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Carlos Eduardo
Quaglia Giampá,
géologo, conselheiro fundador e vitalício da ABAS, diretor da DH Perfuração


NACIONAIS

Situação da Água no Brasil é privilegiada

A situação do Brasil é privilegiada e ao mesmo tempo preocupante, na opinião do diretor de Coordenação de Itaipu, Nelton Friedrich. Segundo ele, embora o país não tenha uma adequada distribuição dos recursos hídricos, bem mais concentrados na região norte, é responsável por 8% da água doce da superfície do planeta e 13,5% de todo o potencial hídrico do mundo. Ele revelou que relatórios da Agência Nacional de Água mostram que 70% dos cursos de água do Rio Grande do Sul à Bahia, apresentam altos índices de poluição, em alguns casos totalmente fora de controle. “Isso demonstra que enquanto o mundo se defronta com a crise de falta de água, nós temos abundância na superfície, no subterrâneo e águas mais profundas que são as dos aqüíferos, só que não estamos cuidando bem”.

Friedrich afirmou que não basta somente tratar a água, é necessário também torná-la acessível a todos. Ele lembrou que 45 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável muitas cidades não têm tratamento de esgoto - a primeira causa de contaminação das águas. A água, lembrou Friedrich, é bem um comum, garantido na Constituição e há necessidade de se construir uma política que inclua o cuidado com o desperdício de água. O diretor de Itaipu disse que no Brasil se perde muita água entre a estação de captação e a torneira do consumidor final. De acordo com ele, em algumas regiões as perdas chegam a 60% de água já tratada, pronta para o consumo.

Brasil avança, mas ainda tem muitos problema ligados à Água

Dono da maior concentração de água doce do mundo, o Brasil apresentou resultados positivos no Quarto Fórum Mundial de Água, realizado entre 16 e 22 de março, no México. O país avançou desde a última edição do evento, em 2003, no Japão, especialmente no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos. No entanto, as conquistas recentes podem ser ofuscadas pelo gigantismo de nossos problemas. Ainda é longo e barrento o trajeto no sentido de evitar o desperdício, aumentar o acesso à água limpa e reduzir sua poluição.

Especialistas no Brasil dizem ser um erro acreditar que a questão da água representa um problema apenas de outros países. Apesar de ter 13,5% das reservas mundiais de água doce, a maior parte dos recursos está no Norte, região com a menor concentração populacional do país. No Nordeste, há escassez e pobreza. No Centro-Oeste, há um enorme desperdício com a agricultura (a irrigação consome 69% da água gasta no país e mais da metade disso é simplesmente perdida com práticas ineficientes). Por fim, no Sul e no Sudeste a poluição é tamanha que em alguns dias as companhias simplesmente desistem de tratar água tão suja e a jogam fora. “É preciso ir cada vez mais longe para buscar água limpa e isso custa muito caro, assim como recuperar a qualidade dela”, diz o diretor da ANA - Agência Nacional da Águas, Benedito Braga. “O maior vilão da poluição hoje não é a indústria, são os municípios, que não tratam os esgotos”, acrescenta.

Segundo o IBGE, 80% dos esgotos são lançados direto nas águas sem nenhum tipo de tratamento. Para se ter uma idéia da gravidade da questão, ao longo de apenas quatro anos a Companhia de Sabesp - Saneamento Básico do Estado de São Paulo teve que elevar em 40% o volume de produtos químicos usados no tratamento da água, contra uma alta de 8% na produção.

Só recentemente o problema da água começou a receber a devida atenção no Brasil. Faz seis anos que o governo instalou uma agência para se dedicar exclusivamente à questão. De lá para cá, o país passou a ostentar um programa que é usado como referência pelo Banco Mundial, o ProÁgua, voltada para a ampliação da oferta de água no semi-árido brasileiro. Outro grande avanço está na gestão dos recursos hídricos de forma integrada, o que pretende terminar com o senso comum de que a água pode ser usada de graça, na quantidade e na forma que se quiser, e depois devolvida poluída sem nenhum controle. O entendimento de que a utilização dos rios deve respeitar as necessidades das bacias às quais pertencem ganhou o respaldado de órgãos administrativos dos governos estaduais e federal, que em alguns casos passaram a cuidar juntos da gestão da água.

