A Dominialidade
das Águas Subterrâneas no Brasil (II)
Estima-se em 10.000 o número de poços
em operação, atualmente, na Região Metropolitana
de São Paulo - RMSP. Estima-se, por que estas obras são
consideradas privadas na sua maior parte, como tal, não são
sequer controladas pelos poderes públicos federal, estadual ou
municipal. Por sua vez, estudos (Parisot, 1986 na sua dissertação
de Mestrado e Pacheco, 1994, na sua tese de doutorado) mostram que grande
parte destes poços são usados por hotéis de luxo,
condomínios privados, hospitais e indústrias. Considerando
que 95% das indústrias da RMSP têm poços e que nelas
há uma cultura da planilha de custos, ou seja, quando um gerente
de produção ou o síndico de um condomínio
privado, tem que propor um poço demonstra, necessariamente, a
sua viabilidade econômica ou os lucros que serão auferidos.
Desta forma, espera-se que os usos das águas subterrâneas
sejam, sempre, os mais racionais possíveis nos hotéis
de luxo, condomínios privados e indústrias, por exemplo,
nas cidades brasileiras.
O mesmo não ocorre com as águas de superfície -
rios, lagos e barragens ou açudes - cujos projetos de captação
ou tratamento são tocados com dinheiro público ou obtido
de agentes financeiros – nacionais ou internacionais – com
taxas privilegiadas de juros.
Seja como for, o Plano Diretor de Abastecimento de Água da RMSP,
março 2004, mostra que, entre out/02 e set/03 - o seu sistema
produtor captava, tratava e injetava na rede de distribuição
de água cerca de 65,2 m3/s ou mais de 300 litros/ habitante/dia
eram fornecidos aos 18 milhões de usuários na RMSP.
Como pode a SABESP fornecer tanta água a uma rede de distribuição
cuja capacidade de projeto é de apenas 250 litros/habitante/dia?
Haveria desperdícios nos usos e vazamentos embutidos, que possam
justiçar um tal procedimento. Por sua vez, estudos isotópicos
indicam que até 70% da água produzida pelos poços
poderão ter uma origem sanitária. Isto serve apenas para
indicar o quanto urgente é a inserção das águas
subterrâneas e das técnicas de reúso das águas,
nos planos estaduais de abastecimento.
A dominialidade das águas subterrâneas no Brasil precisa
considerar estas suas novas funções, como o manancial
melhor protegido dos agentes de poluição que atingem facilmente
os mananciais de superfície (rio, lagos e barragens ou açudes)
e mais barato para abastecimento humano, principalmente.
Vale salientar que o Brasil é o país com o maior número
de sedes municipais ou cidades das Nações Unidas. Os dados
do censo de 2000 indicam a existência de 5.507 sedes municipais
ou cidades.
Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências, Pesquisador Inst.
Estudos Avançados-Universidade de São Paulo, Consultor
Secretaria Nacional de Recursos Hídricos
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