ABAS comemora 25 anos de história de luta pelas águas subterrâneas

Jubileu de Prata reúne centenas de pessoas em São Paulo, numa cerimônia repleta de personalidades, discussões e mesas-redondas, enfatizando o crescimento da entidade a cada mês.

O dia 21 de outubro é uma data histórica, senão a mais festiva para a ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas. Fundada nessa data, a entidade comemorou neste ano, 25 anos de existência. A comemoração aconteceu no Espaço APAS Eventos, no auditório Antônio Dias Filho, no Alto da Lapa, em São Paulo, arrastando centenas de associados, empresários e autoridades. Os meios de comunicação se fizeram presentes para registrar a data festiva. O evento solene contou com uma programação de mesas-redondas e homenagens, incluindo discussões como desafios e conquistas das águas subterrâneas e o quadro do recurso subterrâneo no Brasil e no Mercosul. “Estar presente no Jubileu de Prata da ABAS e ainda exercendo a sua presidência é uma grande honra. Lembro-me das dificuldades de sua criação baseada no entusiasmo e na dedicação dos colegas coordenados pelo saudoso Renato Della Togna”, disse emocionado Joel Felipe Soares, o atual presidente da entidade.

História – A primeira reunião para formação da ABAS aconteceu no dia 19 de setembro de 1978, às 10h, no auditório da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB. A reunião foi presidida e coordenada por Renato João Baptista Della Togna, então presidente da CETESB. A reunião reuniu técnicos e representantes de entidades, interessados em águas subterrâneas, para deliberarem a respeito da constituição da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, a nossa ABAS. O edital foi previamente publicado na Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil, O Globo, Diário do Comércio e Indústria, e Jornal do Brasil, em 21 de agosto de 1978. Logo depois, no auditório da CETESB, também sob a presidência de Della Togna os interessados realizaram a primeira assembléia geral extraordinária para a fundação da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas.

Com a aprovação da Proposta dos Estatutos, a ABAS foi constituída formalmente. Os associados da nova entidade voltaram a se reunir, para eleição do primeiro Conselho Deliberativo e do primeiro Conselho Fiscal, de conformidade com o Art. 68 dos Estatutos, culminando na escolha de Renato Della Togna para presidir a ABAS. De lá pra cá, a entidade cresceu e escreveu uma história de luta e muitas conquistas. “A ABAS cresce a cada mês, isso fica claro pelo ABAS informa através do número de associados publicado mensalmente. Nos próprios congressos o grande número de trabalhos ajuda no crescimento da entidade. Ainda necessitamos de um espaço maior na composição política. Os representantes da ABRH, por exemplo, são atuantes no Governo Federal com presença em diversos postos de trabalho. A ABAS ainda não tem isso, portanto, resta ainda a conquista dos espaços políticos”, destaca Ernani Francisco da Rosa Filho, ex-presidente e membro atuante da entidade.

Solenidade - A mesa de abertura do Jubileu de Prata da ABAS foi composta pelo presidente da entidade, Joel Felipe Soares, Maria Manoela Alves Moreira, da Secretaria dos Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente e o presidente de honra do evento, Aldo da Cunha Rebouças. A primeira mesa redonda discutiu os aspectos da água subterrânea e seus desafios e conquistas. A mesa foi presidida por Maria Manoela, tendo como palestrantes do profº. Aldo e o presidente da ALSHUD, Mario Hernandez.

Durante a sua palavra, Maria Manoela afirmou que a Secretaria de Recursos Hídricos está trabalhando em parceria com todos os estados já que água subterrânea é de domínio do seu respectivo estado. A SRH está desenvolvendo o Plano Nacional de Recursos Hídricos e a partir do momento que apóia alguns planos estaduais de recursos hídricos envolvendo águas superficiais e subterrâneas, a proposta é dar algum suporte ao planejamento dos recursos subterrâneos, mesmo não sendo uma função federal da SRH ou da ANA. “Água subterrânea quase não é uma alternativa, é uma constatação! A maior parte da população já a utiliza, principalmente nas grandes cidades. A nossa preocupação é o gerenciamento sustentável desse recurso hídrico, pois da mesma maneira que acabamos com a água superficial em alguns locais do Brasil, a água subterrânea está sendo explorada de maneira irregular. Sem consciência ou planejamento, a água subterrânea ou superficial estará fadada à escassez. Mario Hernandez disse uma frase muito interessante: ‘o essencial é invisível aos olhos’. A água subterrânea está realmente dentro do essencial e por isso é invisível aos olhos dos usuários. Nós não percebemos a existência dela, mas a cada dia necessitamos mais dessa água”, destacou.

