Mercado Atual e Futuro de Águas Subterrâneas
urante o XIII Encontro de Perfuradores de Poços e II Simpósio
de Hidrogeologia do Sudeste, o empresário e sócio-fundador
da Jundsondas Luciano Leo, o geólogo Luciano Júnior
e o engenheiro Sérgio Rogério Furlaneto traçaram
o panorama econômico das águas subterrâneas no
Brasil. Diante da atual situação do mercado de perfuração
de poços, o trabalho apresenta de uma maneira sucinta e do
ponto de vista do perfurador, os fatores determinantes que juntos
justificariam as mudanças observadas desde a década
passada até hoje com relação à qualidade
na prestação dos serviços, valores agregados,
preços finais ofertados, lei de oferta e procura e o reflexo
dessas mudanças junto ao mercado e o Estado – DAEE.
Dentre os reflexos provocados por essas mudanças está
claro que o serviço ofertado pelo mercado foi totalmente desvalorizado,
alcançando toda cadeia envolvida de fornecedores, consultores
e empresas parceiras, e que hoje certamente não visualizam
em nosso mercado a consistência observada antigamente. Por isso,
mesmo passando por condições declaradamente desfavoráveis
de nossa economia e política, o mercado somente poderá
reviver as “boas épocas” com empenho direto na
melhoria de nosso serviços, que possibilitarão o reposicionamento
lento da qualidade oferecida e percebida pelo cliente.
Situação Atual do MercadoAtualmente observa-se um declínio
acentuado no mercado de perfurações, tendo como principais
causas:
¨As restrições e burocracias para as perfurações,
cada vez mais eminentes dentro dos grandes centros urbanos;
¨A diminuição na qualidade da mão-de-obra
e materiais aplicados;
¨A concorrência entre os fornecedores públicos de
água, cada vez mais acirrada;
¨As novas tecnologias de reuso da água, gerando novas aplicações
e consideráveis diminuições de consumo.
Acredita-se que para grande parte das empresas, atual ou futuramente,
e em decorrência da baixa lucratividade praticada, todo o conjunto
de equipamentos e veículos passarão a ser sucatas degradando
e nebulando ainda mais a imagem desse mercado.
Por conseqüência desses fatores, a taxa de mortalidade
e natalidade das empresas é cada vez maior. Muitas encerram
suas atividades em decorrência da desvalorização
de seus produtos e serviços, atuando abaixo do custo, sufocando
seu próprio fluxo de caixa. Essa tendência de diminuir
os preços para manter sua pequena fatia do mercado, é
um caminho cego e sem voltas.
Na natalidade, a falta de conhecimento e visão do mercado de
perfuração, faz com que as empresas recém abertas,
formuladas daquelas que encerraram suas atividades, tragam os vícios
anteriores, gerando ainda mais dificuldade para permanecer no mercado.
Neste ciclo o mais prejudicado é o cliente, que muitas vezes
não contará mais com os serviços e garantia da
contratada, e os fornecedores, receosos em creditar neste mercado,
diminuirão ainda mais o foco em nosso segmento.
Oferta e ProcuraCom o aumento no número de empresas atuantes
no mercado de perfuração de poços, a procura
passou a cadenciar os preços praticados, fazendo com que a
diminuição nos valores ofertados pudessem ser praticados
somente com a desagregação no valor dos serviços
e materiais aplicados, que conseqüentemente proporciona a queda
na qualidade envolvida, deixando assim, cada vez mais insatisfeito
o cliente já conhecedor do mercado, e enganando o cliente de
primeira viagem.
Conhecendo-se as regras de mercado de “oferta e procura”,
na atual situação com o excesso de ofertas de serviços,
há naturalmente um declínio no valor ofertado, que acrescentado
ao desconhecimento dos custos dentro da empresa e o impulso em conquistar
as vendas, muitas vezes a cego, induz involuntariamente a empresa
ao declínio de seu fluxo de caixa.Concorrência
Se as empresas do mercado trabalhassem no mesmo patamar de capacitação
técnica, com boa qualidade dos serviços e materiais
aplicados, certamente a concorrência seria saudável,
fazendo-se destacar as empresas com melhor potencial. Mas, acreditar
em concorrência leal atualmente é como sonhar acordado.
