Reúso de água IV
Inicialmente, quero agradecer a cada um dos que fazem a Associação
Brasileira de Águas Subterrâneas, o honroso título
que me foi outorgado de SÓCIO HONORÁRIO DA ABAS, Ribeirão
Preto, 06 de Outubro de 2005. Em segundo lugar, quero agradecer a
leitura, críticas e sugestões à coluna do Aldo
no ABAS informa, durante este ano de 2005. Logo após a II Guerra
Mundial a ONU foi fundada, com o objetivo principal de garantir desenvolvimento
para toda a humanidade. O problema da escassez, local e ocasional,
de água potável, tão necessária e fundamental
ao desenvolvimento da vida na Terra e das atividades Sócioambientais,
preocupou a ONU, desde o seu início. Desta forma, a 1a Conferência
Mundial sobre água potável foi promovida em Washington
DC, pela UNESCO,em 1965 O evento foi realizado com o objetivo de mostrar
que algumas Nações Desenvolvidas já transformavam
água do mar em potável. Entretanto, muitas das nações
presentes ao evento não sabiam, sequer, se tinham ou teriam
problemas de água potável nos respectivos territórios.
Foi, então, criado o Decênio Hidrológico Internacional
que, sob a coordenação da UNESCO e realização
das Comissões Nacionais designadas pelas diferentes Nações
filiadas a ONU. Estas comissões realizaram o monitoramento
necessário para identificar tais problemas e os resultados
alcançados foram tão promissores, que o Decênio
foi transformado em Programa Permanente da ONU o (PHI). Assim, UNESCO/PHI
1998, 2003, mostram que o manancial subterrâneo é o segundo
mais abundantes de água doce da Terra. Por sua vez, o homem
tendo subido ao espaço pela 1a vez na década de 1960,
verificou-se‘um grande desenvolvimento das ciências geológicas
no Mundo, muito superior ao realizado nos 200 anos anteriores. Como
corolário, já não existe água subterrânea
profunda ou confinada inacessível.
Por sua vez, o conceito de desenvolvimento sustentável foi
proposto em 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento da ONU e aprovado pela sua Assembléia Geral.
”Tratava-se de propor estratégias ambientais de longo
prazo e recomendar maneiras para que a preocupação com
o ambiente se traduzisse em maior cooperação entre nações
em desenvolvimento (pobres) e os paises desenvolvidos (ricos) do mundo”.
Na prática, o que se estabeleceu foi uma grande competição
entre nações Ricas e Pobres, sob o argumento do mercado
global. Além disso, a água subterrânea sempre
flui escondida pelo subsolo, sua captação não
é fotogênica e está, relativamente, melhor protegida
dos agentes de poluição que afetam a qualidade dos rios
e de outros mananciais mais tradicionais, ditos de superfície,
Por isso, a água subterrânea,nos paises relativamente,
mais desenvolvidos ou ricos do Mundo é a alternativa mais barato
para abastecimento humano, principalmente.
No Brasil, tendo em vista que sobre mais de 90% do território
chove mais de 1000 mm/ano e os rios nunca secam nestes domínios,
criou-se a idéia de abundância de água. Como corolário,
até a Constituição de 1988, as águas subterrâneas
eram do domínio privado e como tal, livremente extraída
para abastecer indústrias, hotéis de luxo, perímetros
irrigados, condomínios importantes e águas comercializadas
engarrafadas, também ditas de minerais. Em 1972, a ONU realizou
a 1a Conferencia Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento Humano -
Estocolmo72, tendo em vista que o Ambiente Natural da Terra dava sinais
que não suportaria o progresso da humanidade. Na época,
o Brasil tinha um regime político centralizador e forte. Como
corolário, a sua legislação ambiental é
centralizadora e forte.
Por sua vez, na Rio-92, o Regime Político do Brasil já
era democrático, haja vista a Constituição de
88 ser chamada de cidadã. Além disso, o Comitê
de Bacia Hidrográfica (Lei Federal 9,433/97) embora formado
por representantes dos Governos (federal e estaduais), Empresas e
sociedade civil, parece ainda não estar preparado, tendo em
vista, sobretudo, a perda de poder político tradicional. Neste
quadro, as águas subterrâneas, naturalmente recarregadas
ou artificialmente reconstituídas pelo reúso da água
nas cidades, industrias e atividades agrícolas, principalmente,
não são, sequer, cogitados nas legislações
vigentes. Enquanto isso, nos países desenvolvidos no mundo
mostra-se redução de custos de até 70% nos métodos
tradicionais de tratamento de esgotos doméstico. A Fábrica
de Água do Século XXI de Orange County, Los Angeles,
CA-USA, onde a chuva média anual é de apenas 1/3, daquela
que ocorre no Brasil em geral, tem logrado a performance ao Estado
da Califórnia de fornecer 44% da fruta consumida no país.
Neste caso, injeta a água do esgoto tratado no subsolo da região,
para controle da interface marinha. Enquanto isso, nas cidades litorâneas
do Brasil tal como Recife onde chove mais de 2.000 mm/ano, espera-se
pela transposição das águas do Rio São
Francisco para resolver, de forma definitiva, os problemas do abastecimento
do Bairro de Boa Viagem, por exemplo. O mesmo pode-se dizer de Fortaleza,
Belo Horizonte, Salvador e tantas outras cidades do Brasil.
A crise da água interessa aos ricos com dinheiro para investir,
sobretudo quando o problema é de escassez de água, local
e ocasional. Por sua vez, conforme o diagnóstico da ONU, a
crise da água é engendrada pela baixa eficiência
de oferta pelas empresas de água (no Brasil 30 - 70% são
os índices de perdas totais), grandes desperdícios nos
diferentes usos (93% da área irrigada – perto de 3 milhões
de hectares - usa métodos menos eficientes no mundo ou com
espaçamento das culturas do tempo dos escravos) e a degradação
da sua qualidade que atinge níveis nunca imaginados.(64%) das
Empresas de Água no Brasil são estatais que não
coletam, sequer, os esgotos domésticos nas cidades que abastecem.
Assim, a esperança que nos resta é que o Ministério
Publico comece enquadrar o poço mal construído nas cidades,
principalmente, como crime ambiental.Aldo da C. Rebouças
Prof.Titular Colaborador Inst.de Geociências, Pesquisador Inst.
Estudos Avançados-Universidade de São Paulo, Consultor
Secretaria Nacional de Recursos Hídricos