Água
subterrânea no sistema nacional de gerenciamento
dos recursos hïídricos
Embora se diga que a gestão dos recursos hídricos
no Brasil é integrada na forma da lei Federal 9.433/97, na prática
e tradicionalmente, só as águas que fluem visíveis
pelos rios ou o Blue Water Flow é que tem sido objeto das análises
de gerenciamento. Falta na nossa forma de análise de gerenciamento
integrado, uma que enfoque não somente as águas de uma
bacia hidrográfica, mas sua forma de gerenciamento integrado,
tal como considerar a parcela da água de chuva que infiltra e
dá suporte ao desenvolvimento da cobertura vegetal, inclusive
a mata ciliar, ou o Green Water Flow. Igualmente, falta considerar os
fluxos subterrâneos que deságuam nos rios durante os períodos
sem chuvas nas respectivas bacias hidrográficas, de tal forma
que sobre mais de 90% do território nacional os rios nunca secam
graças aos fluxos subterrâneos ou Gray Water Flow que recebem.
Por sua vez, as empresas de água no Brasil precisam ser mais
eficientes na oferta da gota de água disponível. Segundo
o IBGE, 2000, 64% delas não coletam sequer os esgotos que geram
nas cidades que abastecem e os índices de perdas totais da água
tratada injetada nas redes de distribuição nas nossas
cidades, variam entre 30 e 60%. Por sua vez, as atividades agrícolas
que consomem cerca de 70% de toda a água disponível, segundo
a FAO, têm projetos elaborados onde perdem mais de 73% dos volumes
fornecidos
Além disso, as empresas de água no Brasil precisam considerar
que nem toda a água que consumida numa cidade, por exemplo, necessariamente,
tem que ser tratada, cloretada e até fluoretada ou potável.
Muita da água que é usada nas cidades, tais como, para
irrigação de gramas públicas ou privadas, lavagem
de ruas, pátios e garagens, descargas sanitárias, abastecimento
de torres de refrigeração das industrias, controle da
penetração de águas marinhas nos aqüíferos
costeiros, água usada nas atividades agrícolas em geral,
lavagem de carros, etc., pode ser não potável ou de qualidade
pouco controlada, tais como águas de poços, enchentes
ou do escoamento de terrenos de mais de 500 m2 de área, por exemplo,
reúso das águas de esgotos mediante a infiltração
de esgoto tratado nos terrenos pelo método ASR, por exemplo -
Aquifer Storage Recovery cuja redução dos custos do tratamento
convencional chega a ser de até 70% e toda uma gama de atividades
urbanas, por exemplo, onde a água usada não precisa ser
potável.
Além disso, com os dois benefícios econômicos principais
engendrados pelo reúso ou reciclagem da água, proporcionados
pelo mercado global como prova de que adotou-se a boa política
do desenvolvimento sustentado – mais água como fator de
produção e a boa imagem do empreendimento - fica difícil
continuar na idéia tradicional de construção de
obras extraordinárias para aumentar a oferta de água,
sem muita preocupação com os desperdícios, degradação
da qualidade em níveis nunca imaginados e formas desordenadas
de ocupação do espaço físico na área.
A partir da Rio-92, principalmente, os paises mais desenvolvidos, donos
do mercado internacional, passaram a dar mais importância a quem
mostra que saber usar a gota de água disponível com eficiência
crescente, ou seja, produzindo cada vez mais com cada vez menos água,
do que ostenta sua abundância ou escassez. Assim, ou o Brasil
decide inserir a água subterrânea no sistema nacional de
gerenciamento dos seus recursos hídrico, passa a exigir maior
eficiência das suas empresas de águas, ou vai enfrentar
a ganância dos países mais ricos, sobretudo, porque estes
tem a visão de abundância sendo dada pelos rios que nunca
secam, com os amazônicos.
Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências, Pesquisador Inst.
Estudos Avançados-Universidade de São Paulo, Consultor
Secretaria Nacional de Recursos Hídricos
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