“A cooperação internacional é o principal foco”, explica Mario Hernandez, presidente da ALHSUD, referindo-se aos programas de gestão das águas subterrâneas. Para ele, os desafios são grandes, mas as conquistas maiores ainda. “Falamos português, falamos espanhol, falamos o conhecido portunhol, mas os problemas são os mesmos: uma grande preocupação com a gestão dos recursos subterrâneos”.

A segunda mesa redonda teve como tema as águas subterrâneas no Brasil e no Mercosul, tendo como presidente Benedito Braga Jr (presidente da ANA), e os debatedores Waldir Duarte Costa, Luiz Amore (Projeto Aqüífero Guarani) e Ricardo Borsari (Superintendente do DAEE). O ex-presidente da ABAS, Waldir Duarte da Costa explicou sobre a super exploração da água subterrânea no semi-árido nordestino. “Uma preocupação que já começa a surgir na região nordeste, é a sobre-exploração dos aqüíferos, com riscos de exaustão, salinização e até subsidências, como ocorreu em vários países do mundo”, alertou.

O secretário do Projeto Aqüífero Guarani, Luiz Amore, palestrou sobre águas subterrâneas e deu uma aula prática sobre o maior reservatório subterrâneo do mundo. Amore enfatizou que conscientização ainda é a melhor estratégia para garantir a gestão das águas subterrâneas. “A população nem imagina que está sobre a superfície de um aqüífero e que a água que sai da sua torneira é água subterrânea. Essas informações precisam vir à tona para que se inicie um verdadeiro processo de reeducação ambiental envolvendo a água subterrânea e outros recursos hídricos. É bom lembrar que o aqüífero é uma caixa d’água, só que subterrânea: tem entrada, tem fluxo e tem saída e as pessoas precisam aprender a gerenciar isso”, disse.

Em 25 anos a ABAS ganhou notoriedade, credibilidade e principalmente forjou importantes laços de amizade e parceria. São ações contínuas que divulgam diariamente o nome da associação. “As parcerias são uma condição do Governo, já que uma das linhas da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é a participação popular. O Ministério do Meio Ambiente e a SRH estão abertos às parcerias com ONG’s e especialmente com associações como a ABAS”, declarou Maria Manoela.

Palavra do Presidente

“Tivemos nossos objetivos alcançados tanto no setor científico quanto tecnológico”

O Presidente da ABAS Nacional Joel Felipe Soares, abriu a solenidade ao lado das Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo 2003/2004. Em seu discurso, enfatizou as ações e o crescimento da entidade em todo o país:

