Pesquisadores intensificam estudos dos aqüíferos paulistas
O Estado de São Paulo é o mais populoso
do País, com cerca de 37 milhões de habitantes, de acordo
com o senso do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– realizado em 2000. A Região Metropolitana (RMSP) tem
aproximadamente 18 milhões de pessoas, quase 10% de toda a população
do Brasil. No entanto, 80% das águas brasileiras estão
na Bacia Amazônica e somente 1,6% são paulistas. Dorothy
Carmen Casarini, gerente de Qualidade do Solo, Águas Subterrâneas
e Vegetação da Cetesb – Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental, afirma que o problema de São Paulo,
em especial da RMSP, não é a falta d’água,
mas o excesso concentrado de habitantes. “É uma região
abundante em água, uma das que mais chove no Brasil. Não
é que falta água, é excesso de população.
Os governantes não podem mais permitir que a cidade cresça,
porque a água já está comprometida”, declara.
Com excessiva população e água insuficiente, os
municípios paulistas tiveram de recorrer a fontes alternativas
e hoje 72% deles são total ou parcialmente abastecidos por águas
subterrâneas, segundo o Relatório de Qualidade das Águas
Subterrâneas no Estado de São Paulo 2001-2003 da Cetesb.As
análises feitas em 162 pontos de monitoramento em todo o Estado,
que abrangeram os seis principais aqüíferos (Guarani, Bauru,
Cristalino, Tubarão, Serra Geral, Taubaté e Formação
São Paulo), mostraram que 90% das amostras apresentaram qualidade
excelente e somente 10% foram classificadas como aceitáveis,
o que significa que precisam passar pelo tratamento convencional antes
de serem consumidas. O estudo revelou também que as águas
subterrâneas do Estado vêm mantendo o bom nível de
qualidade em relação ao levantamento feito de 1998 a 2000
e poderão ser um valioso complemento para o abastecimento público,
em especial na RMSP, que hoje já consome 8 m³/s de recursos
subterrâneos integrados aos sistemas produtores superficiais,
que fornecem ao todo 68 m³/s para a população. Na
região oeste do Estado, 80% das cidades tem captação
exclusivamente subterrânea, o que é explicado pelo fato
de que na região estão parte de dois dos maiores aqüíferos:
o Guarani, maior manancial subterrâneo de água doce do
mundo, com 840 mil km² só em território brasileiro,
e o Bauru, que se estende de norte a sul do Estado e ocupa 42% da área
paulista. Estima-se ainda que a Grande São Paulo possua mais
de 10 mil poços para o abastecimento de 95% das indústrias,
hospitais, hotéis de luxo, condomínios e clubes, fornecendo
água para cinco milhões de pessoas somente deste segmento,
de acordo com o levantamento feito em julho de 2001 pela Secretaria
de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente. Apesar
de o Estado estar em muitas zonas de aqüíferos abundantes,
chamados sedimentares, a região leste, que compreende também
a Grande São Paulo, possui apenas aqüíferos rasos,
já que o subsolo é formado por rochas cristalinas e densas.
É importante, contudo, o uso adequado dos recursos subterrâneos
para não haver prejuízos à própria população
e ao meio ambiente. A gerente da Cetesb explica que é preciso
priorizar a água subterrânea para o abastecimento público
e saber utilizá-la. “Não é que haja problemas
de esgotamento de águas subterrâneas. O que acontece é
que, em geral, as pessoas têm interesse em locais concentrados,
como na avenida Paulista. Aí, acabam construindo poços
muito próximos. Isso faz com que o nível do aqüífero
vá abaixando e o poço seca”, explica Dorothy. “O
problema da superexploração é que alguns locais
têm muitos poços e outros não têm”,
afirma Uriel Duarte, professor de Recursos Hídricos e Geologia
Ambiental do Instituto de Geociências da USP e presidente da ABAS,
que também alerta para o problema da clandestinidade. “A
má construção dos poços pode contaminar
as águas subterrâneas”, esclarece o pesquisador.
Poços e escavações irregulares, que não
possuem licença de operação e outorga do Daee,
podem acarretar em graves contaminações dos lençóis
freáticos, prejudicando a vegetação e transmitindo
várias doenças. Atualmente está sendo finalizada
uma resolução que deve unir três secretarias estaduais:
de Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Saúde. Assim,
seus respectivos órgãos responsáveis (Daee, Cetesb
e Vigilância Sanitária) vão agir em conjunto em
busca de avaliar as águas subterrâneas como alternativa
para o abastecimento da Grande São Paulo. O documento está
em fase de aprovação pelo departamento jurídico
de cada uma das secretarias.
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