Para fazer esse trabalho, foram criados os comitês de bacia. São cerca de cem nas mãos dos estados e cinco sob administração da ANA, sendo que em dois deles há um ponto novo fundamental: a cobrança pelo uso da água bruta. Empresas como a Sabesp, que usavam a água de graça, agora pagam R$ 0,02 por metro cúbico, o que, no caso dela, significará uma conta de cerca de R$ 6 milhões ao ano. Outra conquista diz respeito ao Prodes - Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas, cujo grande mérito é estimular a despoluição por meio do pagamento pelo esgoto tratado, e não do financiamento de obras e projetos que terão, depois de prontos, poucos estímulos para serem eficientes. Foram investidos R$ 259 milhões e cinco milhões de pessoas foram beneficiadas pelos resultados do Prodes, mas o projeto foi suspenso por falta de financiamento e não está sendo mais usado pelo Ministério das Cidades. “O Brasil avançou pouco nos últimos anos em termos de suprimento de água e saneamento. Não temos ainda um Marco Regulatório para o setor. O Congresso nunca aprovou nenhuma proposta”.

INTERNACIONAIS

Água vale mais que o petróleo

Depois de passar 13 anos como diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Michel Camdessus, 73 anos, decidiu mergulhar fundo no problema mundial da água. E como sempre acontece por onde navegam suas idéias, há tempestade por perto. Desde quando publicou um dos mais alentados documentos sobre os problemas hídricos, chamado de “Relatório Camdessus”, há dois anos, o economista francês tem sido alvo de críticas por sua proposta de privatização do sistema mundial de água. Hoje, cerca de 95% desses serviços dependem do setor público, mas, segundo ele, essa parcela poderia ser ampliada para 15% do mercado, atingindo 600 milhões de consumidores. Desde às vésperas do 4º Fórum Mundial da Água, ocorrido entre 16 a 22 de março, na Cidade do México, a polêmica em torno de seu nome começa a se intensificar. E como sempre ocorre em encontros que reúnem ONGs, autoridades de mais de cem países e instituições internacionais como FMI, ONU e Banco Mundial, o divisor de águas é ideológico: de um lado estão os defensores do direito universal à água e, de outro, aqueles que apostam na água como uma commodity. Camdessus, entretanto, sustenta a necessidade de uma ponte entre os dois lados. “Essa dicotomia é infeliz e irracional, porque as duas abordagens devem ser conciliadas se quisermos fornecer água a um baixo custo”, disse o ex-diretor-gerente.

Chamado de “demônio neoliberal” pelos movimentos sociais, críticos do arrocho fiscal e monetário que o FMI recomendou aos países emergentes na década de 90, Michel Camdessus tem adotado tom mais messiânico hoje em dia - pouco antes de João Paulo II morrer, foi seu conselheiro. Sua proposição é que financiamentos de infra-estrutura tenham o objetivo de reduzir o número de pessoas sem acesso à água no planeta em 50% até 2025. Não é pouca coisa: mais de 1 bilhão de pessoas não têm alcance à água potável e perto de 2,5 bilhões não dispõem de qualquer tipo de saneamento. Como resultado, 8 milhões de pessoas morrem por ano por causa de doenças relacionadas à água, das quais 50% são crianças. Trata-se da segunda principal causa de morte no mundo. Para reverter esse quadro, o ex-homem forte do FMI afirma que a infra-estrutura de barragens, canais e diques existente não é capaz de garantir o acesso à água e saneamento a todos. Ele sugere, portanto, que sejam construídas mais obras e que os recursos gastos para melhorar o sistema passe de US$ 80 bilhões para US$ 180 bilhões nos próximos 25 anos. Caso não sejam adotadas medidas nesse sentido, ele diz que em 30 anos a humanidade enfrentará o que chama de “estresse hídrico”.

Para ele, os governos não têm mais como garantir tais melhorais. Com o objetivo de facilitar o financiamento da água pelo setor privado, avalia que são necessárias garantias ao investidor. Isto é, instituições exteriores ao projeto que permitam a seus promotores enfrentarem um risco específico que ultrapassa sua superfície financeira atual, tornando possível o financiamento de um projeto ou diminuindo seu custo. Para enfrentar o risco vinculado às taxas de câmbio, propõe a criação de uma garantia coletiva que seria administrada pelos órgãos financiadores internacionais. Diante dos riscos de pressão política, aventa a criação de uma nova câmara reguladora internacional que impediria o questionamento de contratos já aprovados.

