Fluido
de Perfuração: Reboco é “parede”?
A conferência sobre Fluidos de Perfuração prevista
para o próximo Encontro de Perfuradores, em Ribeirão
Preto, abordará um item importantíssimo nas sondagens
rotativas – o reboco. Poços de água ou petróleo,
furos de sondagem, perfurações horizontais não-destrutivas,
etc., utilizam um fluido capaz de gerar camadas envoltórias
conhecidas como reboco. O setor de petróleo intitula-o cake-mud.
Já os que trabalham ao pé da sonda, operadores e auxiliares,
usam uma espécie de classificação própria
– “quem forma ou não forma parede no poço”.
“– Este produto (ou esta lama) é capaz de formar
parede??? “
Esta é pergunta freqüente do pessoal de campo ao se deparar
com novas tecnologias e composições em fluidos.
O conceito de parede origina-se provavelmente das técnicas
de construção dos poços caipiras, onde a parte
mole de solo é escorada por uma parede de tijolos.
Mas a dúvida continua, será que o reboco de um fluido
moderno, a base polímeros, é também uma espécie
de parede? É ele que não deixa o poço desmoronar?
E afinal de contas, esta parede tem argamassa, massa corrida e pintura?
A Verdadeira Parede
É comum chamarmos de “paredes do furo” a superfície
cilíndrica da formação geológica resultante
de uma perfuração. E quando esta se dá em aqüíferos
não há como evitar que a permeabilidade local seja alterada.
Compactações, invasões de sólidos e filtrados,
colmatações, ocorrem em maior ou menor intensidade e
influencia a produtividade do poço. Quem pode ajudar neste
momento é o fluido de perfuração. O fato de ele
ser de baixo teor de sólidos e mantido assim durante toda a
perfuração é condição básica
para um bom resultado. Os produtos que o compõe também
devem especificados para este fim. O reboco formado terá que
ser uma fina película (< 1 mm) capaz de selar as paredes
do furo, impermeabilizando-as e mantendo furos calibrados para garantir
a segurança da perfuração. Mas aí tem
uma particularidade – ele tem que ser fácil de remover
na etapa de desenvolvimento para não bloquear a entrada da
água no poço. Se o reboco for grosso como uma parede
de alvenaria, teremos então um grande problema. A coluna de
perfuração pode prender ou ocorrer prisão diferencial.
E terminado o poço, o desenvolvimento será longo e penoso.
Observe na Figura 1 uma amostra de reboco de um poço, já
desativado, perfurado no minério de ferro somente com fluido
de bentonita. É possível observar o pré-filtro
(1) aderido ao reboco de espessura ~ 10 mm. A faixa mais escura é
a área de influência dos finos de hematita sã,
moída pela perfuração, e misturada a bentonita
formando o espesso reboco (2) na parede do furo (3). A permeabilidade
foi profundamente comprometida pela constituição durante
a perfuração de um reboco grosso e que não pôde
ser removido.
Diante de tudo isto, um reboco de verdade deveria ser comparado com
a pintura da parede e não com sua estrutura. E ironicamente
teria de ser usada uma tinta boa de recobrir, mas de pouca durabilidade,
daquelas que saem num simples passar de pano úmido. Reboco
bom é fácil de remover na limpeza do poço.
ASPECTOS DO REBOCO
Reboco pode ser definido como a deposição dos sólidos
presentes no fluido de perfuração nas paredes porosas
do poço à medida que sua fase contínua (água)
penetra neste meio. Este processo é conhecido como filtração.
Quanto mais sólido estiver em suspensão e mais água
passar (filtrado), maior a deposição e conseqüentemente
mais grosso o reboco. Polímeros formadores de película,
como os CMCs, aliados ou não a bentonitas sódicas, impermeabilizam
rapidamente as paredes do poço, deixando passar pouca água
e constituindo um reboco fino, semelhante aos conseguidos nos ensaios
API das Figuras 2 e 3. Isso é o que nos interessa – o diâmetro
do furo não se altera e não temos perdas expressivas de
fluido pelo processo de filtração.
O Reboco e o Desmoronamento de Furos
Voltando a analogia anterior, será que é o reboco da parede
que segura muros, casas e prédios? Ou são as fundações
e estruturas construídas segundo técnicas da engenharia
civil?
Neste caso quem estabiliza o poço durante a perfuração
é a densidade do fluido. A relação correta é
Pm > Pf, onde Pm é a pressão que o fluido exerce sobre
a parede do furo e Pf a pressão da formação que
se contrapõe. Poços surgentes apresentam este perigo,
pois quando a perfuração atinge o aqüífero
pressurizado o peso do fluido pode ser insuficiente (Pm < Pf) para
evitar a entrada da água subterrânea para o interior do
poço. Aí então, a tal parede com reboco e tudo
vem abaixo. A solução seria aumentar previamente a densidade
do fluido, “matando” o jorro e estabilizando o furo. O reboco,
como na construção civil, contribui indiretamente, mas
não suporta nenhuma estrutura.
Engenharia de Fluidos
A engenharia de fluidos de perfuração vê o reboco
como aquele capaz de controlar a filtração, impedir a
absorção da água do fluido pelas argilas expansivas
das formações, impedir a colagem da ferramenta na prisão
diferencial. E para isto ele tem que ser construído e controlado
através de produtos e metodologias adequados: água, um
pouquinho de soda cáustica, polímeros para perfuração,
medidas periódicas de viscosidade, peso específico e pH
e correções nas horas certas.
Em Ribeirão Preto, no mês de outubro, poderemos discutir
detalhadamente esse assunto e, quem sabe, chegar a conclusão
que reboco está longe de ser parede.
Figura 1 - Amostra de reboco
Figura 2 - Reboco de fluído de polímero
Figura 3 - Com espessura de 0.8 mm
Geól. Eugênio Pereira
Diretor Técnico
System Mud Indústria e Comércio Ltda.
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