“Constatamos nesses 25 anos a legitimidade da ABAS como a representante dos profissionais das águas subterrâneas destacando entre suas realizações a luta pela legislação das águas subterrâneas com sua implantação em vários estados. A realização de 12 congressos nacionais, treze encontros de perfuradores e a realização de inúmeros cursos na hidrogeologia, além de parcerias com entidades congêneres nacionais (ABRH) e internacionais (ALHSUD, NGWA, IAH, etc). outro fator importante a ressaltar é a existência de 11 núcleos regionais divulgando as águas subterrâneas em todos estados do Brasil. Já o aumento significativo do número de sócios coletivos ou individuais e a criação do programa de qualificação de empresas com a atividade em hidrogeologia e as águas subterrâneas e o credenciamento e selo de qualidade da ABAS. Parceira do Banco do Brasil para financiamento de obras e equipamentos para o setor de águas subterrâneas. Sua criação foi o passo mais importante do setor para congregar os esforços de hidrogeólogos e demais especialistas em recursos hídricos, empresários de construção, operação e manutenção de poços, fabricantes, fornecedores em equipamentos e materiais, empresas públicas e privadas de abastecimento, usuários e a sociedade em geral tinha como meta superar um quadro de improvisação no setor tecnológico e total abandono legal e institucional em que se encontravam as águas subterrâneas. Tivemos nossos objetivos alcançados tanto no setor científico quanto tecnológico, porém, o mesmo não podemos dizer do setor institucional. Nós, que somos a ABAS, continuamos o nosso trabalho nos atuais comitês de bacia onde são tomadas as decisões sobre a utilização dos recursos hídricos no nosso País. Nossa luta vai continuar em busca dos objetivos onde com certeza, vamos superar as dificuldades técnicas tanto na construção quanto na operação das obras de captação das águas subterrâneas, criando para os tomadores de decisão uma opção financeiramente econômica e ambientalmente limpa para a solução do abastecimento público sem que sejam obrigados a optar sempre por projetos caros de captação e tratamento de águas de rios cada vez mais poluídos. Obrigado e parabéns a todos os nossos associados”.

ABAS homenageia destaques no setor de recursos subterrâneos

Ao término do evento, a ABAS prestou uma homenagem às empresas e profissionais que se destacaram no setor de águas subterrâneas e do meio ambiente. Os homenageados foram programa Repórter Eco da TV Cultura, CPRM, PETROBRAS e SABESP, além de Ricardo Borsari e Urbano Pires Correia Netto, pelo pioneirismo no DAEE e Sudene, respectivamente. Logo em seguida ocorreu a homenagem “in memorian”, dos profissionais que contribuíram para a divulgação a ABAS: Renato Della Togna, o primeiro presidente da ABAS, Álvaro Amoretti Lisboa, pelo destaque no Paraná/SUDERHSA e Inal Pontes de Carvalho, empresário pioneiro na região Sul.

Repórter Eco – O prêmio da TV Cultura foi entregue por Carlos Eduardo Dornelles Vieira a Vera Lúcia Diegoli, editora do Programa Repórter Eco da TV Cultura. “Eu fiquei muito emocionada com essa homenagem de uma entidade tão importante quanto a ABAS. O Repórter Eco é um programa que já existe há oito anos e graças ao esforço de uma equipe, conseguimos um certo respeito no meio acadêmico e científico na divulgação dos projetos e ações pela conservação do meio ambiente. Essa homenagem representa pra equipe o reconhecimento da seriedade do nosso trabalho voltado para o interesse público. O desafio a cada dia é que a gente consiga passar as informações e pesquisas tão importantes desenvolvidas por estudiosos. Só assim a população em geral vai entender a importância de conservar o único recurso do planeta que não pode ser substituído, que é a água. Nós temos uma missão muito grande pela frente em função dessa crise drástica que vai haver daqui há 25 anos e que deve atingir no mínimo 2 milhões de habitantes, segundo a ONU. Nós jornalistas da área de meio ambiente e entidades como a ABAS temos que fazer novas parcerias para divulgar incessantemente as informações sobre necessidades de gestão adequada das águas subterrâneas e conservação dos nossos recursos hídricos. Infelizmente a população ainda tem uma idéia errada sobre a água, já que o brasileiro vê a água como um recurso infinito por falta de uma educação ambiental adequada. Espero que a gente consiga manter a nossa qualidade de trabalho como educadores ambientais e dignidade na transferência nas informações científicas de pesquisadores para a comunidade em geral. Prometo que o Repórter Eco vai continuar trabalhando para que o meio ambiente seja o centro de divulgação de jornalismo na TV Cultura”, afirmou Vera.

Urbano Corrêa Netto – O prêmio foi entregue por Walter Galdiano Gonçales a um dou primeiros empresário do mercado de perfuração. “Gostei da homenagem! Estou fora de ação, mas continuo como diretor presidente da Prominas – uma das primeiras empresas a fabricar equipamentos de perfuração no Brasil. A água subterrânea devia ter uma utilização bem maior. As pessoas não dão muita importância para os recursos hídricos e água é dinheiro, portanto devemos cuidar muito bem dela”, avaliou.