Também Conselheiro de Kofi Annan para questões relacionadas à água, Camdessus defende pontos correlatos no que se refere às pequenas comunidades. Para o evento no México, sugeriu prioridade às ações locais como solução dos problemas. De fato, o tema do encontro é “Ação Local para uma Mudança Global”. Também tem indicado um modelo de subsídio, bastante satisfatório aos olhos de algumas ONGs. Ele acredita que para integrar as populações de baixa renda, o faturamento dos primeiros metros cúbicos de água consumidos a um preço baixo, viabilizaria ao consumidor pobre sua utilização a um custo mínimo.

SUBTERRÂNEAS

Marina Silva defende política unificada para Aqüífero Guarani

Na abertura do encontro que reumiu autoridades de cinco países em Foz do Iguaçu, a ministra brasileira do Meio Ambiente chamou a atenção para a responsabilidade do Brasil, que tem 13,5% da água doce disponível no mundo, para a preservação do Aqüífero Guarani. Ela conclamou os governantes dos cinco países que compõem a Bacia do Prata (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia) a adotarem uma política unificada para tratar de questões que devem ganhar importância nos próximos anos, como a gestão do Aqüífero Guarani e o desenvolvimento sustentável integrado da bacia: “O Brasil tem uma responsabilidade muito grande, pois abriga 13,5% da água doce disponível no mundo. O governo brasileiro se junta ao esforço de outros países para chegarmos a uma governança global dos recursos hídricos, materializada nas ações dos estados nacionais”, disse.

A ministra pediu mais ação concreta: “Precisamos transformar os tratados internacionais em políticas públicas, pois o principal obstáculo em nossos países é o baixo nível de implementação”, disse. No caso específico do Brasil, a ministra disse esperar que a adoção do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), que ela deseja ver aprovado ainda este ano, possa ajudar as esferas municipais, estaduais e federais de governo no esforço para a implementação de ações ambientalmente sustentáveis na gestão das bacias hidrográficas.

Estratégia conjunta - Organizado pelo Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC), pela empresa Itaipu Binacional e pela ONG internacional Green Cross, o Fórum Internacional Diálogos da Bacia do Prata reuniu em Foz do Iguaçu centenas de especialistas, autoridades públicas e empresários interessados na discussão sobre os recursos hídricos e a gestão sustentável dessa bacia, que é uma das maiores e mais populosas do mundo. O sistema fluvial do Rio da Prata se estende por 3,1 milhões de quilômetros quadrados, e a região abriga em seu subsolo os aqüíferos Bauru, Serra Geral e Guarani, este último o maior do planeta, com cerca de 1,2 milhões de quilômetros quadrados.

O principal objetivo dos cinco países participantes do Fórum, segundo seus organizadores, é “a adoção de uma estratégia conjunta de desenvolvimento sustentável espacial e integrado a uma agenda comum, visando à promoção da cooperação sobre os assuntos relacionados à água”.

Para o ministro do Meio Ambiente do Paraguai, Alfredo Molinas, os cinco países da Bacia do Prata devem lutar no Fórum do México para consolidar a visão de que qualquer nação deve gozar de soberania sobre seus próprios recursos hídricos: “É preciso consolidar o reconhecimento internacional aos direitos soberanos de um país sobre seus recursos hídricos. No nosso caso, além das questões ligadas à conservação e ao uso racional dos recursos da Bacia do Prata, devemos discutir também a questão dos direitos soberanos”.

Estado da Paraíba busca água e acha petróleo no sertão

Na busca por água no semi-árido nordestino, trabalhadores rurais do sertão paraibano descobriram em suas terras uma riqueza que não imaginavam existir. Cavando poços na terra seca, em vez de água encontraram petróleo, a poucos metros de profundidade. O primeiro poço, com 46 metros, surgiu há 24 anos, na zona rural de Sousa, a 430 km de João Pessoa. Nos anos seguintes, pelo menos outros três, perfurados em áreas vizinhas, também apresentaram indícios do óleo. Até agora, entretanto, as possíveis jazidas permanecem inexploradas.

O petróleo, retirado em latinhas penduradas por cordas ou arames, só tem servido para causar espanto aos vizinhos e curiosos que visitam os lavradores. O agricultor Crisogônio Estrela de Oliveira, 43, é o mais procurado. No seu sítio, onde vive com a mulher e três filhos, Oliveira mantém o poço mais antigo e também o mais ‘produtivo‘ da vizinhança. O cano estreito de onde ele extrai o produto fica tapado por um pedaço de pano velho e escondido sob uma pedra, perto da pocilga.

