Agronegócio: maior consumidor da água do planeta

De toda a água consumida no planeta, mais de 78% são destinados às atividades agrícolas. No caso do Brasil, cuja economia está calcada no agronegócio, isso tem importância ímpar. “Hoje, não se exportam apenas grãos, mas também água”, afirma o presidente do núcleo Centro Oeste da Abas, Maurício de Sant’Ana Barros. Ele explica: um país como a China, importador da soja brasileira, não possui área suficiente para produzir o alimento que consome. Mas também não conta com a água que seria necessária para a produção.

“A água é o principal insumo da agricultura. Por isso, é fundamental discutir o uso adequado da água para o desenvolvimento sustentável. Não se tratam de proibições, pois ninguém quer parar a produção agrícola. Trata-se apenas de criar e implantar políticas de redução de danos”, diz Maurício. Ele lembra ainda que, uma vez que 97% da água disponível é subterrânea, ela é muito importante para o agronegócio. Como exemplo, cita o processo de irrigação, que é mais necessário no período da seca. Quando a irrigação utiliza a água de um córrego como fonte, vai acabar sendo necessário fazer uma barragem - e alguém vai ficar sem água mais abaixo. Usando a água subterrânea, pode-se abrir um poço próximo ao pivô central. “A própria tecnologia do pivô central também precisa ser discutida, porque consome água em excesso”, ressalta Maurício.

Para ele, no entanto, a discussão precisa extrapolar a questão ambiental. O incentivo à horticultura e à fruticultura, por exemplo, como fator de geração de emprego, redução de custos e fixação do homem no campo, precisa fazer parte das pautas. A questão energética também. “Hoje, a produção do álcool está consolidada, e estamos engatinhando no biodiesel, que são tecnologias brasileiras que podem reduzir a massa de poluição nos centros urbanos. E toda a produção depende de água”, lembra.

O assunto será tema de uma das mesas redondas durante o XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas.

Atividades agrícolas e combustíveis podem contaminar água subterrânea

As águas subterrâneas correspondem à maior parte de toda a água doce disponível no planeta. Mesmo “protegidas” debaixo de camadas de solo, no entanto, estão sujeitas à contaminação por uma série de substâncias. Os combustíveis e os defensivos agrícolas são exemplos de poluentes em potencial e serão temas de conferência no XIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, que vai de 19 a 22 de outubro, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá. “A atividade agrícola e os combustíveis geram tipos totalmente diversos de contaminação. A própria legislação é totalmente diferente em relação a essas atividades”, comenta o conferencista Everton de Oliveira, geólogo e PhD em Hidrogeologia. Ele explica que, no caso dos combustíveis, o licenciamento ambiental é obrigatório para a instalação de postos de abastecimento ou armazenamento em geral. Em Mato Grosso, por exemplo, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema) tem o poder de autuar e exigir reparos em caso de vazamento de combustíveis. Nos postos, o combustível fica armazenado em grandes depósitos abaixo do solo. Problemas com a vedação desses depósitos ou das linhas que levam o produto às bombas podem gerar contaminação. A proximidade com áreas residenciais são um dos principais fatores de risco. Everton explica que o estudo da toxicidade é baseado em três fatores, que são o trinômio de risco: a fonte, o receptor potencial e o vetor, que une a fonte ao receptor. A fonte pode ser o solo ou a água contaminada, por exemplo. O receptor potencial, as pessoas que podem ser contaminadas. E o vetor pode ser a inalação, ingestão ou o contato com o elemento tóxico. Ele exemplifica: “No caso da contaminação da água, o risco de toxicidade costuma ser potencializado, em função ao alto nível de utilização pela população”.

O crescimento expressivo da atividade agrícola em Mato Grosso, com o aumento conseqüente do uso de insumos agrícolas, gera preocupação com a questão da contaminação, principalmente em função de parte da região sul do Estado estar sobre o Aqüífero Guarani, uma das principais reservas de água subterrânea do planeta. Everton explica que, em geral, os pesticidas mais utilizados são pouco solúveis em água, para evitar que sejam levados facilmente pelas chuvas. “Esse material costuma ser usado em forma de emulsão, e o solo acaba retendo a maior parte dos resíduos. Isso não significa que não haja risco de contaminação da água também, com o uso em grande escala”, explica Everton.

A legislação em relação ao assunto, porém, é menos restritiva. “Não existe necessidade de licenciamento ambiental para aplicação de pesticida, então os órgãos estaduais não têm poder de fiscalização”, diz o geólogo. Em caso de detecção ou suspeita de contaminação, é necessário passar o caso ao Ministério da Agricultura ou do Meio Ambiente. A comercialização do defensivo é condicionada à apresentação de receituário assinado por engenheiro agrônomo, porém não há controle sobre a aplicação dos produtos.

A conferência “Contaminação de águas subterrâneas por atividade agrícola e depósito de combustíveis” acontece no dia 21 de outubro. A programação do congresso inclui ainda temas como o Aqüífero Guarani, múltiplos usos das águas subterrâneas, saneamento básico, agroindústria, águas minerais, artesianismo, hidrotermalismo, recarga artificial de aqüíferos, uso racional e reuso da água. O congresso tem apoio de vários órgãos do Governo Federal e instituições ligadas à questão da água, além do CNPq, Capes e, no Estado, a Fema, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), a Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat) e o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT).

 
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