muita atenção, pois os aqüíferos eram pouco produtivos. Aqui no ano de 2000, havia uma extração de 7,9 m3/s, que poderia potencialmente abastecer a 3,5 milhões de pessoas. Já a SABESP quando esta analisando o abastecimento aqui na Bat não leva em consideração estes números, que estão aliviando o seu sistema. Se por algum motivo houvesse essa exploração, o sistema de abastecimento da GSP entraria em colapso. Outro problema é que como estamos em área de forte ocupação, há possibilidade de contaminação do solo e aqüífero. O usuário privado na sua maioria não sabe identificar este problema. As análises que são geralmente requeridas não englobam os solventes halogenados ou hidrocarbonetos, que são extremamente tóxicos. A desinformação é um terrível problema. Há portanto a necessidade de buscar soluções factíveis que coloque lado a lado o direito do usuário por água de baixo custo e o direito pela perenidade e qualidade do recurso para a sociedade”, avalia Ricardo Hirata, um dos organizadores do evento.

A exploração do recurso hídrico subterrâneo em áreas urbanas requer cuidados, pois, há riscos inerente a este tipo de ocupação, como aqueles associados à contaminação e à superexploração dos aqüíferos. A complexidade urbanística dificulta a aplicação de medidas de controle eficientes e tecnicamente factíveis. Há falta de experiência no manejo dos recursos hídricos subterrâneos em países com aceleradas taxas de urbanização, o que têm dificultado os órgãos gestores do recurso a se posicionarem pro-ativamente nestas áreas.

É um direito do cidadão a exploração das águas subterrâneas, desde que autorizada pelos órgãos competentes. De acordo com Hirata, a discussão é importante por quatro motivos principais:

1. A exploração dos recursos hídricos subterrâneos tem-se incrementado muito em centros urbanos nas ultimas décadas.

2. É difícil de prever o quanto se pode extrair, pois o meio e a exploração são muito complexas. Há interferências de outros poços bombeando, há impermeabilização do terreno, que reduz a recarga; ha perdas da rede de água e esgoto, que aumentam esta mesma recarga.

3. É difícil controlar o usuário, pois haverá sempre a clandestinidade.

4. Há pouca experiência na gestão de áreas urbanas no mundo, sobretudo em países em desenvolvimento.

Diferentemente do sistema público de distribuição de água, onde a responsabilidade pela qualidade da água é da própria empresa concessionária, no caso de poços, cabe ao usuário avaliar esta qualidade e zelar pela sua manutenção. A grande maioria destes usuários não tem conhecimento dos problemas que podem afetar o seu poço e muito menos que tipo de análise laboratorial deve ser feita para atestar a sua potabilidade. Exames tradicionais como os bacteriológicos (coliformes fecais e totais) e de alguns parâmetros inorgânicos são insuficientes para atestar esta qualidade, sobretudo em zonas urbanas. Nestas é comum casos de contaminação por solventes halogenados e hidrocarbonetos, que requerem análises caras e restritas a poucos laboratórios no País. O caso da Vila Carioca, onde pessoas tomavam água retirada de poços próximos a uma planta industrial, ilustra bem este problema.

O complexo cenário motivou o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), com apoio da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, a organizar a mesa redonda “A exploração da água subterrânea em centros urbanos”. Este fórum de discussão tem como objetivo discutir os problemas de abastecimento público e privado com uso dos recursos hídricos subterrâneos e apontar para algumas soluções, a partir da grande experiência dos palestrantes convidados, que representam os principais órgãos de gestão e pesquisa. O evento é dirigido a profissionais e estudantes de recurso hídrico em geral e subterrâneo - em particular - e de meio ambiente. “A mesa redonda também será muito interessante para o cidadão interessado em qualidade de vida em grandes cidades e na problemática de abastecimento de água. Mesmo economistas e advogados também deveriam vir assistir, pois não existe nenhum empreendimento hoje em áreas urbanas, que não passe por uma avaliação de meio ambiente, de passivo ambiental. E o melhor, todos esses temas serão tratados no encontro”, destacou Hirata.

A mesa redonda “A exploração da água subterrânea em centros urbanos”, acontece no dia 11 de setembro, a partir das 14h . Na ocasião ocorrerá também a inauguração de dois poços tubulares, fruto da parceria entre o Instituto de Geociências da USP e a Judsondas Poços Artesianos. As captações servirão para o abastecimento do Instituto, bem como para pesquisas na área de manejo dos recursos hídricos subterrâneos e em atividades didáticas.

Um evento de grandes reflexões...

O diretor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Wilson Teixeira, em entrevista ao ABAS informa falou da importância da mesa redonda e da participação de todos os profissionais do setor.

O que os profissionais podem esperar desse evento?

A mesa redonda pretende trazer uma reflexão sobre o tema da água subterrânea em seus diferentes aspectos, incluindo legislação e política de gestão do recurso. Por tratar-se de um momento oportuno tendo em vista a inauguração de dois poços no instituto fruto de parceria com a Jundsondas.

E como está o uso da água subterrânea em São Paulo??

Há boas perspectivas, porém que demandam ações governamentais mais concretas, incluindo a fiscalização.

Que ações o IGc vem desenvolvendo junto às águas subterrâneas??

No campo do ensino e pesquisa o Instituto vem desenvolvendo esforços no sentido de ampliar o conhecimento do recurso. No campo institucional, ações tem sido empreendidas de utilização do recurso no campus da USP, aproveitando a capacidade instalada (poços já existentes), de modo a reduzir o consumo da água servida pela SABESP.

Qual a importância da participação de todos no evento??

Justamente por trazer uma representatividade no tema em seus vários aspectos. Com isso, a comunidade interna e externa terá uma visão global sobre o estado de arte do recurso e eventuais estratégias políticas da gestão do recurso hídrico.


 
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