Do buraco, sempre cercado de galinhas e bois, Oliveira mergulha a latinha e retira um líquido grosso, escuro e viscoso, com cheiro que lembra uma mistura improvável de tinta com gás. É o petróleo, ‘de boa qualidade‘, segundo o diretor-presidente da CDRM (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais) da Paraíba, José Aderaldo de Medeiros Ferreira, 67.

De acordo com ele, há indícios de que o óleo possa estar presente não apenas no sítio de Oliveira e de seus vizinhos, mas também em uma extensa área de 1.400 km2, conhecida como bacia sedimentar do Rio do Peixe. Essa área, disse Ferreira, seria uma extensão da bacia do Apodi, região produtora de petróleo com 15 mil km2, localizada no Estado vizinho do Rio Grande do Norte.

Com base nessa suposição, o diretor da CDRM acredita que as possíveis jazidas paraibanas possam produzir até 20 mil barris por dia. Evidentemente, não seria uma produção de impacto nacional, mas, para a região, representaria a estabilização. De acordo com ele, os seis municípios localizados na bacia do Rio do Peixe e os agricultores receberiam royalties pela exploração do petróleo em suas terras. Até agora, porém, ninguém sabe nem sequer onde estariam as jazidas. O único estudo realizado na área, disse Ferreira, foi feito pela ANP (Agência Nacional de Petróleo), a pedido do governo estadual. O objetivo era detectar sinais de gás e óleo no solo.
Na pesquisa, afirmou, a poten
cial região produtora foi mapeada e dividida. De locais determinados, foram retiradas 1.800 amostras de terra a uma profundidade média de 70 cm. As amostras foram enviadas para análise no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos, que confirmaram os indícios. O otimismo de Ferreira, contudo, ainda não contagiou os lavradores. Em Sousa, os agricultores continuam mais preocupados em plantar e conseguir água potável do que em sonhar com dinheiro fácil e rápido em suas mãos.

VOCÊ SABIA?
Que o consumo anual de água no Estado de São Paulo é de:
URBANO = 3,2 Bilhões de m3; INDUSTRIAL = 3,6 Bilhões de m3 e Agrícola é de 14,4 Bilhões de m3??
Fonte: Plano Estadual de Recursos Hídricos

UTILIDADE PÚBLICA

Clima pode levar a guerras por acesso à água

Mudanças climáticas no planeta podem provocar conflitos ligados ao acesso a fontes de água entre países, diz o jornal britânico The Independent. “O Ministro da Defesa da Grã-Bretanha, John Reid, fez uma previsão sombria de que a violência e conflito político se tornarão mais prováveis nos próximos 20 ou 30 anos”, na medida em que aumentar a desertificação, o derretimento das calotas polares e o envenenamento de fontes de água. Ativistas pela ecologia exigiram que o governo britânico redobre seus esforços para reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa, diz o jornal, que reproduz dados atribuídos à Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o suprimento de água.”Em 2003, um relatório da ONU previu que até o meio do século, na pior das hipóteses, 7 bilhões de pessoas em 60 países poderão ter que enfrentar escassez de água, embora, se as políticas certas forem seguidas, isso pode ser reduzido a meros 2 bilhões em 48 nações.

Um litro de óleo contamina cerca de 1 milhão de litros de água
Mesmo que não façamos muitas frituras, quando o fazemos, jogamos o óleo na pia ou por outro ralo, certo? Este é um dos maiores erros que podemos cometer. Por que fazemos isto, perguntam vocês. Porque infelizmente ninguém nos diz como fazer, ou não nos informamos. Sendo assim, o melhor que tem a fazer é colocar os óleos utilizados numa daquelas garrafas de plástico (por exemplo, as garrafas pet de refrigerantes), fechá-las e colocá-las no lixo normal (ou seja, o orgânico).

Um litro de óleo contamina cerca de 1 milhão de litros de água o equivalente ao consumo de uma pessoa no período de 14 anos. De nada adianta criticar os responsáveis pela poluição da Baía Guanabara (RJ), rio Paraíba (PB), Bacia do Tietê (SP) etc, se não fizermos a nossa parte.

Lançamento do livro “Água, a próxima guerra”
Nosso colega Celso Luis Quaglia Giampá lançou, no último dia 24 de março o livro “Água, a Próxima Guerra”, em evento na Associação Comercial e Industrial de Lorena. Mais informações sobre o livro pelo telefone (12) 3152-9010. giampa@dglnet.com.br

 
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