Defendendo
a sonda a percussão
Egmont Capucci
Diretoria de projetos e Obras do Cedae
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Lendo a publicação Uso Inteligente Da
Água do ilustre geólogo Aldo Rebouças, chamou atenção
o texto do terceiro parágrafo da página 83, referente
a Gestão Ativa dos Aqüíferos, onde se lê: “Os
métodos modernos de perfuração de poços,
tais como os rotativos e pneumáticos, são mais rápidos
e eficientes do que a tradicional percussão. Porém, mercê
da grande velocidade de perfuração, já não
se tem o tempo necessário para se fazer uma boa locação,
tornando-se necessário quatro ou mais especialistas por equipamento,
em lugar de se ter quatro ou mais equipamentos por geólogo, por
exemplo. Os métodos modernos não fornecem uma boa amostragem
do material atravessado para definição de um bom perfil
geológico”. (onde daí em diante eu gostaria de acrescentar)...
bem como não permitem por força de prejuízo do
perfurador a escolha alternativa do método a percussão,
quer por este método utilizar na fase de perfuração
o emprego de serviços artesanais, quer por raramente se dispor
de sondadores qualificados para tal.
Ora, sabemos que reconhecidamente a sonda a percussão
é lenta, mas quando bem equipada e operada, é comprovadamente
o método de perfuração que oferece mais qualidade
que o método roto - pneumático quando se opta por serviço
bem feito e sem pressa, no caso de poço construído em
terreno de geologia cristalina.
Assim, tudo o que se refere a confecção
da perfuração via percussora é melhor executado,
como:
(i) o emprego de tubos de bater nas camadas frouxas quando da necessidade
de se aplicar filtros, geralmente sem emprego de flúidos de perfuração.
(ii) a correta confecção do furo relativo a alinhamento,
verticalidade e diâmetro adequado para instalação
e refrigeração da bomba submersa.
(iii) ausência de óleos de lubrificação do
martelo potencialmente contaminantes,
(iv) e finalmente a confecção de um correto encaixe do
revestimento obrigatoriamente de aço por meio de pancadas do
martelo no maciço são.
Deve ser ainda considerado que a sonda a percussão possui grande
margem de recursos disponíveis em situações de
perfuração adversas, como por exemplo alternância
de camadas duras e moles eventualmente encontradas a grandes profundidades,
prisão de ferramentas, caimento de paredes, pescarias de ferramentas,
etc. onde a prática tem demonstrado nestes casos que a solução
definitiva da melhor conclusão da obra é substituir a
moderna roto pneumática por um bom sondador no comando de uma
velha percussora, mesmo a custa de sacrifícios da equipe da perfuração,
como necessidades de serviços de alargamento do furo, apontamento
de brocas de grandes diâmetros a elevadas temperaturas e manuseio
de pesadas ferramentas, além dos perigos de acidentes diversos
que o emprego desta sonda representa.
No meu entender, a solução da continuidade de seu emprego
seria aliviar ao máximo o trabalho do sondador e sua equipe tentando
diminuir seu tempo de perfuração, como por exemplo equipa-la
com macacos hidráulicos que substituam o famoso “chicão”,
além dos equipamentos de praxe, como grupo gerador, máquina
de solda e a acetileno, brocas de bolas e em caso imprescindível
de alargamento utilizar trépanos já batidos na própria
sede da empresa. Sugere-se ainda caso possível aumentar o número
de funcionários, (por exemplo a vinda de um soldador exclusivo
para a fase de revestimento).
Evidentemente, quando o cliente opta por qualidade, o projetista deverá
avisa-lo que terá que pagar mais por maior tempo de execução
de obra.
O que não pode ocorrer é o abandono por completo deste
método de perfuração, sob pena de se constatar
um crescente número de poços mal construídos com
altas perdas de carga e/ou produzindo água contaminada, motivados
basicamente por:
(i) desinformação do usuário que o leva sempre
a optar pela escolha do menor preço, esquecendo-se do item garantia
de qualidade.
(ii) proliferação e concorrência desleal dos maus
consultores e perfuradores, trabalhando com baixos preços e construindo
poços em desobediência as normas construtivas elaboradas
pela ABNT.
Sabemos que uma das causas da quantidade de poços mal construídos
advém também da falta de alternativas que o projetista
convive quando sabe que não pode contar com o emprego de sonda
a percussão na elaboração de seu projeto, mesmo
que especificadas apenas para confeccionar a cabeça do poço.
Neste caso, assim julgado conveniente, o projetista deverá especificar
e orçar junto ao cliente projetos distintos, advertindo a execução
de sua qualidade, a saber:
(i) projeto para poço construído exclusivamente com roto-pneumática.
(tempo de execução previsto, 3 a 5 dias, para poço
de 100 metros devendo sempre ser vedado perfurar por dentro do revestimento
definitivo).
(ii) projeto para poço construído com a cabeça
a percussão e aprofundamento do furo com roto pneumática.
(tempo de execução previsto, 7 a 10 dias, 100 metros de
profundidade)
(iii) projeto de poço construído exclusivamente com percussora,
(tempo de execução 30 a 40 dias, 100 metros de profundidade).
(iv) projeto de poço construído exclusivamente com percussora
para captação de água mineral. (tempo de execução
de 50 a 70 dias, incluindo-se aqui a execução de testes
de bombeamento a cada entrada de água, perfilagem ótica,
e bombeamento com obturadores pneumáticos em profundidades selecionadas).
Evidentemente, entende-se assim porque o método de perfuração
levou a percussora a cair em abandono no mercado de poços, mesmo
em obras de captação de água mineral.
Nós os projetistas, vez por outra somos forçados a contra
gosto a recusar serviços junto ao cliente, quando é sabido
que:
(i) Na fase de locação, há necessidade de se perfurar
em local apertado, onde não é possível instalar
uma roto-pneumática.
(ii) resolver casos tipo “abacaxis” em que poços
contratados sem projeto e confeccionados exclusivamente por roto pneumática
produziram água contaminada possivelmente por má confecção
do encaixe do revestimento, embora o revestimento em aço possa
até ter sido aplicado. Ou outras vezes por terem sido perfurados
descuidando-se em identificar previamente qual o trecho do furo que
produziu água contaminada, geralmente ferruginosa, permitindo
caso se perfurasse com mais vagar o isolamento da fratura com água
de má qualidade por meio da reabertura do furo e aplicação
do revestimento definitivo a maior profundidade, mesmo em detrimento
de sua quantidade.
Deve ser revisto ainda que nos casos onde aceita-se tecnicamente o emprego
exclusivo da sonda roto – pneumática,(como no norte do
Estado do Rio, onde é escassa a cobertura de solos) a maioria
dos poços são executados perfurando-se por dentro do revestimento,
com efeitos nocivos principalmente para a bomba, referente a confecção
de uma apertada câmara de bombeamento.
Assim, a perda de qualidade na execução de nossas obras
poderá levar o mercado de água subterrânea ao descrédito,
pois além das mazelas que nos afligem, como a cultura tradicional
de grandes obras, pequeno número de profissionais qualificados,
e agora as complicadas exigências de outorga, o abandono do método
de perfuração a percussão é mais uma mazela
que poderá estar ajudando a nos levar para o fundo do poço.
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