CPRM - O prêmio da CPRM foi entregue por Carlos Eduardo Giampá a José Ribeiro Mendes, diretor de hidrologia e gestão territorial. A homenagem da Petrobras foi entregue por Waldir Duarte da Costa ao representante da estatal, Ricardo Latge.
Logo em seguida, o professor Aldo da Cunha Rebouças fez a entrega de uma placa de prata a Sudene, sediada na cidade do Recife. A homenagem foi recebida pelo professor Waldir Duarte da Costa. Já João Carlos Simanke de Souza homenageou o Dr. José Everaldo Vanzo, representante da SABESP.

DAEE – A homenagem foi entregue por Uriel Duarte do Instituto de Geociências da USP ao Dr. Ricardo Borsari, Superintendente do DAEE. “A homenagem foi muito importante porque qualifica o trabalho que o DAEE vem desenvolvendo há muitos anos. Essa homenagem também mostra a parceria interessante entre uma entidade técnica e uma de Governo”, disse Borsari.

Aldo da Cunha Rebouças – A surpresa ficou para a homenagem a Aldo da Cunha Rebouças;
Joel Felipe Soares, presidente da ABAS – entregou a homenagem ao Prof. Aldo da Cunha Rebouças, o presidente de honra do Jubileu de Prata. “Não estava preparado e foi uma surpresa total. Essa homenagem foi uma boa massagem no ego” disse o homenageado.

Renato Della Togna – A homenagem in memorian foi entregue pelo presidente da ABAS, Joel Felipe Soares ao Sr. Renato Della Togna Filho. “Vejo essa homenagem com muito carinho já que meu pai foi um grande incentivador das águas subterrâneas e trabalhou pelo bem comum de um categoria. O ato entrou para a história e vem sendo lembrado 12 anos após a sua morte. Eu fico muito feliz esperando que esse exemplo sirva para que o Brasil tenha uma qualidade de vida melhor em todos os âmbitos sociais. Meu pai prezava muito isso, pensava primeiro nos outros e depois nele. Agradeço a todos que direta ou indiretamente trabalharam para que o seu nome ficasse enaltecido com muita integridade”.

Álvaro Amoretti Lisboa – A segunda homenagem in memorian foi entregue a Rosemary Lisboa, esposa de Álvaro Amoretti Lisboa. O prêmio foi entregue por Ernani Francisco da Rosa Filho. “Quero agradecer esse convite pela ABAS e até comentei com minha filha que também estava fazendo bodas de prata juntamente com a entidade. O Lisboa tinha duas paixões: a família e a hidrogeologia e nesse ano de 2003 ambas estariam completando 25 anos. O Álvaro era um mestre, uma pessoa simples com muita sabedoria. Eu tive o privilegio de conviver com ele 25 anos e meu marido só tinha amigos e de todas as idades. Um amigo especial era o professor Riad Salamund da Universidade Federal do Paraná. Ele tinha qualidades especiais como a confiança e a transparência. Como esse é um momento único finalizo com a seguinte leitura: “Você diz que o tempo passa... Não, o tempo fica. Nós é que passamos. Você ama a vida? Não? Desperdice então o tempo pois é dele que se compõe a vida. O tempo é talvez o único dom pelo qual cada ser humano é igualmente responsável. O Álvaro cumpriu seu tempo e ele foi uma pessoa muito especial nessa vida!”

Inal Pontes de Carvalho – A terceira homenagem in memorian e última da noite foi entregue por Lauro César Zanatta a Sra. Santa Pontes de Carvalho, esposa do saudoso Inal Pontes de Carvalho. “Eu fiquei muito feliz de reconhecerem que ele foi um homem importante para as águas subterrâneas desse país. Essas discussões são importantíssimas porque água é vida e precisa ser tratada com carinho, com providências imediatas para evitar a escassez”, disse

 

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