A água na terra está se esgotando?

Fábio Luiz de Oliveira
doutor em Agroecologia e professor da Unitins

O relatório anual das Nações Unidas faz terríveis projeções para o futuro da humanidade. A ONU prevê que em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá contar com a porção mínima individual de água para necessidades básicas. Segundo dados estatísticos existem hoje 1,1 bilhão de pessoas praticamente sem acesso à água doce. Estas mesmas estatísticas projetam o caos em pouco mais de 40 anos, quando a população atingir a cifra de 10 bilhões de indivíduos.

Os dados que são utilizados pela mídia mundial são: de toda a água disponível na terra 97,6% está concentrada nos oceanos. A água fresca corresponde aos 2,4% restantes. Você acha 2,4% pouco? Então ouça isso: destes 2,4% somente 0,31% não estão concentrados nos pólos na forma de gelo. Resumindo: de toda a água na superfície da terra menos de 0,02% está disponível em rios e lagos na forma de água fresca pronta para consumo.

A partir destes dados projeta-se que a próxima guerra mundial será pela água e não pelo petróleo. Mas antes de polemizar o assunto, é muito importante dizer que apesar de termos a impressão de que a água está desaparecendo, a quantidade de água na Terra é praticamente invariável há centenas de milhões de anos. Ou seja, a quantidade de água permanece a mesma, o que muda é a sua distribuição e seu estado. Um exemplo é a Amazônia, o lugar que contém apenas 20% da população brasileira e detém mais de 70% água potável superficial do Brasil.

A distribuição da água no Mundo é muito desigual, cabendo aos países, em caráter de urgência, desenvolver tecnologias que permitam a captação, armazenamento e preservação da água e seus mananciais. Soluções imediatas para essa questão seria:

Dessalinização: a dessalinização das fontes com salinidade elevada será a solução para vários países que tenham o capital, a tecnologia e o acesso à água salgada.

Tratamento de águas servidas: no processo de gerenciamento de águas este é um ponto fundamental. No Brasil cidades como Brasília estão se destacando no tratamento e reaproveitamento dessas águas.

Captação das águas da chuva: em países com estações chuvosas é possível maximizar os reservatórios e estoques de água pelo uso inteligente da água de precipitação.

A água somente passa a ser perdida para o consumo basicamente graças à poluição e à contaminação. São estes fatores que irão inviabilizar a reutilização, causando uma redução do volume de água aproveitável da Terra.

O principal uso de água é, sem dúvida nenhuma, na agricultura. E a agricultura, quando mal praticada, contribui para a contaminação. A prática da agricultura deve seguir preceitos de conservação dos recursos naturais. Nunca se esquecer que a prática da agricultura tem influência direta e indiretamente na qualidade de vida e no futuro da população.

O nosso país é privilegiado. Temos gigantescas reservas de água praticamente em todos os Estados com exceção dos situados no semi-árido do Nordeste. Existem reservas simplesmente gigantescas, maiores ainda que aquelas contidas nos rios e lagos de superfície. São as reservas dos aquíferos subterrâneos. O maior aqüífero conhecido do mundo, o Aqüífero Guarani, está localizado em rochas da Bacia Sedimentar do Paraná. Este super-aquífero estende-se pelo Brasil, (Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul com 840.000 Km).

Porém estima-se que, por ano, o Aquífero Guarani receba 160 quilômetros cúbicos de água adicional, vindas da superfície. O que pode ser considerado um problema, se estas águas superficiais estiverem contaminadas. Mas, se começarmos logo a agir de maneira a extinguir a poluição e a contaminação das águas, esse fato pode ser um alívio para o fantasma da escassez.

A água da terra não está acabando. O valor da água deverá aumentar consideravelmente pois existem países carentes que terão que utilizar tecnologias caras ou importar água de países ricos. O Brasil poderá não ter problema de falta de água, se os governantes investirem adequadamente no gerenciamento, armazenagem, tratamento e distribuição das águas. E se nós, cidadãos evitarmos a poluição das águas e cobrarmos dos Governantes ações enérgicas para os poluidores do meio ambiente.

 
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