Na realidade, de um lado do mercado atuam as empresas idôneas,
devidamente registradas, oferecendo qualidade na mão-de-obra
e materiais empregados, com valor condicionado pelo custo funcional
da empresa. No outro lado, tentam sobreviver outras empresas, as vezes
informais e sem capacitação técnica, com péssima
qualidade dos serviços e materiais empregados, surpreendendo
o mercado e os próprios concorrentes com preços impraticáveis
para sustento de uma empresa.
Esse tipo de concorrência é prejudicial ao mercado e
as empresas perfuradoras perdem com a queda na lucratividade e crédito
com os clientes, os fornecedores perdem com o aumento de inadimplências
e os clientes são vítimas do desconhecimento por não
saberem ao certo o que estão adquirindo.Licença de Perfuração.
Em pesquisa realizada no final de 2002, tendo como base os números
de vendas de equipamentos de bombeamento submerso fornecidos pelas
principais empresas atuantes no mercado, e os números de Licença
de Perfuração deferidas pelo DAEE, foi possível
obter uma proporção real de poços perfurados
neste ano e conseqüentemente a quantidade de poços perfurados
de maneira legal.
Nesta pesquisa, a quantidade de poços perfurados clandestinamente
era de 85% a 90%, dentre os 15.000 perfurados no ano, valor esse que
comparado com as estimativas atuais não sofreu uma grande variação,
sobretudo no que se diz respeito a quantidade de licenças deferidas
pelo estado, essa que vem diminuindo nos últimos 4 anos.
Com base na pesquisa anterior, foram levantadas novas informações
pertinentes aos anos de 2003, 2004 e 2005, o que é possível
observar, conforme gráfico abaixo, uma queda significativa
no número proporcional de Licenças de Perfuração
publicadas em relação à quantidade de perfurações
estimadas. Imaginamos que o reflexo no número de Licenças
esteja diretamente relacionado a qualidade nos serviços oferecidos,
pois normalmente as empresas não cotam em suas propostas o
requerimento de licença.
Porém, dentro das informações acima, que apresentam
uma diminuição no deferimento das licenças de
perfuração, foi observado pelo DAEE um acréscimo
na quantidade de requerimentos encaminhados por pessoas jurídicas,
o que demonstra preocupação das empresas com respeito
às legislações e comprimentos das obrigações
impostas pelos auditores dos sistemas de qualidades (ISO’s).
Por outro lado, observamos a diminuição no requerimento
de usuários particulares que, por questões financeiras
ou por influência negativa do perfurador, optam em não
contratar as licenças de perfuração.
Onde Chegaremos?
Será que depois de perfurarmos tantos poços finalmente
vamos conhecer o fundo deles.
Engraçado? Não! Isso para nós é como se
voltássemos ao tempo em que os escavadores de “buracos”
eram o único meio de encontrarmos água. Podemos nos
comparar com escavadores de “poço caipira”? Até
quando “mini-poço” será confundido com poço
tubular profundo?
Falando sério, se hoje fosse feito um trabalho de custo para
implantação de uma empresa de perfuração,
temos certeza que seriamos aconselhados a não montar essa empresa,
pois o retorno de investimento não seria viável, ou
até pior, seu capital estaria em risco eminente.
Num futuro próximo, se as empresas perfuradoras não
se conscientizarem que em cada obra executada devemos ter lucro, com
certeza o mercado acentuará sua condição não
muito agradável de se trabalhar, encaminhando-nos para um buraco
negro, sem perspectivas, onde todos brigaríamos por uma pequena
fatia do bolo.
Engenheiro Sérgio Rogério Furlaneto, Luciano Léo
e geólogo Luciano Júniortabela
Número de Licenças deferidas pelo DAEE
previsão de 2005 foi projetada sobre média mensal das
licenças deferidas até julho